Publicado em 27 de novembro de 2025 às 15:09
A Amazônia sempre foi vista como um lugar que precisa ser protegido, preservado e compreendido. Poucas vezes, no entanto, foi percebida como um território também capaz de produzir tecnologia, impulsionar energia limpa, fornecer minerais críticos ao mundo e ser protagonista de uma nova economia verde. Depois da COP 30, realizada em Belém, essa percepção mudou de forma definitiva. A Amazônia deixou de ser apenas cenário e tornou-se agente.>
Entre debates, acordos e compromissos firmados naquele encontro histórico, um ponto sobressaiu: é impossível fazer transição energética global sem o protagonismo da América Latina e, especialmente, do Brasil. E dentro desse debate, o Pará assumiu um lugar central, não apenas como guardião de uma das maiores florestas do planeta, mas como potência produtiva, responsável por grande parte dos minerais essenciais para a transição energética mundial.>
Nos últimos anos, a mineração paraense entrou em uma fase de reposicionamento estratégico. A produção de ferro aumentou, a demanda por cobre e níquel cresceu, os investimentos industriais se ampliaram e projetos de beneficiamento receberam novos aportes. A Vale, por exemplo, anunciou o programa Novo Carajás, um conjunto de investimentos que deve ultrapassar R$ 70 bilhões até 2030, com o objetivo de fortalecer a produção mineral, ampliar o nível de industrialização e posicionar o Brasil como fornecedor global de minerais críticos.>
O presidente da empresa, Gustavo Pimenta, afirmou em um evento público: “Temos a oportunidade de colocar o Brasil entre os principais líderes mundiais no fornecimento de minerais essenciais à transição energética. É um papel estratégico, que exige responsabilidade, tecnologia e compromisso com as comunidades.” A fala resume o sentimento que dominou o pós-COP: a indústria precisa crescer, mas precisa crescer melhor.>
O Pará, que já é líder nacional em exportações minerais, viu sua cadeia produtiva ganhar novo sentido. As discussões que começaram muito antes da COP e se intensificaram depois dela cresceram em torno de um compromisso duplo: continuar sendo potência produtiva e, ao mesmo tempo, se tornar referência de sustentabilidade, inovação e respeito ao território. Essa combinação é o que define a nova energia da Amazônia. Uma energia que é mineral, tecnológica, humana e ambiental ao mesmo tempo.>
Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi destacam que o desenvolvimento amazônico só se sustenta quando escuta quem vive aqui. A antropóloga Ana Carla Bruno lembrou, em um seminário realizado após a COP: “A Amazônia tem um conhecimento profundo sobre mudanças ambientais. Se o futuro da energia passa por aqui, passa também por ouvir quem cuida desse território há séculos.” A declaração reforça algo que, cada vez mais, a indústria reconhece: não existe cadeia produtiva sustentável sem diálogo direto com povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades tradicionais.>
E é nesse ponto que a mineração tem buscado evoluir. A cadeia mineral entendeu que inovação precisa ir além da tecnologia embarcada nas máquinas. Inovação, hoje, significa novas formas de produzir, de se relacionar e de responder às demandas sociais do território. Projetos como o “Caminhos da Mineração”, iniciativa apoiada por diferentes empresas do setor, passaram a incluir educação ambiental, capacitação profissional, ações de saúde, incentivo ao empreendedorismo local e fortalecimento de cooperativas comunitárias.>
Outro projeto que ganhou destaque foi o “S11D Futuro”, que, além de alta tecnologia e redução do uso de água, ampliou programas de monitoramento ambiental e formação técnica para jovens das comunidades próximas. São iniciativas que mostram que sustentabilidade não é discurso, mas construção.>
O debate se intensificou após a COP 30, quando especialistas de energia apontaram para um cenário inevitável: o mundo precisará de muito mais cobre, níquel, alumínio, grafite e terras raras nos próximos anos. Esses minerais fazem parte de baterias, painéis solares, turbinas eólicas, carros elétricos e sistemas de transmissão. E muitos deles estão na Amazônia.>
Essa realidade coloca o Pará diante de um desafio histórico. É preciso aumentar a industrialização, elevar o valor agregado da produção, ampliar a oferta de formação técnica, investir em pesquisa, apoiar startups de tecnologia mineral, fortalecer a bioeconomia e garantir que a cadeia mineral, ao crescer, deixe mais riqueza no território do que leva.>
