Polícia Civil avança contra núcleo financeiro do CV em operação com alcance nacional

Nova fase da Operação mira esquema de lavagem de dinheiro, bloqueia até R$ 600 milhões e cumpre ordens judiciais em três estados.

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 08:20

Polícia Civil avança contra núcleo financeiro do CV em operação com alcance nacional
Polícia Civil avança contra núcleo financeiro do CV em operação com alcance nacional Crédito: Reprodução/PCRJ

Uma ofensiva coordenada da Polícia Civil ampliou, nesta terça-feira (16), o cerco às engrenagens financeiras do Comando Vermelho. A nova etapa da Operação Contenção foi deflagrada simultaneamente no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em Mato Grosso, para desmontar um esquema interestadual de lavagem de dinheiro ligado à facção criminosa.

Conduzida pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), com apoio da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), a ação cumpre mandados de busca e apreensão, determina o bloqueio de contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas e autoriza o sequestro de bens. A Justiça também analisou pedido para congelamento de cerca de R$ 600 milhões suspeitos de origem ilícita.

As diligências se concentram em diferentes pontos da capital fluminense, na Baixada Fluminense e no município de Silva Jardim, além das cidades de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e Pontes e Lacerda, no interior do Mato Grosso. A operação mobiliza ainda equipes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), unidades do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE) e policiais civis dos estados envolvidos, com suporte técnico do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (Cifra).

As investigações apontam que o esquema funcionava de forma estruturada para receber, ocultar e reinserir no sistema financeiro recursos provenientes de atividades criminosas. Segundo a Polícia Civil, Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, e Carlos da Costa Neves, o “Gardenal”, são apontados como figuras centrais na coordenação desse fluxo de dinheiro, utilizando empresas e terceiros para mascarar a origem dos valores.

Relatórios de Inteligência Financeira revelaram movimentações incompatíveis com a renda declarada dos investigados. As contas analisadas operavam como verdadeiros centros de redistribuição de recursos, com altos volumes de entrada e saída. Parte das transações era realizada por meio de depósitos em dinheiro vivo, fracionados e feitos em diferentes agências bancárias, prática típica de esquemas de lavagem de dinheiro, executada por intermediários conhecidos como “mulas financeiras”.

O mapeamento financeiro também identificou Pontes e Lacerda (MT) como um dos principais polos de concentração dos recursos, estratégia usada para afastar a circulação do dinheiro das áreas mais visadas pelas forças de segurança e pelo combate ao tráfico de drogas.

Além do bloqueio de valores, a Justiça autorizou o sequestro de bens considerados incompatíveis com a renda declarada, incluindo imóveis urbanos e uma propriedade rural localizada em Mato Grosso. Documentos, mídias digitais, veículos e outros materiais apreendidos devem aprofundar a análise sobre a extensão do esquema e suas ramificações.

De acordo com a Polícia Civil, a Operação Contenção integra uma estratégia contínua de enfraquecimento das estruturas financeira, logística e operacional da facção. Desde o início da ofensiva, a corporação contabiliza mais de 250 prisões, 136 mortes em confrontos, a apreensão de cerca de 460 armas, entre elas 189 fuzis, e mais de 50 mil munições, em ações voltadas a reduzir o poder econômico e armado do grupo criminoso.