Publicado em 24 de setembro de 2025 às 09:04
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou carta conjunta nesta segunda (22), com outros 16 chefes de estado e de governo, em prol da transição energética. O documento, intitulado "All hands on deck for the just and equitable energy transition" ("Todos juntos pela transição energética justa e equitativa", em tradução livre), ressalta a importância de acelerar a produção e o consumo de energias limpas, com base nos compromissos assumidos na COP28 e no contexto da preparação para a COP30, no Brasil.>
A divulgação do texto dá-se em momento em que as lideranças mundiais se reúnem em Nova York para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Na ocasião também é realizada a “New York Climate Week”.>
Leia, a seguir, a carta conjunta>
Carta conjunta: Todos juntos pela transição energética justa e equitativa>
O mundo está avançando rumo à energia limpa mais rápido do que nunca. Só no ano passado, os investimentos globais em energias limpas atingiram a marca recorde de dois trilhões de dólares, com dois dólares aplicados em energia limpa para cada dólar investido em combustíveis fósseis, segundo a Agência Internacional de Energia.>
No setor elétrico, os investimentos em tecnologias limpas superaram os de combustíveis fósseis na proporção de dez para um. Essa transformação é impulsionada pela ameaça existencial das mudanças climáticas, pelo reconhecimento compartilhado de que segurança energética é segurança nacional e pela compreensão de que a energia limpa é o caminho para garantir segurança energética e crescimento para os cidadãos.>
Essa é uma transformação pela qual trabalhamos há anos. Foi reforçada pelas metas coletivas estabelecidas na COP28 em Dubai, que garantem uma transição energética justa e equitativa, respeitando as circunstâncias nacionais. À medida que as energias renováveis e outras formas mais limpas assumem uma parcela maior da matriz energética, a participação dos combustíveis fósseis continuará a diminuir.>
A situação está clara: a transição para a energia limpa está em curso e veio para ficar. Devemos assegurar que essa transição seja justa e equitativa. Essa é a única abordagem que trará benefícios reais para o planeta, para as pessoas e para a inovação. Uma transição justa ajudará a reduzir custos, promover o crescimento, criar novos empregos e fortalecer as economias locais. Além disso, promoverá a segurança energética, já que a energia produzida localmente protege consumidores e empresas da volatilidade dos mercados.>
Embora a direção da mudança seja positiva, persistem disparidades significativas no acesso à energia e nos investimentos. Muito ainda precisa ser feito para garantir que a transição não apenas avance globalmente, mas também beneficie as pessoas e economias que mais necessitam. Muitos países ainda carecem de um ambiente propício — infraestrutura, financiamento acessível, tecnologia e investimentos — para participar plenamente da transição energética limpa.>
Isso é especialmente verdadeiro para os países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Dos dois trilhões de dólares investidos globalmente em 2024, apenas 40 bilhões foram destinados à África. Embora esse valor seja o dobro do registrado em 2020, ainda é extremamente insuficiente. Se não agirmos, 550 milhões de pessoas no continente continuarão sem acesso moderno à energia em 2030.>
Esse progresso desigual tem consequências trágicas: cerca de 600 mil pessoas morrem anualmente na África devido a doenças respiratórias relacionadas ao uso de combustíveis poluentes para cozinhar, perpetuando a pobreza energética, dificultando o crescimento econômico e prejudicando o meio ambiente.>
Existem também lacunas significativas de financiamento no Sudeste Asiático. Trata-se de uma grande oportunidade para mudança e crescimento, já que a região precisará de 47 bilhões de dólares adicionais por ano, até 2035, para investimentos e desenvolvimento de habilidades que apoiem a energia limpa.>
Pequenas nações insulares dispõem de recursos intermitentes abundantes, como solar e eólico offshore, mas suas transições são dificultadas pelo acesso limitado a soluções de armazenamento acessíveis e à interconexão com redes elétricas internacionais.>
A América Latina tem uma disponibilidade incomparável de recursos naturais para expandir energias renováveis e a produção de combustíveis sustentáveis. Apesar de ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e dos esforços crescentes para diversificar e aumentar a sustentabilidade de suas fontes de energia, a região explorou apenas uma fração de seu potencial. A dependência dos combustíveis fósseis, as lacunas no acesso à energia e a necessidade de ampliar o financiamento estável ainda representam desafios significativos.>
Para superar essas lacunas e avançar coletivamente na transição, lançamos o Fórum Global de Transições Energéticas. Este espaço permite que governos, instituições internacionais, bancos, empresas e instituições filantrópicas comprometidos em acelerar uma transição justa e limpa trabalhem juntos. Cada país tem um contexto único e um ponto de partida diferente, por isso o Fórum será flexível e inclusivo, promovendo cooperação e alinhamento em nossos esforços conjuntos.>
Nossa visão compartilhada é clara: desbloquearemos financiamentos e mitigaremos riscos nos investimentos, especialmente nos países em desenvolvimento, reduzindo custos, atraindo capital e fechando a lacuna financeira, em estreita parceria com instituições financeiras internacionais e bancos de desenvolvimento.>
Também fortaleceremos a colaboração entre iniciativas existentes, como a Aliança Global de Energia Limpa, a Coalizão Global de Planejamento Energético e a Aliança Global de Eficiência Energética, para garantir maior sinergia e coerência na condução da transição energética global.>
Isso inclui ampliar esforços liderados por países africanos, latino-americanos, do Sudeste Asiático e do Pacífico — como o Parceria Acelerada para Energia Renovável na África, o Programa de Transição Energética da África, a Iniciativa Africana para Industrialização Verde e a Rede Elétrica da ASEAN — e outras iniciativas locais que já traçam um caminho rumo à energia limpa e ao crescimento econômico. Por meio dessas iniciativas, podemos intercambiar melhores práticas e aprender uns com os outros.>
Também aumentaremos a manufatura local e a implantação de energias renováveis e alternativas limpas, com foco nos países em desenvolvimento, que estarão no centro da nossa meta de instalar 11 terawatts de capacidade até 2030.>
Ao intensificar nossos esforços para cumprir nossas metas voluntárias coletivas — incluindo os objetivos da COP28 de triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030, além de ampliar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis para substituir os fósseis — promoveremos o crescimento econômico enquanto protegemos nosso planeta. E o mais importante: trabalharemos para garantir uma distribuição justa da energia limpa e das oportunidades que ela gera.>
À medida que nos aproximamos da crucial COP30, que será realizada no Brasil ainda este ano, a preparação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) pós-2030 oferece uma oportunidade para aumentar a ambição, construir sobre compromissos existentes e definir um caminho para a próxima década. Mas também precisamos traduzir as NDCs em ações concretas e investimentos no terreno, que transformem vidas e fortaleçam comunidades. Isso inclui avançar com reformas na arquitetura financeira global para garantir que os mecanismos multilaterais de financiamento e de transição apoiem a implementação das NDCs e os resultados mais amplos da COP30.>
Esta é a década decisiva. As escolhas que fizermos hoje determinarão se aproveitaremos essa oportunidade inédita de transformação econômica ou se permitiremos que a inércia nos retenha por anos. O Fórum Global de Transições Energéticas é uma plataforma para impulsionar o acesso à energia limpa e garantir transições justas, sustentáveis e inclusivas.>
Convocamos líderes e o setor privado a apoiarem este esforço comum e a se unirem em ação. Juntos, podemos desbloquear um futuro mais sustentável, equitativo e próspero para todos.>