O estado já começou a responder a esse desafio. A Universidade Federal do Pará, em parceria com centros de pesquisa da Europa e da Ásia, desenvolve estudos sobre tecnologias de beneficiamento de baixo impacto ambiental. O governo do estado criou programas de fomento à industrialização, e a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas ampliou bolsas e editais voltados para inovação em energia limpa. O setor privado também investiu em novos laboratórios, tecnologias de reutilização de rejeitos e sistemas de eficiência energética.>
Tudo isso mostra que a Amazônia está entrando em um novo ciclo, onde produção e proteção caminham juntas. Onde tecnologia mineral e biodiversidade passam a ser parte da mesma conversa. Onde não é mais possível pensar em desenvolvimento sem Amazônia, e muito menos pensar em Amazônia sem desenvolvimento.>
A consolidação do Pará como polo energético e mineral não depende apenas da capacidade produtiva das grandes empresas. Depende do ecossistema inteiro. Governos, universidades, institutos técnicos, centros de pesquisa e comunidade científica se movimentaram de forma intensa nos últimos anos para transformar a COP 30 em legado, não apenas em evento. E essa transformação aparece de forma clara no que passou a ser chamado de economia verde amazônica.>
A expressão, muito repetida após a conferência, ganhou novos significados. Antes, falava-se dela quase como metáfora. Hoje, ela representa um conjunto de atividades que vai do extrativismo sustentável à mineração de baixo impacto, da inovação tecnológica ao beneficiamento avançado de minerais utilizados em energias limpas. É uma economia que tem múltiplas entradas e múltiplos atores, e que transforma a forma como o Brasil e o mundo enxergam a Amazônia.>
O setor mineral foi pressionado, provocado e chamado a participar dessa nova lógica. E aceitou. Empresas passaram a adotar planos de descarbonização mais robustos, ampliar programas de redução de emissões e investir em eletrificação de frotas, incluindo caminhões,>
equipamentos de mina e sistemas de transporte ferroviário. A própria implantação de locomotivas híbridas e elétricas, que antes parecia distante, virou realidade em projetos como o da Estrada de Ferro Carajás.>
Esses avanços foram decisivos para mudar narrativas. Mas o ponto mais importante talvez seja outro: a percepção de que desenvolvimento sustentável não é apenas proteger a floresta, mas garantir que as pessoas que vivem nela tenham acesso a emprego, renda, infraestrutura, mobilidade, saúde e educação. E é justamente nesse ponto que produção e preservação se encontram. Não como polos opostos, mas como partes complementares de um mesmo futuro.>
O ex-ministro e pesquisador de energia Joaquim Leite afirmou recentemente, em um painel sobre transição energética, que “o Brasil tem a maior oportunidade do século: produzir energia limpa, exportar tecnologia verde e oferecer ao mundo minerais essenciais a um planeta mais sustentável”. É um diagnóstico que reforça a posição estratégica do Pará tanto na indústria quanto no debate ambiental.>
Essa visão se alinha ao que especialistas chamam de corredor verde de produção. Um conceito que conecta mineração, siderurgia sustentável, hidrogênio verde, energia solar e transporte de baixa emissão em uma cadeia integrada. E que coloca a Amazônia como base para algo muito maior do que exportação de minério bruto. A ideia agora é exportar valor agregado, tecnologia, inovação e conhecimento.>
O Pará deu os primeiros passos nesse caminho. A crescente aposta em hidrogênio verde, por exemplo, atraiu parcerias internacionais e levantou debates sobre infraestrutura, portos, armazenagem e qualificação técnica. O complexo industrial de Barcarena se tornou referência nacional em estudos de viabilidade para produção de combustíveis limpos, conectando indústria, logística e energia.>
Barcarena, aliás, virou símbolo de transformação produtiva. Nos últimos anos, passou a abrigar empresas de alumínio que implementaram tecnologias avançadas de eficiência energética e programas de economia circular para reaproveitamento de resíduos industriais. Esses movimentos foram reconhecidos por instituições de pesquisa e por organizações multilaterais como sinal de um novo ciclo industrial no estado.>
Esse ambiente de inovação também estimulou novas parcerias acadêmicas. A Universidade Federal do Pará ampliou seus laboratórios dedicados ao estudo de minerais críticos, energias renováveis e impactos socioambientais. A Universidade Federal Rural da Amazônia consolidou um programa multidisciplinar sobre economia verde, enquanto o Instituto Federal do Pará reforçou cursos técnicos voltados para automação, mineração sustentável e tecnologia de processos industriais.>
A ciência amazônica, que historicamente sempre produziu conhecimento sobre a floresta, agora produz conhecimento que dialoga com o mundo energético global. E esse movimento fortalece a ideia de que a Amazônia pode liderar, e não apenas acompanhar.>
