Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 12:37
O verão, tradicionalmente associado a lazer e férias, também traz um efeito colateral preocupante para a saúde: o aumento dos casos de acidente vascular cerebral (AVC). De acordo com o neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista Orlando Maia, do Hospital Quali Ipanema, no Rio de Janeiro, fatores comuns nesta estação criam um cenário favorável para o surgimento da doença, considerada uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo.>
O calor excessivo provoca desidratação, mesmo quando não é percebida de forma evidente. Com menos líquidos no organismo, o sangue tende a ficar mais espesso, o que facilita a formação de coágulos, principal causa do AVC isquêmico, tipo mais frequente e responsável por cerca de 80% dos casos. Já o AVC hemorrágico, provocado pelo rompimento de um vaso cerebral, representa uma parcela menor, mas igualmente grave.>
Outro elemento que contribui para o risco é a alteração da pressão arterial durante o verão. As altas temperaturas levam à dilatação dos vasos sanguíneos, o que pode reduzir a pressão e favorecer arritmias cardíacas. Essas alterações no ritmo do coração aumentam a chance de formação de coágulos que podem migrar para o cérebro, destino de aproximadamente 30% do sangue bombeado pelo coração.>
Além dos efeitos fisiológicos, mudanças no comportamento também pesam. Durante férias e períodos de descanso, é comum o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, o esquecimento de medicamentos de uso contínuo e a adoção de hábitos menos saudáveis. O álcool, por exemplo, intensifica a desidratação e eleva o risco de arritmias. Doenças típicas do verão, como gastroenterites, insolação e quadros de diarreia, também agravam a perda de líquidos e contribuem para o problema.>
O tabagismo aparece como outro fator decisivo. Segundo o especialista, a nicotina afeta a elasticidade dos vasos sanguíneos, favorece processos inflamatórios e acelera o acúmulo de placas de colesterol, aumentando tanto o risco de AVC isquêmico quanto hemorrágico. Associado a um estilo de vida moderno e a doenças crônicas mal controladas, o fumo ajuda a explicar o crescimento de casos em pessoas com menos de 45 anos.>
No Hospital Quali Ipanema, o reflexo desse cenário é visível: durante o verão, o número de atendimentos por AVC chega a cerca de 30 por mês, o dobro do registrado em outras épocas do ano. O dado reforça a dimensão do problema. De acordo com Orlando Maia, uma em cada seis pessoas terá um AVC ao longo da vida, o que torna a doença uma preocupação coletiva, não apenas individual.>
Apesar da gravidade, o especialista destaca que o AVC é amplamente prevenível. Manter uma rotina de hidratação adequada, praticar atividade física regular, controlar a pressão arterial, seguir corretamente os tratamentos médicos e evitar o tabaco são medidas fundamentais. O diagnóstico rápido também é decisivo: quanto antes o paciente chega ao hospital, maiores são as chances de recuperação.>
Atualmente, há tratamentos eficazes disponíveis. Em muitos casos, um medicamento intravenoso pode dissolver o coágulo se administrado até quatro horas e meia após o início dos sintomas. Em situações específicas, procedimentos com cateter, introduzido pela virilha para remover o coágulo, podem ser realizados em até 24 horas.>
Reconhecer os sinais é essencial. Paralisia súbita de um lado do corpo, dificuldade para falar, perda de visão, tontura intensa ou desmaio são indícios de emergência médica. Diante de qualquer um desses sintomas, a orientação é clara: procurar atendimento hospitalar imediatamente. No caso do AVC, cada minuto faz diferença.>
Com informações da Agência Brasil.>