Publicado em 23 de outubro de 2025 às 09:14
Promover a transição energética de forma justa, ordenada e equitativa; triplicar a capacidade de energia renovável; dobrar a taxa média global de eficiência energética; restaurar ecossistemas; reverter a degradação florestal; e acelerar a redução de emissões de metano. Essas foram algumas das principais conclusões do Balanço Global do Acordo de Paris (GST, na sigla em inglês), que analisou a implementação das primeiras Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) e determinou prioridades coletivas a serem avançadas até 2030.>
Com a entrega das novas NDCs em 2025, abre-se uma janela de oportunidade para os países renovarem seus compromissos e ampliarem a ambição de suas metas, incorporando ações concretas aos planejamentos nacionais.>
“A Agenda de Ação deve criar a motivação coletiva para a plena implementação do GST. Deve mobilizar todas as partes interessadas para trabalhar ao lado dos governos em prol de causas globais, como interromper e reverter o desmatamento e a degradação florestal até 2030”, escreveu André Corrêa do Lago, presidente da COP30, em sua quarta carta à comunidade internacional.>
"Também deve apoiar a aceleração da transição energética em todo o mundo, incluindo a triplicação da capacidade global de energia renovável, a duplicação da taxa média anual global de melhorias na eficiência energética até 2030 e a transição para o afastamento dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de maneira justa, ordenada e equitativa”, acrescentou.>
O presidente da COP30 afirmou também que a Agenda de Ação e as NDCs são o “instrumento" da ação climática. "Usando o GST como referência, poderemos transformar a ação climática, passando da cacofonia a uma sinfonia bem orquestrada — na qual as negociações multilaterais dão o tom, e as NDCs e a Agenda de Ação fornecem os instrumentos”, refletiu.>
As NDCs são um detalhamento do que cada país pretende fazer para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C, conforme definido no Acordo de Paris, em 2015. A cada cinco anos esse documento deve ser submetido à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). Neste ano, as 195 partes signatárias do tratado internacional têm a responsabilidade de apresentar suas contribuições. Ao todo, 101 países prometeram entregar suas novas NDCs até a COP30. Até o fechamento desta matéria, 62 NDCs foram depositadas. A progressão pode ser acompanhada pelo site da UNFCCC: https://unfccc.int/ndc-3.0.>
“As NDCs são o mapa do caminho que guiará cada país nessa mudança”, destacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no final de setembro, em chamada global para que todas as partes entreguem seus compromissos até a COP30.>
Ana Toni, CEO da COP30, destacou a articulação brasileira pela entrega dos compromissos nacionais dos países. “Pela primeira vez, uma presidência da COP realizou duas Cúpulas sobre NDCs – uma no início de 2025 e outra na Climate Week em Nova York –, sinalizando o esforço global por compromissos mais ambiciosos e bem estruturados”, disse durante coletiva de imprensa da Pre-COP.>
O Brasil também é co-presidente da NDC Partnership — uma rede global que apoia países na elaboração e implementação de suas NDCs — e tem colaborado com mais de 70 nações para tornar seus compromissos climáticos mais robustos e detalhados. A iniciativa impacta diretamente na qualidade dos compromissos nacionais, que inclui metas setoriais claras, como de energia e agricultura, e planejamento financeiro para a implementação.>
Transição energética no centro das NDCs>
O setor de energia é o que mais emite gases do efeito estufa, que provocam a mudança do clima. “Três quartos das emissões globais de gases de efeito estufa vêm do setor energético. Então, a transição energética é a resposta do mundo para conter o aquecimento global”, avaliou Karen Silverwood-Cope, diretora de Clima, Finanças e Economia da WRI Brasil.>
Nas NDCs entregues até o momento, as soluções para o setor energético estão concentradas, especialmente, nas soluções renováveis. Silverwood-Cope explica que elas estão crescendo no mundo todo.>
“O crescimento das energias renováveis, como eólica e solar, está em expansão e deve continuar. O mesmo ocorre com os biocombustíveis. Além disso, haverá maior demanda por fontes bioenergéticas, como aproveitamento de energia a partir de resíduos sólidos ou biometano”, analisou a especialista da WRI Brasil.>
O relatório Perspectivas Mundiais de Energia, de 2024, produzido pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), destaca um avanço significativo nas NDCs desde a COP28, em Dubai, quando ficou acordado a meta de triplicar o uso de energias renováveis. Antes disso, apenas 14 países incluíam metas explícitas de capacidade renovável em suas NDCs. Atualmente, cerca de 70 países — que juntos respondem por 80% da capacidade global — já alcançam ou superam suas metas de renováveis para 2030.>
Brasil como referência>
O Brasil é um exemplo internacional de energia renovável, pois mais de 90% da matriz elétrica nacional é composta por fontes como usinas hidrelétricas e alternativas que utilizam matéria-prima vegetal.>
“Começamos com as hidrelétricas porque não tínhamos carvão. Não que pensássemos em mudanças do clima nos anos 1960 ou 1970. Depois, partimos para a energia solar e para a eólica”, relembrou Corrêa do Lago, em evento sobre energia renovável na Semana do Clima de Nova York, em setembro.>
Em entrevista ao site da COP30, o embaixador Mauricio Lyrio apontou o protagonismo brasileiro também nos biocombustíveis. De acordo com ele, em outros locais do mundo, não existe a opção de, em postos de combustível, abastecer com etanol - que pode ser produzido, por exemplo, por meio da cana-de-açúcar. Além disso, os carros não são adaptados com a tecnologia “flex”, que permite o uso de combustíveis renováveis.>
Financiamento: elo crítico da transição>
O financiamento climático segue como o principal gargalo. Durante reunião sobre NDCs na Assembleia da ONU, a União Europeia afirmou que continuará sendo o maior financiador global, mobilizando até 300 bilhões de euros para apoiar a transição limpa. Já a China anunciou a sua primeira meta absoluta de redução de emissões.>
Na ocasião, líderes do Sul Global, como Xi Jinping, presidente da China, e William Ruto, presidente do Quênia, defenderam que a transição deve reduzir desigualdades e não aprofundar a distância entre Norte e Sul.>
A presidência da COP30 tem reiterado que o desafio é coletivo. Nenhum país isoladamente poderá fechar a lacuna entre promessas e ações. Por isso, a Agenda de Ação da COP30 busca mobilizar governos, empresas, cidades e sociedade civil para acelerar a implementação do que já foi negociado e acelerar soluções que estejam alinhadas às NDCs e ao Balanço Global.>