Publicado em 12 de agosto de 2025 às 07:10
Conteúdo Estadão - Em 1º de agosto de 2025, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump assinou um decreto executivo que eleva para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros. A medida foi apresentada como resposta ao que Trump classificou como "caça às bruxas" contra seu aliado político, o ex-presidente Jair Bolsonaro, por parte do sistema judicial brasileiro.>
Em reação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que aquela data marcaria um "momento sagrado de soberania". Lula rejeitou as exigências para a suspensão do processo judicial contra Bolsonaro, ressaltando a independência do Poder Judiciário no Brasil. Apesar de criticar a ingerência americana, o presidente brasileiro destacou que o país está aberto a negociações, desde que realizadas entre iguais e sem pressões externas.>
Para responder às tarifas, o governo brasileiro acionou imediatamente a Lei de Reciprocidade, aprovada pelo Congresso em abril, que autoriza o Executivo a aplicar contramedidas tarifárias, investimentos e até restrições tecnológicas contra os Estados Unidos - uma resposta sem precedentes recentes nas relações bilaterais.>
Repercussões sociais e econômicas no Brasil>
A reação à medida americana foi intensa no Brasil. Nas redes sociais, diversos memes se espalharam como forma de protesto cultural contra a decisão dos EUA. Nas principais cidades, organizações dos setores de café, suco de laranja, carne bovina e aeronáutica - entre os mais afetados - organizaram manifestações públicas.>
Segundo estimativas oficiais, mais de 10 mil empresas brasileiras poderiam ser impactadas. No Estado de São Paulo, prevê-se uma queda de 2,7% do PIB estadual e a perda de até 120 mil empregos, especialmente na agroindústria. Para conter os efeitos, o governo tem adotado medidas similares às usadas durante a pandemia, como pacotes de auxílio ao setor rural, financiamento via BNDES e flexibilização fiscal direcionada a grupos vulneráveis, com o objetivo de preservar empregos, conforme reportado pelo jornal El País.>
Impactos políticos: o revés para Bolsonaro>
Embora a ação dos EUA tenha sido interpretada por alguns como uma tentativa de proteger Bolsonaro, analistas apontam que a manobra teve efeito contrário. Pesquisa da Genial/Quaest, realizada entre 10 e 14 de julho, mostra que 72% dos brasileiros desaprovam a imposição das tarifas em defesa do ex-presidente, enquanto apenas 19% apoiam.>
Além disso, o índice de aprovação de Lula subiu de 40% para 43% no mesmo período. Pesquisa Atlantium Bloomberg indica que, pela primeira vez desde outubro de 2024, a aprovação do presidente chegou a 50,2%, superando a desaprovação de 49,7%. Em um cenário hipotético de segundo turno, Lula teria 47,8% das intenções de voto contra 44,2% de Bolsonaro.>
Publicações como The Guardian e El País destacam que o episódio fortaleceu um sentimento nacionalista no Brasil, posicionando Lula como um defensor patriótico diante da pressão externa, o que enfraqueceu a narrativa da direita. Bolsonaro, ligado simbolicamente a Trump, viu sua imagem prejudicada diante do endurecimento tarifário.>
Nos EUA: projeto de sanções à Rússia aprofunda tensão>
Enquanto os embates comerciais entre Brasil e EUA ganhavam visibilidade, o Senado norte-americano, liderado pelos senadores Lindsey Graham e Richard Blumenthal, apresentou o "Sanctioning Russia Act of 2025". O projeto propõe sanções secundárias contra países que mantenham comércio com a Rússia, especialmente em relação à compra de petróleo russo a preços reduzidos.>
Brasil, China e Índia foram citados como apoiadores indiretos da "máquina de guerra de Putin". Embora essa iniciativa seja separada das tarifas impostas por Trump, sua eventual aprovação ampliaria a pressão sobre o comércio bilateral Brasil-EUA e adicionaria complexidade à política externa brasileira.>