Criação de infraestrutura digital pode acelerar enfrentamento à mudança do clima; entenda

Documento elaborado a pedido do presidente da COP30 defende a instalação de um sistema que possa ser adotado por governos, organizações e comunidades.

Publicado em 5 de novembro de 2025 às 11:25

Infraestrutura digital pode acelerar enfrentamento à mudança do clima.
Infraestrutura digital pode acelerar enfrentamento à mudança do clima. Crédito: Reprodução

A pedido do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio) e o pesquisador Ronaldo Lemos apresentaram uma proposta inédita de Infraestrutura Digital Pública Global para o Clima (Climate DPI). O documento foi desenvolvido no âmbito do Conselho Consultivo de Alto Nível em Tecnologia da Presidência da COP30 (High-Level Technology Advisory Council to the COP30 Presidency, em inglês), coordenado por Lemos, e propõe uma nova abordagem para enfrentar a fragmentação e a lentidão das iniciativas climáticas em todo o mundo.

A proposta parte do diagnóstico de que a transição verde global carece de uma base digital comum. O Climate DPI é apresentado como um “sistema operacional para a ação climática”, voltado a interligar dados, finanças e inteligência digital em escala planetária. O objetivo é criar um conjunto aberto de ferramentas digitais que possam ser adotadas por governos, organizações e comunidades, permitindo o monitoramento, o financiamento e a coordenação de políticas climáticas em tempo real. 

Assim como as rodovias e as redes elétricas foram infraestruturas fundamentais para o desenvolvimento no século XX, a infraestrutura digital pública é apresentada como a espinha dorsal da transição verde no século XXI.

Arquitetura digital para o clima

O relatório detalha uma arquitetura modular chamada ClimateStack, que organiza a proposta em diferentes camadas interconectadas.

A primeira camada trata da identificação digital, criando registros únicos para pessoas, organizações e ativos vinculados a projetos climáticos. Essa base permitiria rastrear o ciclo completo de uma ação — desde o investimento até a redução de emissões. A segunda camada abrange pagamentos e transações, com o uso de sistemas interoperáveis e contratos inteligentes para a transferência de recursos, compensações e emissão de créditos de carbono.

Em seguida, a camada de dados abertos integra informações de satélites, sensores ambientais e observações locais em grandes bancos de dados climáticos (data lakes), com padrões abertos e governança ética.

Uma camada de aplicações proporcionaria o desenvolvimento de serviços públicos digitais, como alertas de desastres, monitoramento de florestas, mercados de carbono e sistemas de previsão de riscos climáticos.

Por fim, a camada de acesso universal assegura que essas ferramentas possam alcançar todas as populações, inclusive as mais vulneráveis, por meio de múltiplas interfaces, como por exemplo web, SMS, rádio comunitária e linguagens locais.

Tecnologias e impactos esperados

O Climate DPI se apoia em um conjunto de tecnologias-chave que já vêm sendo desenvolvidas em diferentes regiões do mundo, mas que atualmente operam de forma isolada. Entre elas estão os sistemas de observação da Terra — como GEOSS, Copernicus e INPE/PRODES —, que permitem o monitoramento preciso de florestas, emissões e mudanças ambientais.

O documento também destaca os sistemas de alerta e resposta rápida, que integram sensores, inteligência artificial e ciência cidadã para prevenir desastres naturais. Além disso, as finanças climáticas digitais, com o uso de blockchain e contratos inteligentes, são outro pilar da proposta, voltadas a aumentar a transparência e a rastreabilidade dos recursos destinados à ação climática.

O relatório ainda aborda o papel da inteligência artificial para apoiar medidas de mitigação e adaptação — como a agricultura de precisão e a gestão inteligente de redes elétricas — e defende o desenvolvimento de infraestruturas verdes para IA, com data centers sustentáveis, softwares eficientes e energia 100% renovável.

Com essa integração, o Climate DPI busca promover ganhos concretos: monitoramento em tempo real de emissões e desmatamento, maior transparência nos mercados de carbono, redução de até 40% no tempo de resposta a desastres e cobertura global de alertas climáticos até 2035.

Legado digital da COP30

O relatório propõe que a COP30 lance oficialmente o Climate DPI como projeto legado do Brasil, estabelecendo as bases para uma infraestrutura digital pública global dedicada à ação climática.

A iniciativa pretende funcionar como a espinha dorsal tecnológica do Acordo de Paris, permitindo que compromissos assumidos pelos países sejam acompanhados e transformados em resultados mensuráveis.