Publicado em 7 de agosto de 2025 às 10:05
O Centro de Convenções Vasco Vasques é palco de um momento histórico nesta semana, com a realização do XII Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (ENEI). O evento que iniciou na noite de terça-feira, (05) reúnindo mais de mil estudantes de diferentes povos indígenas de todas as regiões do Brasil, começou com um ritual de abertura conduzido pelo Centro de Medicina Indígena Bahserikowi e apresentações culturais do Grupo Kariçu e Bahsesé, marcando o início de quatro dias de atividades intensas, trocas de saberes e afirmações identitárias.>
Uma mesa institucional reuniu representantes de universidades, instituições de pesquisa, organizações indígenas e órgãos públicos, entre eles UEA, UFAM, IFAM, UNEB, FEPIAM, FAPEAM, INPA, MPI, FUNAI, CAPES e MMA, além de movimentos como Movimento de Estudantes Indígenas do Amazonas (MEIAM), FOREEIA, APIAM, Makira ‘Eta e COIAB. A presença conjunta reafirma o compromisso com políticas de permanência e valorização da educação superior indígena.>
Durante a apresentação, o professor João Paulo Barreto, criador do primeiro centro de medicina indígena, em 2017, localizado em Manaus, reivindicou durante a abertura das atividades, o reconhecimento da ciência produzida pelos povos originários, chamando atenção para a necessidade de um diálogo intercultural verdadeiro.>
"Nós manejamos a terra, manejamos os rios, os lagos. Desenvolvemos tecnologias, desenvolvemos conhecimento, desenvolvemos medicina. Portanto, se vocês — se nós, na universidade — queremos levar a sério os nossos saberes para além de uma tradução filética, para além dos mitos, letras e magias, precisamos escolher com responsabilidade os nossos trabalhos”.>
A conferência de abertura, com o tema “Justiça Climática e Direitos Humanos: As Ciências Indígenas como Rede de Trocas para o Equilíbrio Humano no Mundo Terrestre”, foi ministrada pelo professor-doutor Gersem Baniwa com participação de Izabel Munduruku, coordenadora do MEIAM, destacando a urgência de fortalecer os saberes originários frente à crise climática e aos desafios da contemporaneidade.>
Durante sua participação no encontro, a liderança indígena fez um alerta contundente sobre as múltiplas crises que atravessam o mundo contemporâneo. Em sua análise, ele apontou que essas crises não são universais em sua origem, mas sim resultado de um modelo específico de civilização, com impactos profundos para todos — especialmente para os povos originários, que, embora não sejam responsáveis por sua criação, estão entre os mais afetados.>
“Vivemos tempos de múltiplas crises que têm origem na civilização ocidental e ocidentalizada — não em todas as comunidades ou humanidades. Nós, povos indígenas, não causamos essas crises, mas somos profundamente impactados por elas. São crises espirituais, culturais, econômicas, políticas e também do conhecimento, que culminam em uma grave crise ambiental e climática. Por isso, é urgente que a educação contribua para a formação de uma consciência crítica e coletiva sobre esse cenário”, explicou.>
Resultados concretos>
A professora-doutora Alva Rosa Tukano, representante do Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena, reforçou a importância do evento como espaço de mobilização, diálogo e produção de resultados concretos para o fortalecimento da presença indígena no ensino superior brasileiro.>
Em sua fala, a representante celebrou a diversidade de participantes reunidos — estudantes, lideranças indígenas, professores, familiares, representantes de instituições de ensino, parlamentares e gestores públicos — e destacou os avanços já conquistados a partir dos encontros anteriores. "O ENEI é o Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas e tem, sim, resultados concretos. Um exemplo é o documento que foi encaminhado à Câmara de Educação Superior (CESU), fruto das discussões realizadas nos últimos encontros", afirmou.>
Alva Rosa também enfatizou os desafios que estudantes indígenas enfrentam para ingressar e permanecer na universidade, especialmente aqueles que precisam deixar suas comunidades e famílias para estudar nas capitais. "Queremos mais políticas específicas em todas as universidades do Brasil. Não basta garantir o acesso — é preciso garantir permanência e êxito", disse.>
A programação segue até o dia 08 de agosto, com mesas de debate, rodas de conversa, oficinas temáticas, sessões de comunicação oral, lançamentos de livros e rituais tradicionais, promovendo o intercâmbio entre ciência, militância e ancestralidade. Mais informações sobre o evento em https://www.instagram.com/enei_oficial/>