Publicado em 21 de junho de 2025 às 18:12
As infecções por HIV têm crescido no Brasil, segundo um estudo realizado em Porto Alegre (RS), constatando que a prevalência de pessoas detectadas com o HIV ultrapassou em 64% os limites da Organização Mundial da Saúde (OMS). Este número acendeu um alerta sobre o risco de uma epidemia silenciosa desta e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estarem se desenrolando no país.>
Os dados mais recentes trazem um histórico com informações de 2021, 2022 e 2023, e são compilados a partir da população que busca atendimento de saúde, o que pode levar à subnotificação de casos. Uma grande parcela da população pode estar com a doença se desenvolvendo de forma silenciosa em níveis ainda maiores.>
No estudo divulgado pelo Hospital Moinhos de Vento, a metodologia foi outra. Os pesquisadores testaram ativamente uma parcela da população para avaliar a incidência das ISTs. É o primeiro estudo de sorologia realizado em alta escala no Brasil.>
No caso do HIV, a taxa de prevalência na população gaúcha foi estimada em 1,64%, acima do limite de 1% estabelecido pela OMS para apontar que a epidemia está controlada. Níveis acima deste indicam epidemia generalizada.>
Epidemia ganha contornos silenciosos>
A pesquisa testou 8.006 pessoas. Foram confirmados 81 casos de HIV, 558 de sífilis, 26 de hepatite B e 56 de hepatite C. Embora a testagem tenha se concentrado no Rio Grande do Sul, os pesquisadores consideram os resultados um sinal de alerta nacional.>
O estudo foi conduzido pela médica epidemiologista Eliana Wendland, do Hospital Moinhos de Vento. Ela destaca que a taxa alta de prevalência é um sinal de alerta para este inimigo silencioso.>
“Estes dados mostram que estamos diante de uma epidemia generalizada. Quando olhamos para quem tem maior probabilidade de contrair o vírus, esse risco está mais associado a determinadas vulnerabilidades sociais. Estamos falando, por exemplo, de pessoas negras ou pardas, com menor renda e escolaridade, e que geralmente estão na faixa dos 30 aos 59 anos”, afirma.>
Números oficiais do HIV apontam tendência>
Entre 2007 e 2024, foram notificados mais de 540 mil casos de pessoas com HIV no Brasil. A maioria (70%) dos infectados são homens.>
O HIV pode permanecer anos no organismo sem causar sintomas. Sem diagnóstico, o vírus continua a ser transmitido, dificultando o controle. A infecção compromete o sistema imunológico e pode evoluir para aids, condição que deixa o corpo vulnerável a infecções e cânceres.>
Quando identificado precocemente, o HIV é controlável com o uso contínuo de antirretrovirais que impedem a progressão para a aids. Quando a carga viral chega a níveis indetectáveis, não há risco de transmissão.>
“O estigma é um dos principais entraves ao diagnóstico. Muitas pessoas evitam buscar testagem por medo ou vergonha. Isso dificulta o acesso ao tratamento e mantém a cadeia de infecção ativa, especialmente entre grupos mais vulneráveis”, alerta Wendland.>
Diferença entre HIV e Aids>
• O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um microrganismo que ataca o sistema imunológico. Quando não é tratado, ele pode evoluir para a aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), que representa o estágio mais avançado da infecção pelo HIV.>
• Embora não exista a cura para a aids, o tratamento antirretroviral pode controlar a infecção, permitindo que pessoas vivendo com HIV tenham uma vida longa e saudável.>
• O tratamento correto pode fazer com que o paciente atinja a carga viral indetectável para o HIV, ou seja, tão baixa que não pode ser detectada por testes padrão. Nesse caso, a pessoa também não transmite o vírus.>
• O HIV é transmitido principalmente através de fluidos corporais específicos, durante o sexo sem proteção, compartilhamento de seringas e de mãe para filho durante o parto, quando não for bem assistido.>
• Beijos, suor, ou qualquer outra forma de contato íntimo, incluindo o sexo feito com preservativo, não transmite o HIV.>
• O SUS disponibiliza testes rápidos para o HIV e também o tratamento preventivo com a profilaxia pré-exposição (PrEP), com o uso de um remédio diário. Procure um serviço de saúde e informe-se para saber se você tem indicação para PrEP.>
Ministério da Saúde>
O cenário apresentado pela pesquisa feita no Rio Grande do Sul, sobre os riscos de uma epidemia, levanta dúvidas sobre o estado da questão no restante do país. O Ministério da Saúde foi procurado para falar sobre a prevalência da doença em outros estados do país, mas emitiu uma nota que não respondeu aos questionamentos.>
A nota enviada pela pasta detalha apenas as boas ações neste sentido, incluindo o recente pedido de certificação de fim da transmissão vertical do HIV (de mãe para o bebê) e do número de pessoas que consegue tratamento após o diagnóstico (96%, taxa acima dos 95% recomendados pela OMS).>
“Cabe ainda destacar que as ações da pasta são voltadas à população em geral, com foco ampliado em populações-chave — como gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans, profissionais do sexo e usuários de álcool e outras drogas — onde a prevalência é consideravelmente maior”, defendeu.>