Crianças assumem protagonismo climático no sétimo dia de COP30

Encontro reúne 30 crianças no Pavilhão de Crianças e Jovens e discute como incluir a infância nas decisões globais sobre a crise climática.

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 11:24

Crianças assumem protagonismo climático no sétimo dia de COP30
Crianças assumem protagonismo climático no sétimo dia de COP30 Crédito: Reprodução/Roma News

Na manhã desta segunda-feira (17), no Pavilhão de Crianças e Jovens da COP30, começou com uma cena incomum para conferências climáticas: um círculo formado por 30 crianças, discutindo como querem ver o planeta nos próximos anos. Elas foram convidadas a participar do evento “De Escuta à Ação: Crianças Moldando o Futuro da Liderança Climática”, que marca o início do Dia da Juventude na conferência. À frente do encontro está a Jovem Campeã do Clima, Marcele Oliveira, cuja missão é garantir que a infância deixe de ser apenas impactada pelas decisões ambientais, e passe a influenciá-las.

A atividade se propôs a criar um ambiente seguro e inclusivo para que as crianças expressem suas percepções sobre a crise climática e dialoguem diretamente com jovens lideranças. O encontro também reforça um movimento recente dentro da diplomacia internacional: reconhecer que as decisões tomadas hoje já afetam profundamente a infância no presente, não apenas no futuro.

Marcele reforçou que a crise climática atravessa realidades diversas, da aldeia ao quilombo, da periferia à comunidade ribeirinha, e que, apesar disso, crianças ainda têm pouco espaço para expressar preocupações ou apresentar propostas. Ela destacou, durante a vivência, que a COP30 precisa ouvir mais esse público e criar canais reais de diálogo, especialmente porque meninos e meninas enfrentam frequentemente os efeitos mais duros de enchentes, secas, ondas de calor e perda de biodiversidade. Para ela, oferecer esse espaço não é um gesto simbólico, mas uma obrigação moral e política.

O evento ganhou simbolismo ampliado com a presença de duas figuras icônicas da cultura brasileira, Zé Gotinha, símbolo nacional da vacinação, e o Curupira, guardião das florestas e mascote da COP30. A participação dos personagens buscou aproximar o debate climático das infâncias e estimular a imaginação das crianças sobre o papel delas na proteção do planeta.

Participação ativa e significado político

A programação reuniu, além de Marcele, delegados jovens do programa Biomas da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), duas crianças de Belém representando a Amazônia e um representante do Instituto Alana. A ideia é construir pontes entre experiências locais e a agenda global da juventude no clima, reforçada por organizações parceiras como UNICEF, Save the Children e Presidência da COP30.

Para Capitu Maciel, do Instituto Alana, incluir crianças nas negociações climáticas é mais do que simbólico, é urgente. Ela explica que a organização atua há três décadas pela defesa dos direitos da infância e vê na crise climática uma ameaça real e imediata.

“Crianças já estão entre as mais afetadas pela emergência climática hoje, não é mais um debate sobre futuro. Quando elas compreendem seu território, seu bioma e a relação entre cidade e natureza, passam a se reconhecer como parte da solução”, afirma. Capitu destaca ainda que vulnerabilidades sociais e desigualdades tendem a se aprofundar com a crise, tornando a inclusão das crianças nas discussões uma questão de justiça.

Segundo ela, garantir que crianças circulem pela COP, inclusive dentro da Blue Zone, onde ocorrem negociações formais, é um passo essencial para que elas compreendam e participem da construção de políticas públicas. “Nada sobre elas sem elas”, resume.

Acesso inédito e impacto direto

Responsável por acompanhar a comitiva de Belém, a assessora de relações internacionais da Prefeitura, Pollyana Bernardes, reforça o caráter histórico do momento. “É a primeira vez que uma COP permite a entrada de crianças sem necessidade de passaporte ou documentos complexos. Isso abre portas para meninas e meninos de baixa renda que nunca teriam condições de pisar aqui”, explica.

Para ela, ver crianças amazônidas dentro da conferência é especialmente simbólico. “Elas já vivem na linha de frente dos impactos climáticos e entender que são parte da solução muda tudo. É emocionante perceber o brilho nos olhos de quem descobre que também é ator político.”

Um legado para as próximas gerações

Inspirado pela sessão “Vozes do Amanhã”, da COP29, o encontro desta segunda-feira busca consolidar a participação infantil como prática permanente nas conferências climáticas. Na visão da Jovem Campeã do Clima, a construção de políticas ambientais só será integral quando incluir quem terá que viver com seus resultados.

Entre artes, brincadeiras e conversas profundas, a mensagem final das crianças ecoou pelo pavilhão: elas querem ser ouvidas, e querem agir agora. Afinal, como lembram as próprias organizações envolvidas, garantir um mundo melhor para as crianças é garantir um mundo melhor para todos.