Trabalho por aplicativo cresce no Brasil, mas renda por hora é menor e jornadas são mais longas

Embora representem apenas 1,9% dos trabalhadores do setor privado, os chamados “plataformizados” já são 400 mil a mais do que no fim de 2022.

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 16:30

Embora representem apenas 1,9% dos trabalhadores do setor privado, os chamados “plataformizados” já são 400 mil a mais do que no fim de 2022.
Embora representem apenas 1,9% dos trabalhadores do setor privado, os chamados “plataformizados” já são 400 mil a mais do que no fim de 2022. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O número de brasileiros que têm os aplicativos como principal fonte de renda continua crescendo. No terceiro trimestre de 2024, cerca de 1,7 milhão de pessoas trabalhavam por meio de plataformas digitais, como transporte, entregas e serviços gerais, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (17) pelo IBGE.

Embora representem apenas 1,9% dos trabalhadores do setor privado, os chamados “plataformizados” já são 400 mil a mais do que no fim de 2022. O levantamento faz parte da Pnad Contínua, em parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho.

O estudo mostra um cenário de expansão desse tipo de trabalho, mas também revela desigualdades: jornadas mais longas, rendimento por hora menor e forte concentração em atividades como transporte e entrega.

Aplicativos de transporte dominam

Mais da metade dos trabalhadores (53,1%) usa aplicativos de transporte particular, como motoristas de aplicativo. Outros 29,3% trabalham com entregas de comida e produtos, 17,8% em serviços gerais ou profissionais e 13,8% em plataformas voltadas a taxistas.

Somando motoristas de aplicativos e taxistas, o total chega a 964 mil pessoas, 58,3% de todos os trabalhadores que dependem dessas plataformas para viver.

Entre 2022 e 2024, todas as categorias cresceram, mas o destaque ficou com os aplicativos de serviços gerais, que registraram alta de 52,1% no período.

Homens jovens e com ensino médio são maioria

O perfil traçado pelo IBGE mostra que o trabalho por aplicativo no Brasil tem rosto e idade: 83,9% são homens, e quase metade (47,3%) tem entre 25 e 39 anos.

A maioria (59,3%) possui ensino médio completo ou superior incompleto. Apenas 16,6% têm diploma universitário, e 9,3% não concluíram o ensino fundamental.

Mais horas, menos valor por hora

Os trabalhadores plataformizados ganham, em média, R$ 15,40 por hora, valor 8,3% menor que o dos demais trabalhadores do setor privado (R$ 16,80).

Essa diferença se explica, em parte, pela jornada mais longa: quem vive de aplicativos trabalha 44,8 horas por semana, quase seis horas a mais do que os demais ocupados (39,3 horas).

Apesar disso, o rendimento mensal médio dos trabalhadores por aplicativo foi R$ 2.996 em 2024, um pouco acima da média dos demais empregados (R$ 2.875). A diferença, no entanto, está ligada ao tempo extra de trabalho, e não a melhores condições ou remunerações.

Crescimento desacelera e desigualdade aumenta

O ganho médio dos plataformizados cresceu apenas 1,2% entre 2022 e 2024, contra 6,2% dos demais trabalhadores. Dois anos atrás, os que viviam de aplicativos ganhavam 9,4% a mais que os outros; hoje, essa vantagem praticamente desapareceu.

A renda também varia conforme o nível de escolaridade. Entre quem tem menos estudo, o trabalho por aplicativo ainda rende melhor: até 40% a mais do que em outras ocupações. Já entre os que têm ensino superior, ocorre o oposto — os trabalhadores por app recebem quase 30% a menos.

Para o analista do IBGE Gustavo Geaquinto Fontes, isso se explica pela natureza das ocupações:

“Entre os plataformizados com menor escolaridade, 80% atuam como condutores de moto ou carro. Já os que têm nível superior, muitas vezes, também trabalham como motoristas, em funções abaixo da sua qualificação. Isso ajuda a entender o rendimento menor”, explica.

Trabalho em expansão, mas sem estabilidade

O avanço dos aplicativos como principal fonte de renda mostra uma mudança estrutural no mercado de trabalho brasileiro, marcada pela busca por flexibilidade, mas também pela falta de proteção trabalhista e pela pressão por longas jornadas.

Em meio ao aumento do desemprego formal e da informalidade, o trabalho por aplicativo vem se consolidando como alternativa de sobrevivência, e não necessariamente de escolha.

Com informações do G1