Ao mesmo tempo, o setor privado percebeu que investir em inovação não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma vantagem competitiva. Empresas que adotam tecnologias mais limpas reduzem custos, aumentam eficiência e se tornam mais competitivas nos mercados internacionais, especialmente na Europa e na Ásia, onde exigências ambientais são cada vez mais rígidas. Esse cenário favoreceu mineradoras que já investem em redução de emissões, monitoramento ambiental e automação de processos.>
O programa Novo Carajás, por exemplo, não foi construído apenas para manter a produção, mas para reestruturar a lógica de operação. Com investimentos em tecnologia de ponta, sistemas de filtragem, processamento a seco e equipamentos elétricos, o programa se tornou um dos maiores pacotes de modernização mineral do planeta. E consolidou o Pará como referência global em mineração de alta tecnologia.>
Mas talvez o aspecto mais importante seja a mudança de mentalidade. A mineração, que antes era tratada muitas vezes como atividade isolada, passou a enxergar seu papel dentro de um sistema maior. Hoje, ela entende que contribui para a transição energética, para a infraestrutura nacional, para o conhecimento científico, para a formação profissional, para a economia dos municípios e para a transformação social da Amazônia>
Essa mudança ficou clara em diversas falas públicas de lideranças do setor industrial. Em um encontro recente sobre minerais críticos e energia limpa, o engenheiro metalurgista e consultor industrial Pedro França disse: “A indústria mineral não é parte do problema. Ela é parte da solução. Sem ela, não existe energia limpa. Sem ela, não existe carro elétrico, não existe bateria, não existe painel solar. Mas isso só faz sentido quando o desenvolvimento chega para quem vive no território”. A afirmação ecoou entre empresários, pesquisadores e agentes públicos, porque sintetiza com precisão a nova fase do debate>
A consolidação de um novo ciclo econômico no Pará também passa por outro elemento decisivo: a rastreabilidade. A COP30 acelerou uma demanda que já vinha crescendo no mercado internacional, mas que agora se tornou inegociável. Consumidores, investidores e governos estrangeiros querem saber de onde vêm os minerais, como foram extraídos, quais tecnologias foram usadas, quais políticas de segurança foram aplicadas e qual é o impacto real sobre o território.>
O Instituto Escolhas, em uma série de estudos amplamente divulgados nos últimos anos, reforçou a tendência mundial de exigir cadeias produtivas mais transparentes. Esses relatórios ganharam força após a conferência em Belém, e influenciaram diretamente novos modelos de certificação socioambiental que o setor privado passou a adotar. Hoje, empresas que atuam na Amazônia utilizam sistemas de monitoramento 24 horas via satélite, sensores instalados em equipamentos, plataformas de IA capazes de prever riscos e softwares que acompanham licenças, autorizações e relatórios técnicos em tempo real.>
Essas tecnologias não surgiram do nada. São fruto de anos de investimento e de um processo de modernização que ganhou velocidade após a COP30. O engenheiro Cláudio Frischtak, especialista em infraestrutura e um dos consultores mais citados em debates sobre crescimento energético no Brasil, afirmou em entrevista recente que “o Brasil não pode perder a vantagem competitiva de ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo”. E completa dizendo que o avanço da indústria mineral sustentável “é essencial para que o país consolide sua liderança no mercado de tecnologia verde”.>
Essa visão dialoga diretamente com o que vem sendo construído no Pará. O avanço da indústria de alumínio, por exemplo, é frequentemente citado como caso de sucesso pela eficiência energética e pela gradual mudança de suas matrizes operacionais. A modernização de fornos, a adoção de sistemas de reaproveitamento térmico, a redução progressiva da emissão de perfluorcarbonos e o aumento da produção de alumínio de baixo carbono transformaram o estado em referência para o restante do país.>
O uso de energia renovável nesses segmentos também ganhou destaque. Diversas plantas industriais ampliaram o consumo de energia proveniente de fontes hidroelétricas e, mais recentemente, solar. Parcerias internacionais foram firmadas para desenvolver projetos-piloto de hidrogênio verde capazes de abastecer processos industriais, reduzir custos logísticos e abrir espaço para a criação de um corredor exportador voltado exclusivamente para produtos de baixo carbono.>
