Publicado em 18 de novembro de 2025 às 18:07
A necessidade de garantir que recursos do financiamento climático cheguem diretamente às comunidades tradicionais foi o centro do debate realizado nesta segunda-feira (17), no mini auditório da Casa do BNDES, em Belém. O encontro foi promovido pela Fase Solidariedade e Educação, em parceria com o Fundo Babaçu e a Rainforest Action Network (RAN).>
Mediador do painel, Pedro Martins, educador da Fase Amazônia, destacou que ampliar o acesso das comunidades aos recursos climáticos é essencial para justiça socioambiental. Segundo ele, o tema vai além da COP30: “É um debate histórico dos movimentos sociais, que buscam reconhecer a agricultura familiar, o agroextrativismo e os territórios tradicionais como sujeitos econômicos, capazes de receber investimentos e contribuir para o desenvolvimento do país”.>
A diretora executiva da Fase Nacional, Letícia Tura, apontou falhas estruturais no financiamento bancário, que, segundo ela, ainda estimula o desmatamento. “Há poucos limites e diretrizes para evitar que o crédito bancário contribua para a destruição das florestas”, afirmou. Ela defendeu a flexibilização de normas para que os recursos possam ser acessados pelas comunidades, sem desconsiderar a necessidade de regras adequadas às especificidades dos territórios.>
Letícia também ressaltou que os fundos climáticos precisam apoiar infraestrutura básica, como saúde, educação e transporte, e ser incorporados ao planejamento territorial. “Só assim os projetos deixam de ser ações isoladas e passam a gerar impacto real nos territórios”, disse. Ela citou o Fundo Babaçu como exemplo de iniciativa que promove justiça climática e reparação.>
Fundo Babaçu>
Criado em 2012, o Fundo Babaçu surgiu a partir da experiência do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) com um fundo rotativo de microcrédito. Desde então, já movimentou mais de R$ 10 milhões, lançou 10 editais e apoiou cerca de 100 projetos, beneficiando milhares de famílias.>
Coordenadora do MIQCB, organização que administra o fundo, Cledeneuza Maria Bezerra Oliveira celebrou a participação no debate e destacou o papel do conhecimento tradicional na proteção das florestas. “É importante mostrar que nós também temos capacidade técnica e conhecimento para formular projetos”, afirmou.>
Representante da RAN, Merel Van Der Mark reforçou a necessidade de responsabilização das instituições financeiras que apoiam empreendimentos ligados ao desmatamento. “Se os bancos realmente investigassem seus clientes, saberiam identificar impactos ambientais graves”, disse.>
A representante do Fundo Amazônia, Claudia Nessi, afirmou que o BNDES vem ampliando o apoio a iniciativas comunitárias, inclusive com o financiamento de organizações como o Fundo Babaçu. Ela informou que o Fundo Amazônia já mobilizou cerca de R$ 4 bilhões, diversificou seus doadores e intensificou o diálogo com a sociedade civil. “Quanto mais a sociedade civil estiver próxima, mais conseguiremos desenvolver estratégias para fortalecer os projetos na ponta”, declarou.>