Publicado em 15 de outubro de 2025 às 08:43
Quinze anos após ser preso por um crime que agora se confirma não ter cometido, Francisco Mairlon Barros Aguiar voltou a respirar o ar da liberdade. À meia-noite e vinte desta quarta-feira (15), ele deixou o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, abraçado à família e emocionado, após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidir, por unanimidade, anular sua condenação.>
A decisão histórica foi proferida na terça-feira (14) pelos cinco ministros da Sexta Turma do STJ, que reconheceram falhas graves no processo e determinaram a “soltura imediata” do então réu. Com isso, além da liberdade, o tribunal trancou a ação penal desde o início, o que significa que Mairlon não é mais considerado nem condenado, nem réu pelo caso.>
A anulação ocorreu após um pedido apresentado pela ONG Innocence Project, organização internacional que atua na revisão de condenações injustas. A defesa, liderada pela advogada Dora Cavalcanti, sustentou que os depoimentos usados para incriminar Mairlon foram colhidos sob pressão e em condições que feriram o direito à ampla defesa. Segundo ela, o jovem de 22 anos foi submetido a longas horas de interrogatório, sem descanso adequado, até ser levado a “confessar” algo que nunca fizera.>
“Mairlon foi quebrado psicologicamente. Ele nunca admitiu ter entrado no apartamento, nem ter cometido as facadas. Foi tratado como réu confesso por puro abuso de autoridade”, afirmou Dora durante o julgamento.>
O ministro Sebastião Reis Júnior, relator do caso, destacou em seu voto que as provas e depoimentos utilizados no julgamento original apresentavam “vícios insanáveis”, obtidos de forma irregular e sem respeito ao contraditório. Os demais ministros acompanharam o voto, em decisão unânime.>
Mairlon foi condenado em 2010 a 55 anos de prisão, pena reduzida para 47 anos em segunda instância. Na época, ele vivia em Novo Gama (GO) e foi apontado como um dos executores do chamado “Crime da 113 Sul”, ocorrido em 28 de agosto de 2009, quando o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, sua esposa Maria Carvalho Villela, e a empregada Francisca Nascimento da Silva foram brutalmente assassinados a facadas no apartamento da família, em uma das áreas mais nobres de Brasília.>
Além das mortes, o crime também envolveu o roubo de dólares e joias da residência. À época, a brutalidade do caso chocou o país e gerou intensa pressão por respostas rápidas, fator que, segundo a defesa, contribuiu para uma investigação marcada por falhas e precipitações.>
Na saída do presídio, já como um homem livre aos 37 anos, Francisco Mairlon se limitou a agradecer:>
“Foram 15 anos esperando por justiça. Agradeço a Deus, à minha família, aos meus advogados e aos ministros que acreditaram na minha inocência. Hoje, nasci de novo.”>
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal foi comunicado da decisão e repassou a ordem de soltura à Vara de Execuções Penais, que cumpriu o despacho ainda na madrugada. O Ministério Público do Distrito Federal ainda pode recorrer, mas a decisão unânime do STJ reforça o entendimento de que a condenação foi injusta e deve ser definitivamente anulada.>
Enquanto isso, o caso de Francisco Mairlon reacende o debate sobre os erros judiciais e a necessidade de garantir que a busca por culpados não atropelhe os direitos fundamentais. A própria ONG Innocence Project, responsável pela reversão da sentença, afirmou que continuará atuando para que outros inocentes, como ele, possam ter a chance de recomeçar.>