O setor industrial também tem buscado aproximar-se cada vez mais do debate ambiental, não como imposição, mas como estratégia de competitividade. Em um painel promovido pela Confederação Nacional da Indústria logo após a COP30, a executiva de sustentabilidade Anna Carolina Vieira, referência nacional em gestão ambiental, destacou que “as empresas que liderarem a transição verde serão as mesmas que conquistarão os mercados mais exigentes do mundo”. Essa fala ressoa diretamente no Pará, onde projetos de sustentabilidade deixaram de ser ações isoladas e se tornaram parte do planejamento central de grandes grupos mineradores e metalúrgicos.>
Outro aspecto que ganhou protagonismo é a formação de mão de obra. Não existe transição energética sem pessoas qualificadas para operar novas tecnologias, desenvolver processos mais eficientes e administrar mecanismos complexos de monitoramento. Por isso, empresas intensificaram investimentos em capacitação profissional, firmaram convênios com instituições técnicas e ampliaram programas de formação voltados para jovens dos municípios mineradores.>
Barcarena, Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá se tornaram polos de educação técnica. Cursos de automação industrial, eletromecânica, geoprocessamento, robótica aplicada a equipamentos pesados e análise de dados ambientais se multiplicaram. A criação de laboratórios-escola em parceria com institutos federais e universidades fortaleceu a base de conhecimento local e permitiu que jovens da própria região ocupem, cada vez mais, funções estratégicas na indústria.>
Ao mesmo tempo, há um avanço importante nas parcerias internacionais. A COP30 estimulou diálogos diretos com instituições europeias e asiáticas especializadas em mineração de baixo impacto e economia circular. Delegações de países como Alemanha, Noruega e Canadá visitaram operações no Pará antes e depois da conferência, firmando memorandos de entendimento para troca de tecnologia e para o desenvolvimento conjunto de protocolos de sustentabilidade industrial.>
Essas parcerias ajudam a explicar por que o Pará está no centro do planejamento mineral global. O estado reúne três características raras e estratégicas no século XXI: abundância de minerais críticos, enorme potencial energético e localização privilegiada para escoamento internacional. É uma combinação que transforma a Amazônia não apenas em fornecedora de matéria-prima, mas em protagonista da economia climática mundial.>
Esse protagonismo fica ainda mais evidente quando se observam projetos de economia circular desenvolvidos na região. Empresas passaram a investir no reaproveitamento de resíduos minerais para a fabricação de novos produtos, incluindo materiais para construção civil, insumos industriais, derivados cerâmicos e agregados para pavimentação. Esses processos reduzem o volume de rejeitos, aumentam a eficiência da cadeia produtiva e diminuem a necessidade de novas áreas de disposição.>
A economia circular se tornou um dos grandes pilares do novo ciclo de desenvolvimento amazônico. Isso porque ela conecta tecnologia, eficiência, redução de impacto e geração de valor. E mostra que a indústria pode ser, ao mesmo tempo, produtiva e sustentável.>
Esse movimento de transformação produtiva também se reflete no avanço das pesquisas em minerais críticos. O mundo caminha para uma dependência crescente de insumos como cobre, níquel, manganês, grafite e terras raras. E é justamente no Pará que parte significativa dessas reservas está concentrada. Estudos do Serviço Geológico do Brasil e de universidades federais indicam que o potencial mineral da região ainda está longe de ser totalmente conhecido, especialmente quando se trata de minerais utilizados na produção de baterias, turbinas eólicas e sistemas de transmissão de energia.>
A busca por esses insumos, porém, não se limita ao subsolo. Ela exige inovação contínua, tecnologias de baixo impacto, investimentos em eficiência energética e integração direta com políticas públicas. Como afirmou o pesquisador em transição energética e consultor internacional Marcelo Mena, “a corrida global por minerais críticos exige países que consigam produzir com baixo carbono e alta rastreabilidade”. Essa frase, dita em um simpósio internacional após a COP, poderia facilmente ser uma descrição do caminho que o Pará decidiu trilhar.>
Ao mesmo tempo, a expansão da indústria de transformação no estado representa uma virada histórica. Ao invés de exportar minério bruto, o Pará amplia sua capacidade de produzir metais beneficiados, componentes industriais e até materiais que futuramente podem abastecer fábricas de baterias e eletroeletrônicos. Esse movimento de industrialização é considerado fundamental por especialistas do setor produtivo.>
Em um painel recente sobre competitividade industrial, o economista e pesquisador da FGV Carlos Arruda ressaltou que “o Brasil só ganhará protagonismo global na economia verde se agregar valor aos seus recursos naturais”. A afirmação sintetiza o entendimento de que a Amazônia não pode continuar presa ao modelo extrativista do século passado. O novo ciclo exige tecnologia, inovação, qualificação e planejamento de longo prazo.>
