Publicado em 22 de junho de 2025 às 08:45
Um beijo pode significar mais do que afeto, ele também pode carregar microrganismos capazes de afetar a saúde mental. Um estudo recente trouxe uma descoberta instigante: a troca de bactérias orais entre casais pode influenciar diretamente níveis de depressão, ansiedade e distúrbios do sono.>
A pesquisa foi conduzida com casais recém-casados em Teerã, no Irã, e publicada na revista científica Exploratory Research and Hypothesis in Medicine. Liderado pelo pesquisador Reza Rastmanesh, o estudo acompanhou 1.740 casais e focou em um grupo menor, com 268 duplas, que foram observadas ao longo de seis meses.>
O que o estudo descobriu?>
Os casais foram divididos em dois grupos:>
• Um grupo com cônjuges emocionalmente saudáveis;>
• Outro com pelo menos um parceiro diagnosticado com sintomas de depressão, ansiedade e insônia, um perfil chamado de “fenótipo depressão-ansiedade”.>
Ao final de seis meses, os pesquisadores perceberam algo surpreendente: os cônjuges inicialmente saudáveis começaram a apresentar sinais claros de piora emocional, incluindo aumento nos níveis de estresse, distúrbios do sono e sintomas depressivos.>
Mais do que isso, as análises de saliva mostraram que o microbioma oral (as bactérias presentes na boca) desses parceiros passou a se parecer com o dos cônjuges deprimidos. Ou seja: eles estavam, literalmente, compartilhando o estado emocional através das bactérias.>
O papel das bactérias na saúde mental>
O estudo identificou que microrganismos como Clostridia, Veillonella, Bacillus e Lachnospiraceae, que já foram associados a transtornos mentais, se tornaram mais frequentes na saliva dos parceiros que, inicialmente, não tinham sintomas.>
Uma bactéria em particular, a Dialister, chamou atenção por estar mais presente nas mulheres que desenvolveram sintomas emocionais. Isso indica que o impacto microbiano pode afetar homens e mulheres de forma diferente, e elas parecem ser mais sensíveis.>
Outro ponto importante foi a medição dos níveis de cortisol, hormônio ligado ao estresse. No início da pesquisa, os casais saudáveis apresentavam níveis normais. Mas, com o tempo, esses índices subiram, principalmente entre as mulheres, chegando a dobrar em alguns casos.>
Como acontece a transmissão?>
A troca de bactérias entre parceiros acontece em situações comuns da convivência íntima: beijos, compartilhar talheres ou copos, dormir juntos e até mesmo pela respiração próxima. Esse fenômeno é conhecido como “convergência microbiana”.>
Os pesquisadores utilizaram técnicas de sequenciamento de DNA para comprovar que o microbioma oral dos parceiros saudáveis começou a se tornar semelhante ao dos companheiros com transtornos mentais.>
Segundo o estudo, isso é facilitado pela proximidade emocional, não só física. Casais que têm vínculos fortes tendem a sincronizar não apenas comportamentos, mas também seus sistemas biológicos.>
“O microbioma oral interage com o cérebro por meio de um eixo de comunicação, afetando áreas relacionadas ao humor, ao sono e à ansiedade”, explicam os autores.>
O que isso muda na forma de entender a saúde mental?>
A descoberta reforça a ideia de que a saúde emocional não é algo isolado, especialmente em relacionamentos íntimos. Estar ao lado de alguém emocionalmente abalado, dia após dia, pode afetar mais do que o psicológico: pode alterar o corpo e a química cerebral de quem convive com a pessoa.>
Apesar dos resultados promissores, o estudo apresenta limitações. Por exemplo, as coletas de saliva foram feitas em apenas um horário do dia e não consideraram mudanças de hábitos alimentares. Além disso, os sintomas de saúde mental foram autoavaliados pelos participantes.>
Ainda assim, os dados são consistentes com pesquisas anteriores em animais. Estudos com camundongos mostraram que a transferência de bactérias intestinais de indivíduos deprimidos pode causar comportamentos semelhantes em indivíduos saudáveis.>
Novas possibilidades para o futuro>
Essas descobertas abrem caminho para novas formas de tratamento e prevenção. O uso de probióticos, por exemplo, pode vir a ser uma ferramenta não apenas individual, mas aplicada a casais e famílias como forma de manter a saúde mental coletiva.>
“Casais compartilham não só a vida, mas também o estado biológico. Cuidar da saúde de um pode ser fundamental para proteger o outro”, conclui o autor do estudo.>
Com informações do R7>