Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 12:49
Um fármaco utilizado há décadas para outras finalidades clínicas entrou no radar da ciência como possível aliado no combate aos efeitos do Alzheimer. Pesquisadores da Universidade do Colorado Anschutz, nos Estados Unidos, identificaram que o sargramostim pode interferir em processos biológicos ligados à perda de neurônios, característica central da doença neurodegenerativa. Os resultados foram divulgados na última sexta-feira (19), em artigo publicado na revista Cell Reports Medicine.>
A investigação analisou os efeitos da substância, uma versão sintética do GM-CSF, proteína que estimula o sistema imunológico, em pessoas com Alzheimer. Segundo os cientistas, o uso do medicamento levou à redução de marcadores sanguíneos associados à morte neuronal e também a uma melhora em um dos testes de cognição aplicados durante o ensaio clínico.>
De acordo com Huntington Potter, autor sênior do estudo e diretor do Centro de Alzheimer e Cognição da universidade, as mudanças observadas chamaram atenção por surgirem em um intervalo relativamente curto. Exames de sangue e avaliações cognitivas já indicaram respostas mensuráveis ao tratamento, sugerindo que mesmo após o diagnóstico é possível interferir na progressão da doença.>
Marcadores biológicos e envelhecimento>
Para aprofundar a análise, o grupo também avaliou dados de indivíduos de diferentes faixas etárias. O levantamento mostrou que proteínas liberadas quando neurônios sofrem lesões ou entram em processo de morte aumentam gradualmente ao longo da vida. Entre elas estão a UCH-L1, relacionada diretamente à morte neuronal, e a NfL, associada a danos nas células nervosas.>
Esses marcadores aparecem em níveis baixos nas fases iniciais da vida, mas se elevam com o envelhecimento, alcançando picos por volta dos 85 anos. Em estágios mais avançados, concentrações altas de UCH-L1 estão ligadas a piores desempenhos cognitivos. Os pesquisadores também observaram o crescimento da GFAP, proteína vinculada à inflamação cerebral, a partir dos 40 anos.>
Outro dado que chamou atenção foi a diferença entre os sexos: mulheres apresentaram níveis mais elevados desses marcadores relacionados à idade, embora as causas dessa disparidade ainda não estejam esclarecidas.>
Inflamação como alvo terapêutico>
Os achados reforçam a hipótese de que o declínio cognitivo associado ao envelhecimento e ao Alzheimer envolve processos inflamatórios e a morte progressiva de neurônios. Nesse contexto, o GM-CSF atua estimulando a produção de células do sistema imune na medula óssea e no cérebro, ajudando a modular a inflamação. Em estudos anteriores com modelos animais, o uso da substância já havia demonstrado reversão do declínio cognitivo e redução da morte neuronal em poucas semanas.>
Cautela e próximos passos>
Apesar dos resultados promissores, os próprios autores destacam que as conclusões ainda são iniciais. Não é possível afirmar se o sargramostim é capaz de manter, a longo prazo, a redução da morte neuronal nem se os efeitos dependem do uso contínuo do medicamento.>
Um novo ensaio clínico, mais extenso e com maior número de participantes com Alzheimer leve a moderado, já está em andamento. Até que esses dados sejam concluídos e avaliados por órgãos reguladores, como a FDA, os pesquisadores alertam que o uso do sargramostim deve permanecer restrito às indicações já aprovadas.>