Publicado em 27 de novembro de 2025 às 18:18
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” - (Nelson Mandela)>
A educação de qualidade está entre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e a educação ambiental foi reconhecida durante a COP30, que ocorreu em Belém, em novembro de 2025, como um eixo fundamental na criação de uma nova mudança de mentalidade de combate à crise climática. A meta da ONU é fazer com que 90% de todos os países incluam a mudança climática em seus currículos até 2030, em todos os níveis educacionais. Há cerca de 3 anos o Pará já iniciou essa jornada verde quando implementou a 'Política Pública para Educação Ambiental, Sustentabilidade e Clima', com o componente curricular de Educação Ambiental de forma obrigatória para todas as etapas de ensino da rede estadual paraense.>
"É muito importante que nossos estudantes, a partir das séries iniciais, comecem a ter esse contato diretamente com esses temas, a regionalidade, a importância da biodiversidade, a importância do meio ambiente como um todo, são elementos fundamentais para que nesse processo de construção desses jovens, a gente adquira no futuro uma cidadania ambiental. Então, a gente reforça a importância do Estado do Pará em propor a inclusão do componente de educação ambiental das séries iniciais e, com isso, numa perspectiva de formar esses jovens cidadãos críticos com relação à sua postura, ao seu dia a dia e, principalmente, fortalecendo a formação desse sujeito ecológico", destacou o professor Doutor Mauro Tavares, coordenador de educação ambiental da rede pública do Estado.>
No presente e no futuro, priorizar a educação para o desenvolvimento sustentável tem que permear o caminho da sala da aula ao mercado de trabalho. Investir na formação de mão de obra qualificada e na inovação na Amazônia significa permitir que a população local faça a transição de atividades puramente extrativistas (muitas vezes predatórias por falta de alternativa) para uma atuação mais qualificada na indústria, no comércio ou em empreendimento próprio. Para Adriano Remor, diretor e professor da Faci Wyden e mestre em Direito Público e Evolução Social, não existe conservação da floresta sem o desenvolvimento intelectual de quem nela habita. "O ensino superior democratizado é o espaço onde transformamos conhecimento em inovação científica, garantindo que as soluções para a crise climática sejam geradas aqui, por amazônidas, gerando riqueza e dignidade para o território", analisa.>
A democratização do ensino superior no Pará nos últimos anos está diretamente ligada à formação de mão de obra local para geração de empregos verdes, especialmente no setor mineral. Quase 150 anos separam a criação do primeiro curso voltado para formação de engenheiros de minas do Brasil, no município de Ouro Preto (MG), do início da primeira turma no estado do Pará, precisamente na cidade de Marabá, importante polo de mineração do país. O curso de Engenharia de Minas e Meio Ambiente de Marabá é o primeiro da Amazônia e do Centro-Oeste brasileiro e também pioneiro no olhar sensível para manter um planeta saudável.>
Hugo Campelo da Silva, 42 anos, foi da turma inaugural do curso de Engenharia de Minas e Meio Ambiente, fruto de uma parceria entre a empresa Vale e o campus da Universidade Federal do Pará, em Marabá, em 2004. Atualmente a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) executa o curso. Quando engenheiros formados na própria região assumem postos de trabalho no setor mineral, há uma mudança concreta no modo como a atividade se relaciona com o território. Profissionais locais conhecem melhor os ecossistemas, as comunidades, as dinâmicas sociais e os riscos associados ao ambiente amazônico. Eles carregam um senso de pertencimento que favorece a tomada de decisões mais equilibradas entre produção e preservação no dia a dia. "Atualmente, somos responsáveis pelos serviços técnicos em Salobo, operação de cobre da Vale Metais Básicos, abrangendo os planos de produção, lavra e geotecnia. Em todas essas áreas, a observância das diretrizes ambientais é uma prioridade inegociável dentro da nossa estratégia. Destaca-se ainda o papel da mineração no suporte à conservação das florestas vizinhas: o Salobo localiza-se na Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri, unidade de conservação protegida pelo ICMBio com o suporte da empresa. Minha atuação contribui diretamente para essa proteção e para as compensações ambientais necessárias, conduzidas de forma adequada e responsável. Esse compromisso reforça nosso engajamento, refletindo valores adquiridos ao longo da formação acadêmica e aplicados na indústria.", destaca Hugo, que depois de formado entrou na companhia Vale, por meio de processo seletivo, e atualmente é gerente geral no Salobo, operação de cobre da Vale Metais Básicos, no sudeste do Pará.>
