Publicado em 4 de julho de 2025 às 11:02
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta sexta-feira (04), que, entre os "riscos do Brasil", o "risco fiscal talvez seja o menos importante, porque se sabe como resolvê-lo". Na visão dele, o "maior risco" para o País seria um "risco global": o crime organizado.>
Durante o Fórum Jurídico de Lisboa, conhecido como "Gilmarpalooza", o governador pregou o combate à infiltração do crime em negócios lícitos - "o que afasta a competitividade". Também defendeu a "estruturação das Forças Armadas," para combater as relações entre o narcotráfico e questões de segurança global.>
Para Tarcísio, a fórmula para equacionar a questão fiscal no País é conhecida. "O Brasil passou por reformas muito relevantes nos últimos anos e, no final, a gente criou as condições ou as bases para ter uma economia relativamente arrumada. Obviamente, algumas coisas hoje não estão andando bem, mas é fácil arrumar, é fácil ajustar", ponderou.>
"As alavancas são bem conhecidas e aí a gente está falando de aumentar o fluxo de capital estrangeiro, a gente está falando de apreciar câmbio, a gente está falando de diminuir inflação, a gente está falando de reduzir taxa de juros e a gente está falando de ter mais recursos para investir e nos tornar menos vulneráveis para algumas questões aqui em relação à América do Sul, que nos deixam, que talvez realmente se constitua o maior risco", completou o governador.>
O maior risco, segundo Tarcísio, seria o crime organizado. Segundo o governador, o Brasil tem que "pensar em fazer o seu dever de casa para que possa voltar a investir em defesa". Ele ponderou que o País tem uma fronteira seca muito extensa, assim como uma extensa costa e não pode "ficar absolutamente desguarnecido".>
"Guarnecer as fronteiras significa ter condição de combater o crime organizado, a infiltração do crime organizado no território nacional, a infiltração desse crime nos negócios lícitos, o que afasta a competitividade, o que destrói os negócios daqueles que jogam a regra do jogo, e contar com Forças Armadas equipadas para fazer essa vigilância, contar com tecnologia de ponta, é fundamental para que a gente possa vencer essa guerra e mitigar esse risco que, para mim, é o maior risco que o país passa hoje", indicou.>
Na avaliação de Tarcísio, se o País não se atentar para o tema, haverá "dificuldade com alguns negócios em alguns segmentos". Além disso, o governador destacou as ligações entre o narcotráfico e questões de segurança global, como a "relação estreita que pode existir entre narcotráfico e terrorismo". "É por isso que as forças armadas precisam estar equipadas, estruturadas. Agora isso não vai acontecer se a gente não tiver as condições fiscais para isso. E aí tem um exercício, tem um dever de casa que é bem conhecido e que precisa ser feito", apontou.>
Brasil pode 'surfar onda' de incertezas>
Durante o evento, Tarcísio afirmou que, em meio a um cenário de instabilidade mundial, o Brasil pode se aproveitar de oportunidades nos campos da cooperação, militar e econômico. Segundo o governador, o País "tem que transformar fragilidade em oportunidade e aproveitar campos que se abrem" em temas como transição energética, segurança alimentar e economia do conhecimento.>
"Nesse ambiente de incerteza, o mundo vai precisar de parcerias, o mundo vai precisar de confiança no que diz respeito à segurança alimentar. E aí, em especial, o Brasil pode se aproveitar disso. Se o mundo precisa de um parceiro confiável em termos de segurança alimentar, estamos nós aqui. O mundo vai que precisar de parceiros confiáveis no campo da segurança energética. E se o mundo precisa de parceiros confiáveis na segurança energética, estamos nós aqui de novo", disse.>
O governador fez a primeira colocação sobre as oportunidades após indicar que, em meio às instabilidades, a estratégia das nações tem que mudar rapidamente, citando especificamente o fato de a União Europeia "não poder mais contar com o gás russo".>
"Observe o redesenho que vai ter que haver na Europa agora com relação ao gás russo no sentido de diversificar a produção de energia. E nesse sentido a gente fica pensando onde a gente pode cooperar em um cenário onde a própria ação militar é completamente diversa, completamente diferente daquilo que a gente imaginou", refletiu.>
