Intoxicação por metanol expõe dependência social do álcool

Entenda os impactos do consumo de bebidas alcoólicas na saúde mental e nos vínculos sociais

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 14:48

Episódio do metanol acende alerta sobre a relação com as bebidas alcoólicas (Imagem: PeopleImages | Shutterstock)
Episódio do metanol acende alerta sobre a relação com as bebidas alcoólicas Crédito: Imagem: PeopleImages | Shutterstock

A recente onda de intoxicações por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol no Brasil acende um debate sobre como o álcool ocupa espaço central na vida social do brasileiro. Em diferentes contextos, beber se torna quase um pré-requisito para a sociabilidade: há quem prefira não sair se não houver a possibilidade de beber, e há também quem não consiga estar em grupo sem consumir álcool.

“Há ainda quem decide sair, beber e se colocar em risco. Isso mostra como o hábito está enraizado nos nossos modos de se relacionar e de se divertir”, afirma a psicóloga Laís Mutuberria, especialista em saúde mental e neurociência do comportamento.

Dados oficiais reforçam a preocupação. De acordo com o Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) 2023, levantamento do Ministério da Saúde, o consumo abusivo de álcool nas capitais brasileiras passou de 18,4% em 2021 para 20,8% em 2023. Entre as mulheres, a alta foi de 12,7% para 15,2% no período.

Bebidas alcoólicas, por vezes, são usadas como um caminho para atravessar dificuldades psíquicas e emocionais (Imagem: Viiviien | Shutterstock)
Bebidas alcoólicas, por vezes, são usadas como um caminho para atravessar dificuldades psíquicas e emocionais Crédito: Imagem: Viiviien | Shutterstock

Uso do álcool para atravessar dificuldades

Para Laís Mutuberria, o episódio do metanol deveria servir de alerta sobre a relação com as bebidas alcoólicas. “Muitas pessoas têm dificuldade com a espontaneidade e com a conexão, e o álcool entra aí como uma muleta, um caminho para atravessar dificuldades psíquicas e emocionais”, afirma.

Ela defende que o momento atual estimule uma autoavaliação. “Qual a função do álcool na minha vida? Eu sei estar com meus amigos, sei socializar, sei me divertir e relaxar sem precisar da bebida?”, questiona.

A psicóloga destaca ainda que o consumo recorrente de bebidas alcoólicas pode esconder um ciclo de adoecimento. “Será que o álcool está sendo um alívio para problemas que não estão sendo enfrentados? Por que ele ocupa um papel tão central nas minhas relações ou na minha rotina?”, indaga.

Impactos do consumo no álcool na sociedade

O impacto do consumo de álcool vai além do indivíduo e atinge também as próximas gerações. “Quais modelos de comportamento estamos transmitindo aos jovens? Estamos conscientes do efeito disso sobre a saúde pública e os vínculos sociais?”, questiona a profissional.

Laís Mutuberria conclui que a sociedade precisa repensar os modos de celebração. “É urgente imaginar formas de viver a alegria e a convivência sem depender do álcool. Há muito mais gente alcoólatra do que se tem consciência. Observar essa relação de perto é fundamental”, finaliza.

Por Annete Morhy