Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 09:54
Manter o corpo em movimento por períodos mais prolongados ao longo do dia pode ser um fator determinante para viver mais e melhor. É o que revela um estudo conduzido por pesquisadores da Espanha, que analisou a relação entre a forma como as pessoas caminham diariamente e o risco de morte por doenças cardiovasculares ou câncer.>
A investigação, publicada em outubro na revista Annals of Internal Medicine, acompanhou cerca de 33 mil participantes do UK Biobank, um grande banco de dados de saúde do Reino Unido. No início da pesquisa, os voluntários tinham, em média, 62 anos, caminhavam até 8 mil passos por dia e não apresentavam doenças diagnosticadas.>
Após oito anos de monitoramento, os resultados mostraram que não basta apenas se levantar e dar alguns passos esporádicos ao longo do dia. O impacto positivo na saúde foi significativamente maior entre aqueles que conseguiam manter caminhadas contínuas, especialmente por períodos superiores a 15 minutos.>
Entre os participantes que se movimentavam em trechos muito curtos, com menos de cinco minutos seguidos de caminhada por dia, a taxa de mortalidade chegou a 4,36%. Já no grupo que acumulava períodos mais longos de deslocamento contínuo, esse percentual caiu para 0,84%. O mesmo padrão foi observado na incidência de problemas cardiovasculares, que foi três vezes maior entre os menos ativos.>
Para a cardiologista e médica do esporte Luciana Janot, do Hospital Israelita Albert Einstein, os dados reforçam o que a ciência vem mostrando nos últimos anos. “A quantidade total de passos é fundamental, e algo em torno de 7 mil por dia já traz uma proteção importante. Mas quando parte dessa movimentação acontece em caminhadas mais longas, o ganho para o sistema cardiovascular é ainda maior”, explica.>
Segundo a especialista, a atividade física ideal combina três fatores: volume, constância e tempo contínuo de execução. A intensidade, por outro lado, não precisa ser elevada. “Não é necessário caminhar rápido ou ficar ofegante. Um ritmo confortável, mantido por mais tempo, já é suficiente, especialmente para quem está saindo do sedentarismo”, orienta.>
Os pesquisadores acreditam que o efeito protetor das caminhadas prolongadas está ligado à manutenção do coração em atividade por mais tempo, favorecendo a circulação, a elasticidade das artérias e o controle de processos metabólicos. O médico do esporte Borja Del Pozo Cruz, autor principal do estudo, destaca que esse tipo de exercício estimula mecanismos que não são plenamente ativados em caminhadas muito curtas, como a regulação da glicose e a redução de inflamações.>
A pesquisa também sugere que pensar na duração da atividade pode facilitar a adesão da população a hábitos mais saudáveis. “Medir o tempo em movimento é algo mais simples e intuitivo para muitas pessoas do que contar passos. Além disso, nem todos os passos têm o mesmo valor quando se trata de saúde”, conclui o pesquisador.>
Os dados reforçam que pequenas mudanças na rotina, como reservar alguns minutos contínuos para caminhar diariamente, podem fazer diferença significativa na prevenção de doenças e na qualidade de vida ao longo dos anos.>