COP30 deve marcar 'rito de passagem' global para um futuro justo e sustentável

Em carta à comunidade internacional, André Corrêa do Lago convoca o mundo a transformar a conferência de Belém em um marco histórico de mudança de paradigma.

Publicado em 13 de agosto de 2025 às 18:40

COP30 deve marcar 'rito de passagem' global para um futuro justo e sustentável
COP30 deve marcar 'rito de passagem' global para um futuro justo e sustentável Crédito:  Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil/PR

O embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da 30ª Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP30), fez nesta terça-feira um apelo inédito à comunidade internacional: que a conferência de Belém, no Pará, seja encarada como um “ritual de passagem” rumo a um modelo de desenvolvimento mais justo, inclusivo e sustentável. A mensagem, apresentada em sua quinta carta oficial, reforça a ideia de que a humanidade não deve ser vista apenas como vítima da crise climática, mas como protagonista na busca por soluções.

“Podemos usar a COP30 para processar coletivamente o luto por um modelo de desenvolvimento que prometeu prosperidade no passado, mas que já não oferece esperança para o futuro”, afirmou Corrêa do Lago, destacando que a transição precisa ser celebrada com sobriedade e compromisso.

Inspirada nos princípios das Nações Unidas, a carta fala diretamente às pessoas, valorizando vivências, culturas e lideranças que já apontam caminhos para uma relação mais equilibrada com a natureza. O diplomata defende que populações historicamente marginalizadas, deslocadas ou silenciadas sejam reconhecidas como atores essenciais, e não apenas beneficiárias, das estratégias climáticas.

A presidência brasileira da COP30 pretende colocar as pessoas no centro dos quatro pilares da conferência: mobilização, negociação, cúpula de líderes e implementação. Desde a primeira carta, Corrêa do Lago já havia proposto um “mutirão global” contra a mudança do clima, e agora detalha mecanismos de governança compartilhada, como a atuação dos Enviados Especiais, da Campeã da Juventude e do Círculo dos Povos. Esses canais buscam garantir que a agenda oficial dialogue com as realidades locais.

Na arena de negociações, temas como a Meta Global de Adaptação, o Programa de Transição Justa, o novo Plano de Ação de Gênero e a Plataforma das Comunidades Locais e Povos Indígenas terão enfoque no impacto direto sobre a vida cotidiana. Já na Cúpula de Líderes, chefes de Estado serão desafiados a apresentar soluções práticas que conectem o regime climático internacional às demandas concretas de suas populações.

Os seis eixos da Agenda de Ação da COP30, que abrangem transição energética, preservação de ecossistemas, transformação dos sistemas alimentares, resiliência urbana, desenvolvimento humano e catalisadores como financiamento e tecnologia, também foram estruturados para priorizar a dignidade e a liderança das comunidades na implementação do Acordo de Paris.

Corrêa do Lago sustenta que cada Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), Plano Nacional de Adaptação (NAP) e Relatório de Transparência Bienal (BTR) deve refletir a participação ativa da sociedade. Isso inclui influenciar decisões sobre financiamento climático, comércio e transição energética.

“A ação climática é, antes de tudo, um ato humano”, afirmou o diplomata. “Mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação significam enfrentar desigualdades estruturais, erradicar a fome e a pobreza, promover o desenvolvimento sustentável e garantir direitos humanos e igualdade, inclusive racial e de gênero.”

A COP30 será realizada em novembro, em Belém, e já é vista como uma das conferências mais estratégicas da década, não apenas pela urgência climática, mas pela promessa de colocar as pessoas no centro da resposta global.