O mandatário então citou o efeito da tecnologia e o "campo enorme" para cooperação entre países europeus e sul-americanos sobre o tema. "A gente tem que aproveitar esse estressamento, aproveitar essa fragilidade, essa incerteza para transformar isso em oportunidade, para nos fortalecer e aproveitar de fato um campo que está se abrindo para nós, no que diz respeito à transição energética, no que diz respeito à segurança alimentar, no que diz respeito à economia do conhecimento, para que a gente possa de fato surfar um pouco essa onda e aproveitar essas oportunidades. As janelas que estão se abrindo, precisamos nos fortalecer mutuamente, nos preparar para essa nova ordem global", destacou.>
Perda de expressão de órgãos multilaterais 'preocupa muito', diz Tarcísio>
Tarcísio fez as declarações ponderando que o mundo vive um cenário de "unimultipolaridade" - de um lado há uma hegemonia americana no campo militar, mas, nas outras expressões do poder "há uma multipolaridade com algumas outras potências emergindo, sobretudo no campo econômico, no campo cultural e no campo diplomático".>
O governador afirmou que, nesse cenário, preocupa muito a perda de expressão de órgãos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). "A gente tem que se questionar como blocos militares passarão ou voltarão a ser relevantes com a própria Organização do Tratado do Atlântico Norte. E essa relevância virá da convergência, do alinhamento de discursos e do alinhamento de ações em segurança e política externa", apontou.>
Foco em transição energética>
Tarcísio afirmou que aproximação do País com determinados países, em especial China e Estados Unidos, precisa seguir a tradição da diplomacia brasileira e "se pautar pela neutralidade e olhar o interesse nacional". O mandatário afirmou que "não existe amizade entre países, mas interesse e que o Brasil tem que investir em suas vocações".>
"Estamos vivendo ou caminhando para uma situação de desglobalização, como alguns colocam, e isso abre uma série de janelas de oportunidades para nós. Se a gente souber canalizar energia para aquilo que são as nossas vocações - e eu destaco pelo menos três grandes vocações, da biotecnologia, da economia do conhecimento e da transição energética - a gente tem condição de se sair bem nessas relações com China e com os Estados Unidos, defendendo aquilo que é o interesse brasileiro, aquilo que é o interesse nacional", ponderou.>
Segundo Tarcísio, a "geopolítica mudou muito rapidamente e o que era pessimismo há muito pouco tempo atrás, virou otimismo". O governador explicou as mudanças para tratar das oportunidades que o País teria: "O mundo tomou um susto pós-pandemia com a questão da concentração dos mercados na China. Nós temos muitas empresas saindo hoje da China, procurando novos endereços. O mundo busca uma diversificação, o mundo topa pagar mais caro pela sustentabilidade. A experiência chinesa na África tem sido mal sucedida. E agora nós temos a guerra de tarifas".>
Com relação ao alinhamento com os países do Sul, Tarcísio ponderou que tais países detêm hoje a maior população mundial e que já representam quase 50% da economia global. "Se eu pensar em aspectos econômicos, em aspectos populacionais, a gente está falando de uma relevância maior do que a dos países do G7", indicou.>
De outro lado, Tarcísio ponderou que alguns de tais países "têm uma grande fragilidade, que é justamente a fragilidade democrática". "Isso talvez nos afaste dos maiores investidores e dos melhores mercados", ponderou.>
"É como se a gente tivesse um estoque de capital gigantesco para competir, e a gente estivesse restringindo as nossas possibilidades a uma parcela muito ínfima, muito pequena, deste capital. Então, quando a gente se alinha a países que têm essa ordem de fragilidade, essa ordem de governança, que se afastam de algumas práticas, daquelas que são as preconizadas pela OCDE, a gente vai ficando distante também de uma parcela relevante de investimento e isso é extremamente perigoso", indicou.>