Cientista paraense, Clara Pandolfo será tema de palestra na COP30

Clara foi pioneira no desenvolvimento sustentável da Amazônia

Publicado em 10 de novembro de 2025 às 08:41

Clara foi pioneira no desenvolvimento sustentável da Amazônia - 
Clara foi pioneira no desenvolvimento sustentável da Amazônia -  Crédito: Divulgação

A história da cientista Clara Pandolfo, pioneira nas discussões sobre o desenvolvimento sustentável da Amazônia e na luta pela emancipação feminina no Pará, será contada em ciclo de palestras a ser realizado durante a primeira semana da 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas, na Zona Verde (Green Zone), no Parque da Cidade, e em eventos paralelos, como o do Espaço da Central da COP, organizado pelo Observatório do Clima, no Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA), na Praça da República.

Os coordenadores do projeto “Clara Pandolfo: uma cientista da Amazônia”, Murilo Fiuza de Melo e Ticiana Oppel, estarão na cidade para falar sobre a trajetória da paraense e a sua contribuição à proteção do bioma por meio de ideias inovadoras, como o uso de satélite no monitoramento do desmatamento florestal, ainda nos anos 1970.

“Queremos que a história de Clara sirva também como fonte inspiradora para o estímulo da produção científica por mulheres que moram na Amazônia. Os últimos dados disponíveis mostram que a participação de mulheres na ciência brasileira cresceu 29% entre 2002 e 2022. No entanto, a presença feminina diminui ao longo da vida acadêmica”, afirma Ticiana, citando dados do relatório “Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil”, da Agência Bori em parceria com a editora Elsevier, publicado no ano passado. 

Lançado no início de setembro, em Belém, o projeto inclui a edição de um livro biográfico e um minidocumentário sobre a vida da cientista, que podem ser acessados gratuitamente no site www.clarapandolfo.online. Na ocasião, mil exemplares foram distribuídos para todas as escolas públicas de ensino médio do Pará, bibliotecas e instituições de pesquisa.

“Nossa intenção era resgatar a história dessa grande mulher, que faleceu em julho de 2009, mas que, apesar de sua importância para a ciência na Amazônia, ainda hoje permanece praticamente esquecida”, afirma Murilo, jornalista e autor da biografia.

Quem foi Clara

Clara Pandolfo nasceu em Belém, no dia 12 de junho de 1912, durante o declínio do período da borracha. Foi a primeira mulher a se formar em química na região Norte, aos 17 anos, em 1929, e uma das cinco primeiras do país. Na década de 1930, ao lado da irmã, Olímpia, participou ativamente na luta pelo voto feminino. As duas foram eleitas diretoras do Núcleo Paraense pelo Progresso Feminino, que representava no Pará a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada pela bióloga e feminista paulista Bertha Lutz. Em 1932, por causa da pressão das sufragistas, o Congresso Nacional aprovou o Código Eleitoral que reconheceu o direito das mulheres de eleger e de se candidatar a cargos políticos.

Nos anos 1970, a cientista se tornou voz ativa na defesa da utilização racional dos recursos naturais da Amazônia, em especial das florestas, ainda que suas ideias batessem de frente com a política colonizadora do “Integrar para não entregar”, baseada na ocupação da região pela agropecuária, incentivada com recursos públicos pelo regime militar. “A floresta não pode e não deve continuar a ser olhada como ocupante transitória do terreno, onde permanece apenas até o momento em que surge a necessidade de seu extermínio, para ceder lugar a outros usos do solo”, afirmou, em 1978.   

A paraense foi pioneira em unir os conceitos de Economia e Ecologia ao defender o manejo florestal sustentável como uma alternativa para a região, antes mesmo da própria palavra sustentável entrar no vocabulário do debate ambiental do país. Ao opor-se à visão dominante da época, Clara viu suas ideias caírem no esquecimento. Somente em 2006, com a publicação da Lei de Gestão de Florestas Públicas, durante a primeira gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, essas ideias foram, parcialmente, resgatadas.

Agenda

11/11 (terça-feira), 17h – Espaço Central da COP (Observatório do Clima), no Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA), Praça da República, s/n. 

12/11 (quarta-feira), 9h – Auditório Icuí, UFPA, Campus Ananindeua, Estrada do Icuí esquina com Avenida Independência, s/n, Ananindeua. 

13/11 (quinta-feira), 11h – Casa da Biodiversidade e Clima, na sede do Instituto Tecnológico Vale.  Rua Boaventura da Silva, 955, Nazaré.

14/11 (sexta-feira), 11h – Estande do Conselho Federal de Química, Green Zone, Parque da Cidade.

Todos os eventos são abertos ao público, apenas o da Casa de Biodiversidade (13/11) precisa de inscrição, que deve ser feita pelo site.