Esse planejamento inclui, cada vez mais, investimentos em descarbonização industrial. A adoção de energia solar em escala, a implantação de linhas de transmissão de alta eficiência, a integração com projetos de hidrogênio verde e a eletrificação progressiva de processos internos criam uma nova matriz industrial no Pará. Mais limpa, mais eficiente e mais competitiva.>
É possível ver esse movimento em diferentes frentes. No setor do alumínio, a adoção de tecnologias que reduzem o consumo energético por tonelada produzida colocou o estado entre os mais eficientes do mundo. No setor de níquel, avanços na filtragem e no processamento diminuíram o uso de água e reduziram volumes de rejeito. No setor de cobre, a automação de plantas e a digitalização dos processos permitiram aumentar a segurança e a precisão das operações industriais.>
Tudo isso acontece enquanto a Amazônia se consolida como vitrine global de inovação climática. Após a COP30, o estado passou a receber delegações estrangeiras, missões empresariais, pesquisadores, jornalistas e organizações internacionais interessados em conhecer os projetos instalados na região. Muitos desses visitantes apontam que o Pará está se tornando um laboratório vivo onde é possível observar, ao mesmo tempo, produção de alta escala, tecnologias verdes, preservação ambiental e desafios sociais complexos.>
Esse é um dos pontos que torna a região tão singular. Não existe outro território no mundo onde coexistam, com tamanha intensidade, uma das maiores florestas tropicais do planeta, uma das maiores províncias minerais do hemisfério sul e uma das mais importantes matrizes energéticas renováveis do continente. É uma combinação que transforma o Pará não apenas em território produtivo, mas em peça-chave da geopolítica climática mundial.>
Mas essa centralidade traz responsabilidades proporcionais. O mundo observa o que acontece aqui. Observa como empresas se relacionam com as comunidades. Observa como governos estruturam sua política industrial. Observa como a ciência é incorporada no processo produtivo. Observa como a Amazônia é tratada. E observa, principalmente, como o país pretende integrar desenvolvimento e preservação em um mesmo projeto nacional.>
Esse desafio é reconhecido por especialistas e lideranças que acompanham a evolução do debate. Em uma conferência internacional, o físico e ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão afirmou que “a Amazônia será o centro das decisões climáticas do século XXI”. A frase, dita de forma categórica, não se refere apenas à floresta, mas também ao modelo econômico que será adotado sobre ela.>
O setor industrial também tem consciência disso. Em um seminário sobre sustentabilidade realizado pela CNI, a engenheira ambiental e diretora de inovação industrial Letícia Costa destacou que “o futuro da produção no Brasil passa, inevitavelmente, pela Amazônia. É aqui que vamos provar que é possível crescer reduzindo emissões, inovando em tecnologias verdes e formando profissionais altamente capacitados”. É uma visão que combina ambição e responsabilidade, e que reflete a maturidade com que a indústria passou a encarar a transição energética.>
A nova economia amazônica não nasceu do nada. Ela é resultado de décadas de pesquisa, investimento e diálogo. Mas a COP30 funcionou como catalisador. Aceleração. Vitrine. Inflação de expectativas. Pressão e oportunidade ao mesmo tempo. E, sobretudo, um lembrete de que a Amazônia não está à margem do debate global. Ela é o centro dele.>
Agora, com o evento encerrado e o mundo observando com mais atenção do que nunca, o Pará vive um momento decisivo. Não basta ter minerais críticos. É preciso saber usá-los como instrumento de transformação. Não basta ter energia limpa. É preciso transformá-la em vantagem estratégica. Não basta ter indústria. É preciso ter indústria tecnológica, inovadora, eficiente e integrada ao território.>
O futuro da Amazônia produtiva será definido pelas decisões tomadas agora. Pelo investimento em tecnologia. Pela formação de jovens. Pela modernização das cadeias produtivas. Pela aproximação entre empresas e comunidades. Pelo rigor científico. Pela transparência. E pela capacidade de mostrar ao mundo que desenvolvimento e floresta podem caminhar lado a lado.>
O novo ciclo da Amazônia mineral não é apenas uma oportunidade econômica. É a chance de construir um modelo de desenvolvimento capaz de inspirar o Brasil e influenciar o planeta. E, depois da COP30, o Pará tem todos os elementos para liderar esse processo com responsabilidade, inovação e visão de futuro.>
Por Elias Felippe>