COP30: O que são créditos de carbono e por que estão sendo cada vez mais criticados

Créditos de carbono são instrumentos criados para combater as mudanças climáticas e incentivar a transição para uma economia de baixo carbono.

Publicado em 1 de julho de 2025 às 10:47

Um crédito representa a compensação de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera.
Um crédito representa a compensação de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera. Crédito: Reprodução 

A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, alertou, em entrevista, que os países não devem depender excessivamente dos créditos de carbono para atingir suas metas climáticas. A fala vem em meio a discussões na União Europeia sobre uma nova meta de redução de emissões, que pode incluir o uso de créditos comprados no exterior.

Inicialmente, a Comissão Europeia propôs uma meta ambiciosa: reduzir em 90% as emissões de gases de efeito estufa até 2040. No entanto, com a resistência de alguns governos, o bloco começou a considerar alternativas, como permitir que países adquiram créditos de carbono gerados por projetos de restauração florestal em países como Brasil e Guiana, e contabilizem essas reduções como se fossem próprias.

Ana Toni deixou claro que o Brasil não é contra o uso de créditos de carbono, mas alerta para o risco de os países utilizarem esse mecanismo como um atalho para evitar mudanças estruturais em suas próprias economias.

O que são créditos de carbono?

Créditos de carbono são instrumentos criados para combater as mudanças climáticas e incentivar a transição para uma economia de baixo carbono. Um crédito representa a compensação de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera.

Na prática, empresas ou países que reduzem suas emissões além da meta podem vender o “excedente” em forma de crédito para quem ainda não atingiu seus objetivos. Assim, quem compra o crédito pode “compensar” suas próprias emissões e declarar que reduziu sua pegada de carbono.

Projetos que geram esses créditos incluem ações como:

• Redução do desmatamento;

• Uso de energias renováveis;

• Captura de carbono;

• Substituição de combustíveis fósseis por fontes menos poluentes.

Esses projetos são validados por certificadoras com metodologia científica reconhecida, como a Verra, uma das principais organizações nesse mercado.

Por que os créditos de carbono são alvo de críticas?

Apesar de sua proposta promissora, o mercado de créditos de carbono vem sendo duramente criticado, especialmente após investigações recentes que questionam sua credibilidade.

Entre 2022 e 2023, uma série de reportagens e estudos científicos expôs falhas no sistema. Uma das pesquisas mais contundentes veio da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, com financiamento da ONG Carbon Market Watch. O estudo analisou créditos de carbono gerados por projetos de proteção de florestas tropicais certificados pela Verra e revelou que muitos deles não representam, de fato, reduções reais de emissões.

O especialista Inigo Wyburd, da Carbon Market Watch, foi direto:

“Empresas estão compensando suas emissões de forma barata, comprando créditos de baixa qualidade ligados a projetos no Sul Global. Só um de cada 13 créditos analisados representa uma redução real.”

A crítica principal é que muitas metodologias são “flexíveis demais”, permitindo que os responsáveis pelos projetos superestimem o impacto ambiental. Em alguns casos, a diferença entre a maior e a menor estimativa de desmatamento evitado chegava a 1.400%, o que abre margem para manipulação dos números.

Compensação x Contribuição

Diante das falhas, cientistas e organizações ambientais defendem uma mudança na lógica do mercado de carbono. Em vez de utilizar créditos para “compensar” emissões e alegar neutralidade, a proposta é adotar uma abordagem de contribuição: ou seja, financiar projetos ambientais como parte do esforço coletivo de redução de emissões, sem usar isso como justificativa para manter níveis elevados de poluição.

Essa transição pode ser decisiva nas negociações da COP30, que ocorrerá em novembro de 2025, em Belém (PA), e que promete ser um marco para a revisão de metas globais e redefinição de mecanismos de combate à crise climática.

Com informações da Isto É