'Sem adaptação, mudança do clima torna-se multiplicador da pobreza', diz presidente da COP30

Adaptação não é uma alternativa ao desenvolvimento, é a própria essência do desenvolvimento sustentável em um mundo em mudança climática, afirma o embaixador.

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 09:22

Presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago.
Presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago. Crédito: Felipe Werneck/ Presidência COP30

A Presidência da COP30 apresentou nesta quinta-feira (23) sua oitava carta à comunidade internacional, dedicada ao tema da adaptação climática. O documento convida os países a refletir sobre a adaptação como o próximo passo da evolução humana e ressalta sua importância para proteger vidas e economias em um planeta cada vez mais impactado pela mudança do clima.

Assinada pelo presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago, a carta defende que a adaptação ocupe o centro das estratégias de sobrevivência e estabilidade econômica. “Sem adaptação, a mudança do clima se torna um multiplicador da pobreza, destruindo meios de subsistência, deslocando trabalhadores e aprofundando a fome. À medida que os impactos se intensificam, a inação não representa uma falha técnica, mas uma escolha política sobre quem vive e quem morre”, afirma o embaixador.

A adaptação climática deixou de ser uma escolha que sucede a mitigação, aponta Corrêa do Lago: é a primeira parte de nossa sobrevivência. “Em cada momento decisivo de nossa evolução, nossa espécie conquistou seu lugar neste planeta por meio da adaptação – aprendendo, inovando e transformando as próprias condições da vida. A adaptação sempre exigiu a coragem de abandonar o que já não nos serve, preservando, ao mesmo tempo, aquilo que nos define.”

A carta alerta que a falta de adaptação amplia desigualdades, ameaça empregos e pressiona finanças públicas, sobretudo em países mais vulneráveis. Também ressalta que investir em adaptação é um caminho economicamente vantajoso, capaz de proteger comunidades, reduzir perdas e evitar custos muito maiores no futuro. O texto destaca ainda que recursos públicos são fundamentais para financiar ações de adaptação, especialmente em países com espaço fiscal limitado, e que a ampliação da cooperação internacional é essencial para garantir que o apoio chegue aos países mais vulneráveis.

A Presidência reafirma que a COP30 deve ser lembrada como a COP da implementação e da adaptação. “Em minha primeira carta, mencionei que estamos ingressando em uma era perigosa, na qual os ricos – tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento – se isolam atrás de muros resilientes ao clima, enquanto os pobres permanecem expostos. Um futuro assim deve ser rejeitado de imediato. Ele é antiético, imoral e, em última instância, autodestrutivo, pois corrói a própria cooperação que tornou possível a evolução humana. Ainda assim, já vemos sinais desse cenário distópico emergindo como uma tendência”, escreveu o presidente da COP30.

Para Corrêa do Lago, um grande ponto de inflexão em adaptação na COP30 é “essencial para alinhar o regime de mudança do clima à vida real das pessoas, ao mesmo tempo em que reforça o multilateralismo e acelera a implementação do Acordo de Paris”.

Como afirma o Presidente Lula, a COP30 será a COP da verdade, “na qual seremos postos à prova em nossa capacidade de deixar de lado as diferenças e enfrentar a crise climática como a ameaça existencial que ela representa”, aponta a carta. “A cooperação deve novamente emergir como o princípio organizador da resposta global. Nossa capacidade de implementar os dispositivos sobre adaptação da UNFCCC e do Acordo de Paris por meio de uma cooperação internacional fortalecida determinará se evoluiremos não apenas para sobreviver, mas para nos tornarmos a melhor versão da humanidade – lastreada em dignidade, justiça e solidariedade.”

Em Belém, será necessário renovar a aliança entre a humanidade e a natureza – transformando vulnerabilidade em solidariedade, cooperação em resiliência e adaptação em evolução. “Mudando por escolha, juntos.”