PM adquire obras por R$ 18 mil e dispara debate sobre arte e verba pública

A compra, sem licitação, de duas peças de “arte de trincheira” por parte da Polícia Militar do Distrito Federal destina-se à sua Academia e Banda de Música.

Publicado em 20 de outubro de 2025 às 11:12

PM adquire obras por R$ 18 mil e dispara debate sobre arte e verba pública
PM adquire obras por R$ 18 mil e dispara debate sobre arte e verba pública Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Em meio a cortes e debates sobre financiamento da segurança pública, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) autorizou a compra de duas obras de arte no valor total de R$ 18,6 mil, sem licitação, atribuídas à Academia de Polícia Militar de Brasília (APMB) e à sua Banda de Música. O documento de compra foi assinado por Marcos Xavier da Silva, chefe do Departamento de Logística e Finanças da corporação.

A contratação e o estilo artístico

A aquisição foi feita com base na modalidade de inexigibilidade de licitação, conforme a Lei 14.133/2021, aplicável em casos de profissional de notória especialização, no caso, o artista Rodrigo Gonçalves Camacho, conhecido nacionalmente por suas esculturas realizadas a partir de cartuchos de arma, e que já apresentou trabalhos com forte conotação político-militar.

O material oficial menciona apenas “obras em estilo arte de trincheira” como destinatárias da corporação, sem detalhar as peças ou critérios de escolha.

Contexto e controvérsia

Segundo a justificativa oficial da PMDF, a ação busca “fortalecer a identidade institucional” e “valorizar o patrimônio histórico-cultural” da instituição. Contudo, críticos apontam que, em um cenário de restrições orçamentárias, a escolha do investimento pode levantar dúvidas sobre prioridades e transparência.

Além disso, o estilo artístico contratado, arte de trincheira, que tradicionalmente utiliza materiais bélicos ou referências a conflito, ao combinar com obras do artista Camacho, reconhecido por homenagens ao ex-presidente Jair Bolsonaro, provoca questionamentos sobre a linha entre arte, poder institucional e ideologia pública.

O artista e seus vínculos

Rodrigo Gonçalves Camacho já ganhou notoriedade ao entregar ao então presidente Jair Bolsonaro, em 2018, uma escultura feita com cartuchos de munição que formavam o mapa do Brasil e, à primeira vista, também o rosto do político. Sua produção costuma reunir estética militar, materiais bélicos reaproveitados e simbolismo nacionalista, fatores que geram tanto aplausos quanto controvérsias.

O que está em jogo

• Transparência no uso de verbas públicas para cultura ou investimento institucional.

• Critérios para contratação direta por inexigibilidade, especialmente quando o artista tem ligações simbólicas ou ideológicas visíveis.

• O papel da arte institucional como instrumento de comunicação, identidade e simbologia diante de corporações de segurança.

• A escolha entre investimentos em patrimônios materiais ou culturais em ambientes com restrições orçamentárias.