COP30: indígenas Munduruku realizam manifestação na entrada da Blue Zone

Grupo bloqueou acessos à área restrita da COP30 e mobilizou a Força Nacional para negociação.

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 07:46

COP30: indígenas Munduruku realizam manifestação na entrada da Blue Zone
COP30: indígenas Munduruku realizam manifestação na entrada da Blue Zone Crédito: Roma News

Indígenas Munduruku protestaram na entrada principal da Blue Zone da 30ª Conferência das Partes (COP30), na manhã desta sexta-feira (14). O movimento impediu tanto a entrada quanto a saída de pessoas do local. A Força Nacional precisou ser acionada para negociar com os manifestantes.

Indígenas Munduruku protestaram na entrada principal da Blue Zone da 30ª Conferência das Partes (COP30), na manhã desta quinta-feira (14). O movimento impediu tanto a entrada quanto a saída de pessoas do local. A Força Nacional precisou ser acionada para negociar com os manifestantes.

O ato foi articulado pelo Movimento Munduruku Ipereg Ayu, que divulgou uma nota à imprensa cobrando uma reunião urgente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o movimento, o governo federal estaria avançando com projetos de infraestrutura que ameaçam diretamente o território Munduruku e os povos da bacia do Tapajós e Xingu, sem consulta prévia, livre e informada, como determina a Convenção 169 da OIT.

Na manifestação, as lideranças criticaram megaprojetos, o avanço do agronegócio e também propostas de créditos de carbono e mecanismos de REDD+ discutidos na COP30. Para os Munduruku, essas iniciativas representam “venda da floresta”, retiram autonomia dos povos e não atacam as causas estruturais da crise climática, como o desmatamento industrial, o garimpo, as hidrovias e a expansão da soja.

“O governo e o mundo precisam entender que nossa floresta não está à venda. Nós não negociamos a mãe natureza”, afirmou uma das lideranças durante o ato.

O principal alvo do protesto é o Decreto nº 12.600/2025, que instituiu o Plano Nacional de Hidrovias e definiu os rios Tapajós, Madeira e o Tocantins como eixos prioritários para navegação de cargas. De acordo com o movimento, o decreto abre caminho para novas dragagens, derrocamento de pedrais sagrados e expansão acelerada de portos privados. “Esse decreto ameaça exterminar nosso modo de vida, porque transforma o rio em estrada de soja. Presidente Lula, o senhor precisa ouvir o nosso povo antes de decidir sobre nosso futuro”, diz a nota.

Estudos citados pelo Inesc mostram que o corredor Tapajós–Arco Norte é hoje um dos principais vetores de expansão do agronegócio sobre a Amazônia. Entre 2010 e 2022, 68% de todo o investimento federal em infraestrutura na região foi destinado a corredores de exportação. Em 2023, 47% da soja brasileira já era escoada pelos portos do Arco Norte, contra 16% em 2010.

Segundo os Munduruku, esse avanço tem impactos diretos no território: o volume de cargas nas hidrovias do Tapajós saltou de 4 mil toneladas em 2019 para 167 mil toneladas em 2022, um aumento superior a 4.000%. Comunidades denunciam que o crescimento de portos e barcaças reduz a pesca, contamina a água e dificulta a circulação ribeirinha. Dragagens recentes foram realizadas sem consulta e mobilizaram sedimentos que afetaram igarapés usados por aldeias.

“Tudo isso acontece sem o Estado nos ouvir. Querem destruir o fundo do rio, querem explodir nossos pedrais sagrados, querem lotar o Tapajós de barcaças para levar soja para fora do Brasil. Quem mora aqui somos nós, não as empresas”, disse uma liderança.

O movimento também exige o cancelamento definitivo da Ferrogrão (EF-170), planejada para ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA). Estudos do Ministério dos Transportes indicam que a ferrovia pode multiplicar por seis o volume de grãos transportados pelo Tapajós até 2049. Para os Munduruku, isso significaria mais portos próximos às aldeias, dragagens, risco aos pedrais sagrados, avanço da soja e aumento de conflitos fundiários.

“O governo fala em compromisso climático, mas investe em projetos que destroem rios e florestas. O presidente Lula precisa olhar para o Tapajós e ouvir quem vive onde essa ferrovia quer passar”, afirma outra liderança.

Os Munduruku também pedem a aceleração da demarcação de terras indígenas, processos que, segundo eles, seguem paralisados no Ministério da Justiça e na Casa Civil. O movimento responsabiliza o Estado pelo aumento de conflitos territoriais impulsionados pelo agronegócio.

Na nota, o grupo conclui o apelo direcionado ao presidente Lula: “Não aceitamos ser sacrificados para o agronegócio. Revogue o Decreto 12.600. Cancele a Ferrogrão. Demarque nossas terras. Fora crédito de carbono, nossa floresta não está à venda. Quem protege o clima somos nós.”