Estudo comprova papel vital do conjunto de florestas de Carajás no combate às mudanças climáticas

Florestas protegidas de Carajás retiram da natureza e armazenam um total de dióxido de carbono semelhante ao emitido por cerca de 140 milhões de carros populares

Publicado em 5 de setembro de 2025 às 12:02

Florestas protegidas de Carajás retiram da natureza e armazenam um total de dióxido de carbono semelhante ao emitido por cerca de 140 milhões de carros populares - 
Florestas protegidas de Carajás retiram da natureza e armazenam um total de dióxido de carbono semelhante ao emitido por cerca de 140 milhões de carros populares -  Crédito: Washington Alves

Estudo recente revela que as florestas do Mosaico de Carajás, localizado no Sudeste do Pará, armazenam uma quantidade significativa de carbono, essencial no combate aos efeitos das mudanças climáticas. Com 800 mil hectares, o que equivale a 800 mil campos de futebol, a área mantém cerca de 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono estocados na vegetação e no solo superficial — um total de carbono semelhante ao emitido por cerca de 140 milhões de carros populares movidos à gasolina em um ano.

Intitulado "Inventário de emissões e remoções de carbono devido às mudanças de uso da terra", o projeto envolveu um grupo multidisciplinar de pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITV DS), composto por engenheiros civis, biólogos, engenheiros florestais e de computação. Um dos resultados obtidos pela pesquisa foi a medição de áreas de floresta aberta na Floresta Nacional do Carajás, onde se identificou que cada hectare armazena cerca de 1.100 toneladas de CO2.

Estoques de carbono são apenas um dos aspectos que agregam diferentes valores à floresta em pé, ainda que sejam um dos ativos mais comentados pelo crescimento do mercado global de créditos de carbono. A conservação melhora a saúde do solo, permite a preservação de recursos hídricos, previne desastres naturais, mantém a biodiversidade e é uma das principais medidas de enfrentamento das mudanças climáticas. Mas ainda do ponto de vista econômico, uma floresta pode proporcionar diversos ativos para a bioeconomia e ecoturismo, gerando emprego e renda. Florestas também fazem parte da vivência de povos originários e fornecem insumos diversos, que fazem parte da cultura alimentar de diferentes comunidades.

Os dados obtidos no Mosaico de Carajás reforçam o papel estratégico da preservação das f lorestas tropicais em manter esses grandes estoques de carbono, evitando que esse carbono chegue à atmosfera e agrave as mudanças climáticas. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera é o principal fator responsável pelo aquecimento global.

"As florestas tropicais têm grandes estoques de carbono, especialmente as intactas. Cerca de metade do peso seco de uma árvore é carbono e as florestas tropicais têm muitas árvores — e grandes árvores. Quando desmatada ou degradada (por corte seletivo ou queimada), este carbono estocado nas árvores é liberado para a atmosfera. Quando aumentamos a área de f loresta, ocorre o contrário: há uma remoção de carbono da atmosfera usado pelas árvores para fotossíntese, ou seja, a transformação do carbono em oxigênio. Essa dinâmica é bem observada em uma estimativa das emissões e remoções de carbono, devido à mudança de uso da terra realizada na bacia hidrográfica do rio Itacaiúnas, no sudeste paraense", explica a pesquisadora Rosane Cavalcante, pesquisadora do ITV DS e doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.

Por meio do estudo, também foi possível identificar a perda de 40% dos estoques de carbono causada pelo desmatamento e uso inadequado do solo ao longo da bacia do rio Itacaiúnas, num período de 36 anos. Isso representa mais de 1,2 milhão de toneladas de CO2. A bacia abrange uma área de 42 mil quilômetros quadrados e engloba dez municípios entre as regiões Sul e Sudeste do Pará: Água Azul do Norte, Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Marabá, Parauapebas, Piçarra, São Geraldo do Araguaia, Sapucaia e Xinguara.

Com imagens de satélites, é possível constatar que as áreas que permaneceram conservadas estavam concentradas nas grandes unidades de conservação protegidas por meio da parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a mineradora Vale, e também a Terra Indígena. Isto por conta do projeto Grande Carajás, iniciado na década de 80 e que previa a proteção de área de florestas aliada à exploração mineral. As áreas protegidas, embora ocupem menos de um terço da bacia do rio Itacaiúnas, concentram mais da metade do carbono remanescente.

Outro dado comprovado foi que as maiores árvores (1% do total) concentram até 33% do carbono da vegetação, o que mostra como as florestas, especialmente as com grandes árvores, concentram altos estoques de carbono. Entre as espécies das maiores árvores encontradas nas parcelas monitoradas estão o cinzeiro (Erisma uncinatum Warm), timborana (Marlimorimia psilostachya) e castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl). Essas árvores podem alcançar mais de 40 metros de altura e seu diâmetro pode chegar a ter mais de 200 cm de diâmetro. Os dados constam no livro "Capital Natural das Florestas de Carajás", publicado pelo ITV.

Ao mesmo tempo, o estudo destaca a urgência de restaurar áreas desmatadas e manejar bem terras já utilizadas. “A pesquisa reforça a grande importância da preservação da floresta para a mitigação das mudanças climáticas, das áreas de florestas intactas, que estão em grande parte em áreas protegidas. No entanto, é igualmente importante recuperar ecossistemas degradados. A bacia do Itacaiúnas, ainda sob pressão de desmatamento, serve de alerta para outras regiões e mostra lições do que acontecerá mais a oeste se não conseguirmos frear o desmatamento”, ressalta Rosane Cavalcante.