Indígenas realizam Barqueata em defesa da floresta na COP30, em Belém

Povos tradicionais, quilombolas e comunicadores navegam pela Baía do Guajará em uma manifestação simbólica que cobra a demarcação de terras.

Publicado em 12 de novembro de 2025 às 09:41

Indígenas realizam Barqueata em defesa da floresta na COP30, em Belém
Indígenas realizam Barqueata em defesa da floresta na COP30, em Belém Crédito: Reprodução/Coletivo Apoena Cultural

Os rios de Belém se transformam em palco de resistência e união nesta quarta-feira (12), com a realização da “Barqueata da Cúpula dos Povos”, um dos atos mais emblemáticos paralelos à COP30. O protesto reúne mais de 200 embarcações e cerca de 5 mil pessoas de 62 países, em uma travessia que mistura fé, arte e reivindicação social.

A mobilização parte da Universidade Federal do Pará (UFPA) e percorre as águas do rio Guamá até a Baía do Guajará, encerrando o trajeto na Vila da Barca, uma comunidade ribeirinha marcada pela falta de saneamento e décadas de resistência. O percurso, que tem cerca de duas horas, terá faixas, cartazes e cânticos que denunciam o abandono histórico de povos que vivem da floresta e das águas, justamente os mais afetados pelas mudanças climáticas.

De acordo com Iury Paulino, membro da Comissão Política da Cúpula dos Povos e coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a manifestação simboliza a força popular frente às contradições das políticas ambientais. “Estamos alinhados e achamos que vai ser histórico. Esse é um momento de denúncia contra um modelo que destrói os rios, expulsa comunidades e favorece grandes corporações”, afirmou.

Entre as lideranças indígenas, Roque Wai Wai, do povo Wai Wai, fez um apelo emocionado para o Brasil reconhecer e valorizar suas origens. “Muitas pessoas no Brasil ainda não conhecem os povos indígenas. Quando andamos pelas cidades, pensam que somos estrangeiros. Quero que mostrem quem somos, que o povo entenda quem é o verdadeiro brasileiro”, declarou.

Roque também destacou a urgência de respostas concretas na conferência. “Espero que, nessa COP, alguém atenda nossas demandas. Isso é essencial para os povos indígenas de todo o país”, acrescentou.

Durante o ato, representantes das comunidades denunciam as más condições de acolhimento nos espaços destinados aos povos indígenas durante a conferência. “Estamos sendo pouco alimentados, às vezes falta água. Queremos respeito e dignidade. A floresta é nossa casa, nossa roupa, nosso alimento. Sabemos cuidar dela melhor do que qualquer governo”, afirmou o membro da liderança Wai Wai.

As reivindicações ecoaram também contra o modelo de desenvolvimento que perpetua a exploração dos territórios, o desmatamento e o avanço de megaprojetos que ameaçam comunidades inteiras. As embarcações carregam mensagens que solicitam demarcação de terras, justiça climática e proteção aos povos da Amazônia.

A Barqueata, que conta com a presença de líderes históricos como cacique Raoni, marca o início oficial das atividades da Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30 que reúne movimentos sociais, organizações ambientais e lideranças internacionais. Ao final do percurso, as margens do rio se transformam em ponto de encontro, onde diferentes vozes se unem em um mesmo grito.