Pará lança projeto para salvar peixes-bois ameaçados de extinção

Mais de 50 peixes-bois estão em reabilitação no Pará; iniciativa busca garantir sobrevivência da espécie com apoio de instituições como UFPA, Ibama e Museu Goeldi.

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Talytha Reis

Repórter / [email protected]

Publicado em 17 de julho de 2025 às 11:05

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Reprodução Crédito: Agência Pará

O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém, sedia nesta sexta-feira (18), o lançamento oficial do Projeto de Conservação de Peixes-Boi no Estado do Pará. A ação é liderada pelo Instituto Bicho D’Água (IBD), com recursos da empresa TGS e parceria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além do apoio técnico e científico do próprio Museu Goeldi. O projeto surge como resposta à crescente vulnerabilidade do peixe-boi-da-Amazônia, espécie ameaçada de extinção.

A programação do evento começa às 9h, no Auditório Paulo Cavalcante, no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, reunindo representantes da UFPA, Ibama, Cemam, TGS e outros órgãos ligados à preservação ambiental. Durante a manhã, será apresentado o Plano de Ação para a Conservação da Espécie, e à tarde, no Centro de Treinamento da Semas, será detalhado o cronograma de execução do projeto.

Espécie ameaçada

Segundo a bióloga Renata Emin, presidente do Instituto Bicho D’Água e pesquisadora colaboradora do Museu Goeldi, o projeto surgiu diante da situação crítica enfrentada por esses animais "Hoje, mais de 50 peixes-bois estão em processo de reabilitação no Pará e precisam, o quanto antes, retornar à natureza”, explicou Renata Emin.

“A maioria são filhotes órfãos, cujas mães foram caçadas ilegalmente. Apesar das leis de proteção à fauna, a caça ainda ocorre em diversas regiões da Amazônia”, destacou.

Até recentemente, os animais resgatados eram encaminhados principalmente ao ZooUnama, em Santarém, onde está concentrado o maior número de indivíduos em reabilitação no estado. No entanto, segundo Renata, faltavam iniciativas que ampliassem a rede de acolhimento, além de estruturas específicas para a fase de aclimatação – etapa essencial antes da soltura na natureza.

Novas estruturas e reintegração à natureza

Como parte da solução, o Instituto Bicho D’Água, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), construiu o Centro de Reabilitação de Fauna Aquática em Castanhal, voltado ao atendimento de peixes-bois, cetáceos e tartarugas marinhas. Em 2025, o centro já recebeu filhotes encalhados na região do Baixo Amazonas. Após o processo de reabilitação, os animais serão transferidos para um novo recinto de aclimatação em Soure, na Ilha do Marajó, onde passarão pela última fase antes da soltura.

“Após o retorno à natureza, os peixes-bois ainda serão monitorados por cerca de dois anos, com o uso de tecnologias de rastreamento. A ideia é garantir que a reintegração seja bem-sucedida e ajude a preservar a espécie em seu habitat natural”, explicou Renata.

Engajamento comunitário é prioridade

A sensibilização das comunidades tradicionais e ribeirinhas também é um dos pilares do projeto. O Museu Goeldi, segundo Renata, tem papel fundamental nesse aspecto. “Já iniciamos ações educativas, como as realizadas durante as Olimpíadas de Caxiuanã, com visitas guiadas a animais em reabilitação, como o Bacuri. Isso ajuda a criar empatia e a combater a caça predatória, que ainda é uma realidade em algumas regiões do Pará”, afirmou.

Parcerias e cooperação

O projeto conta ainda com o apoio do Ibama – tanto regional quanto nacional –, da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), da Cemam e da empresa patrocinadora TGS. A expectativa é que o esforço conjunto entre órgãos públicos, iniciativa privada e comunidades locais fortaleça a conservação de longo prazo dos peixes-bois na Amazônia.

Há também planos para a formalização de um termo de cooperação técnica entre o Museu Goeldi e o Instituto Bicho D’Água, fortalecendo a parceria que já existe desde 2013, quando o Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia (Gemam) deu origem ao instituto.