Duas décadas depois da primeira turma formada, até agora 303 engenheiros e engenheiras de minas se graduaram no curso no interior do Estado. No momento, 126 pessoas estão na graduação, sendo 23 em fase de conclusão. O curso foi concebido para suprir uma demanda histórica por profissionais qualificados destinados aos projetos de mineração na região. "Desde sua criação, a própria denominação ‘Engenharia de Minas e Meio Ambiente’ evidencia o compromisso da instituição com a preservação e a recuperação ambiental, a mitigação dos impactos decorrentes das atividades do setor mineral e a promoção de práticas sustentáveis. As disciplinas ofertadas e os projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do curso refletem essa visão, ao integrar conteúdos e práticas alinhados à responsabilidade socioambiental e à sustentabilidade no setor mineral", explica Francisco Ribeiro da Costa, Reitor da Unifesspa. Segundo o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Pará), atualmente há 1.287 engenheiros de minas paraenses cadastrados na autarquia.>
O desafio é transformar as riquezas minerais em capital humano e social e a melhor forma de fazer isto é pela educação>
A interiorização do ensino superior cumpre dupla função: amplia oportunidades acadêmicas e mantém talentos locais próximos às suas comunidades, contribuindo para o desenvolvimento regional. O Pará é uma das maiores províncias minerais do mundo e o Estado é responsável por cerca de metade do total exportado de ferro e alumínio pelo Brasil: dois minerais com alta reciclabilidade, o que significa que podem ser reaproveitados de infinitas maneiras na indústria e essenciais para materializar uma economia verde na região. Empregos verdes e profissionais formados nesse contexto contribuem para preservar ou restaurar o meio ambiente, nos mais variados setores: tradicionais ou emergentes. Eles impulsionam a capacidade individual e coletiva de cuidar dos outros e do meio ambiente. A educação e a democratização do ensino são as sementes, não somente na economia com a geração de empregos verdes no Pará, mas para a mudança do "Status quo" (estado das coisas) de uma sociedade que urgentemente precisa se tornar mais resiliente.>
“A engenharia de minas da Unifesspa nasceu em diálogo direto com o território: ela existe porque Carajás é responsável por quase um terço de toda a produção mineral do Brasil e precisava de uma formação local capaz de pensar mineração e meio ambiente juntos. Vinte anos depois, essa decisão se confirma. Já formamos mais de 300 engenheiros e engenheiras, e hoje nossos egressos e egressas estão espalhados pelo Pará, pelo país e até no exterior. O curso evoluiu, incorporou os ODS e agora inclui IA em seu currículo. Mais do que formar mão de obra, ele ajudou a criar uma identidade técnica e científica para a região. Acredito que, sem essa engenharia que olha para a riqueza mineral com responsabilidade social, seria impossível falar em desenvolvimento sustentável na Amazônia.”, avalia o reitor.>
A democratização do ensino transforma a realidade porque substitui o improviso pela técnica>
A democratização do ensino profissionalizante, também, ganha importância estratégica: formar mão de obra local significa promover desenvolvimento econômico, gerar oportunidades e tornar o estado mais atrativo e seguro para empresas que escolhem investir aqui. Segundo Dário Lemos, diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Pará), esse movimento é essencial. Ele destaca que, para a indústria, “ter profissionais formados aqui garante mais segurança na hora de se instalar e expandir operações. A mão de obra local conhece a realidade do território, absorve rapidamente as demandas e fortalece o crescimento sustentável do estado”.>
Entre 2023 e 2025, a inserção de egressos da modalidade Aprendizagem Industrial chegou a 82%, demonstrando que os jovens formados pelo SENAI encontram rapidamente espaço no mercado de trabalho. Voltada para pessoas de 14 a 24 anos, a modalidade combina formação teórica com prática em empresas reais, oferecendo bolsa de estudo e primeiras experiências profissionais.>
Esse esforço acompanha as projeções do Mapa do Trabalho Industrial 2025–2027, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aponta para a criação de 12.263 novos empregos formais na indústria paraense nos próximos três anos. Os setores de Logística e Transporte lideram a demanda por qualificação, respondendo por 23% das oportunidades (65 mil trabalhadores). Os dois setores estão entre os principais mercados de empregos verdes no Brasil. “O futuro da indústria depende de trabalhadores capazes de se adaptar, aprender continuamente e dominar novas tecnologias. Nosso papel é acompanhar essas transformações do mundo do trabalho.”, reforça Dário.>
“Nossas escolas, universidades e institutos federais são terrenos férteis para cultivarmos consciência climática e sustentabilidade.”, pontuou durante a Conferência das Partes, o ministro da Educação Camilo Santana. A formação profissional, portanto, não é apenas uma política educacional — é um vetor de desenvolvimento que impulsiona a economia, gera oportunidades e avanços tecnológicos e, ainda, prepara o Estado para receber e manter indústrias capazes de gerar emprego, renda e progresso sustentável. Investir em educação ambiental desde os primeiros anos da vida escolar, passando pelos cursos técnicos e de graduação, é preparar agentes de sustentabilidade, aptos a conduzir, no caso da engenharia, a mineração do futuro — uma mineração mais limpa, inteligente e integrada ao meio ambiente. A educação cria resiliência, mitiga impactos, garante justiça climática e um mercado profissional verde.>