Publicado em 12 de junho de 2025 às 15:36
Em visita à cidade histórica de Mariana na manhã desta quinta-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) protagonizou um momento de defesa ao prefeito Juliano Duarte (PSB), vaiado por parte do público durante seu discurso sobre os impactos do rompimento da barragem de Fundão. O presidente pediu respeito à autoridade local e reforçou o caráter histórico do evento, que marcou o avanço do Novo Acordo Rio Doce, formalizado no ano passado para reparar os danos da tragédia.>
“Esse momento é histórico para Mariana e para Minas Gerais. Quando a campanha começar, cada um faz a sua parte, mas hoje não. Hoje ele [o prefeito] é nosso convidado. Não tem sentido um presidente convidar uma autoridade e ela ser mal recebida”, disse Lula, ao intervir diretamente diante das manifestações de hostilidade.>
Juliano Duarte agradeceu o gesto do presidente e retomou sua fala destacando o simbolismo da presença do chefe do Executivo federal no município. “Desde 5 de novembro de 2015, nenhum presidente pisou em Mariana. Hoje, vossa excelência volta para celebrar esse acordo. Foi o maior crime ambiental do mundo, e isso precisa ser documentado”, afirmou.>
Durante o evento, Lula reforçou o compromisso do governo federal com a efetivação das medidas de reparação. “Nós trouxemos esse acordo para as nossas costas. Enquanto era a Vale que não cumpria, era fácil culpar a Vale. Agora, a responsabilidade é nossa. Não temos mais desculpas, agora as coisas têm que acontecer”, declarou, ao lado da primeira-dama, Janja da Silva, a quem entregou flores momentos antes de discursar.>
Acordo de Mariana: uma resposta tardia>
O novo pacto, assinado em outubro de 2024, acontece às vésperas de o desastre completar nove anos. O rompimento da barragem de Fundão, operada pela Samarco, controlada pela Vale e pela BHP, despejou cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, afetando 49 municípios de Minas Gerais ao Espírito Santo, deixando 19 mortos e destruindo comunidades inteiras ao longo da bacia do Rio Doce.>
Embora um primeiro acordo tenha sido firmado em 2016, as medidas previstas não foram suficientes. A Fundação Renova, criada para conduzir as ações de reparação, é alvo de críticas por parte de atingidos, instituições de Justiça e ambientalistas, que denunciam lentidão nos reassentamentos, falhas na compensação financeira e ausência de recuperação efetiva do meio ambiente.>
Mais de 100 famílias ainda vivem em situação provisória, quase uma década após perderem suas casas. O novo acordo, mediado pelo Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), busca romper o ciclo de promessas não cumpridas e garantir maior controle público e agilidade nos processos de indenização, reconstrução e restauração ambiental.>
A visita de Lula a Mariana sela um novo capítulo na luta por justiça socioambiental no Brasil, ao mesmo tempo, em que coloca o governo federal na linha de frente da cobrança por resultados. A cidade mineira, marcada pela dor e pela espera, agora volta a ser centro das atenções, com a esperança de que, desta vez, a reparação não fique apenas no papel.>