Ararajubas voltam a colorir o céu de Belém em soltura especial na COP30

Quinze aves foram devolvidas à natureza no Parque do Utinga, em ação que marca a retomada da espécie na paisagem da capital paraense.

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 13:38

Ararajubas voltam a colorir o céu de Belém em soltura especial na COP30
Ararajubas voltam a colorir o céu de Belém em soltura especial na COP30 Crédito: Marco Santos / Ag. Pará

O Parque Estadual do Utinga amanheceu com um clima diferente nesta segunda-feira (17). No meio do verde, do canto das primeiras aves e da movimentação de pesquisadores e curiosos, um momento aguardado há anos saiu do papel: a soltura de 15 ararajubas em plena COP30, em Belém.

Mais do que abrir uma porta de viveiro, a cena marcou o reencontro da cidade com uma espécie que, por décadas, praticamente desapareceu da paisagem urbana.

A ação faz parte do Projeto de Reintrodução e Monitoramento de Ararajubas na Região Metropolitana de Belém, desenvolvido há oito anos pelo Ideflor-Bio em parceria com a Fundação Lymington. Desde o início do programa, 58 aves já foram devolvidas à natureza e outras sete nasceram aqui mesmo, em solo paraense, resultado de reprodução natural, um sinal importante de que a espécie começa, de fato, a se restabelecer no ecossistema local.

A soltura desta segunda é a primeira de um total de 30 ararajubas previstas para este ano, em homenagem à COP30, que transformou Belém no centro das discussões globais sobre clima e Amazônia.

As aves soltas hoje não chegaram ali por acaso. A maioria vem de um cativeiro controlado da Fundação Lymington, em Juquitiba (SP), onde passam por cuidados veterinários, alimentação específica e um preparo comportamental que as ajuda a desenvolver habilidades importantes para sobreviver em liberdade.

Quando chegam ao Pará, entram na fase mais delicada: a aclimatação no aviário do Parque do Utinga. Ali, passam de quatro a seis meses reaprendendo a voar longas distâncias, se socializar em bando e se alimentar como fariam na floresta. A dieta inclui frutos amazônicos como açaí, murici e uxi, para que reconheçam o que vão encontrar do lado de fora da tela.

O resultado desse esforço coletivo já pode ser sentido, e visto. Depois de muito tempo, bandos de ararajubas voltaram a cruzar o céu de Belém com o amarelo-ouro e o verde vibrante que chamam atenção de quem passa. Para moradores, é como recuperar uma memória afetiva da cidade; para quem trabalha com conservação, é prova de que projetos de longo prazo dão resultado.

Nos últimos anos, o Parque do Utinga também passou por melhorias para receber melhor tanto as aves quanto o público. Um novo termo de colaboração firmado em 2024 entre o Ideflor-Bio e a Fundação Lymington permitiu ampliar o aviário, criar espaços de educação ambiental e instalar equipamentos interativos. O espaço virou uma vitrine da ciência feita na Amazônia e ajudou a aproximar visitantes da história das ararajubas.

Mais do que um gesto simbólico em meio à COP30, a soltura desta segunda-feira mostra que a discussão sobre clima e biodiversidade não está só nas salas de negociação: ela também acontece no voo de cada ave que volta a ocupar o lugar que sempre foi seu. As ararajubas, que um dia sumiram do céu de Belém, agora retornam como lembrete vivo de que ainda há tempo e caminho para restaurar o que foi perdido.