Vídeo: pastor é alvo de denúncias após revelar ameaças a pessoas em situação de rua

Ele afirmou que, em atuação própria, “expulsava” pessoas e situação de rua de praças da cidade com ameaças explícitas de morte.

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Silmara Lima

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Publicado em 13 de setembro de 2025 às 14:31

Pastor de Minas Gerais é alvo de denúncias após revelar ameaças a pessoas em situação de rua.
Pastor de Minas Gerais é alvo de denúncias após revelar ameaças a pessoas em situação de rua. Crédito: Reprodução/Redes Sociais

O pastor Wilson Botelho se tornou alvo de denúncias após fazer declarações que geraram repercussão e mobilização política e jurídica, durante uma audiência pública realizada em 4 de setembro na Câmara Municipal de Divinópolis, município localizado em Minas Gerais.

Em meio a discussões sobre a situação das pessoas em situação de rua, ele afirmou que, em atuação própria, “expulsava” pessoas e situação de rua de praças da cidade com ameaças explícitas de morte. 

Segundo relato do pastor, divulgados pela imprensa, ele atuava acompanhado de cerca de dez homens, com apoio de um coronel da Polícia Militar, embora não tenha identificado formalmente o oficial, ele conta que ameaçavam as pessoas.

“Você vai embora agora. Se atravessar aquela ponte, amanhã às 4h da tarde eu vou fazer seu sepultamento. É só eu dar a ligada aqui e você vai tomar dois tiros na cabeça.”

Além disso, ele disse que atuava há três anos e meio em praça pública (Praça Candidés), de onde teria removido mais de 300 pessoas em situação de rua, “limpando” o espaço com a ajuda desses apoiadores. Ele também usou termos depreciativos, referindo-se às pessoas em situação de rua como “vagabundos” e “pilantras” e justificou que não via obrigação de fornecer comida se não houvesse uma “solução definitiva” por parte do poder público.

Repercussão institucional e ações em curso

As declarações provocaram indignação de parlamentares, autoridades de direitos humanos e da sociedade civil. Entre as providências:

• O vereador Vítor Costa (PT) manifestou repúdio, classificando as falas como “inadmissíveis”, “perversas” e “criminosas”, e cobrando um posicionamento da secretaria de Assistência Social.

• A deputada estadual Lohanna França (PV) protocolou representação no Ministério Público de Minas Gerais e nos Ministérios do Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, pedindo investigação das falas, apontadas como violentas, discriminatórias e ameaçadoras.

• A Câmara Municipal de Divinópolis emitiu nota de repúdio, afirmando que as declarações são “inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática e com o dever de proteção à dignidade humana”. Também solicitou que os órgãos competentes tomem providências legais cabíveis, inclusive para responsabilizações penais e administrativas.

Questões legais e éticas envolvidas

Os discursos de ameaça de morte configuram potencial crime de ameaça, injúria e incitação à violência, dependendo da interpretação judicial. Há também implicações quanto à responsabilidade do Estado — uma vez que ele pode estar sendo indiretamente citado ou envolvido nas falas do pastor, ao se afirmar que houve apoio de membro da Polícia Militar.

Do ponto de vista ético, o uso de linguagem desumanizante e o incentivo a práticas coercitivas ou de expulsão arbitrária vão contra princípios constitucionais de dignidade da pessoa humana, igualdade, e proteção das populações vulneráveis.

Panorama mais amplo

O episódio se insere em debates mais amplos no Brasil sobre políticas públicas para pessoas em situação de rua, assistência social, segurança, direitos humanos e limites das intervenções civis ou religiosas em espaços públicos. Em Divinópolis, há tensão também em razão de afirmações do poder executivo municipal de que pessoas em vulnerabilidade viriam de cidades vizinhas e que essas pessoas “não seriam atendidas”.

Estado atual e próximos passos

Até o momento, não consta resposta oficial do pastor Wilson Botelho sobre os pedidos de esclarecimento, e não foi identificado publicamente qual coronel teria concedido o suposto aval. A investigação pelo Ministério Público de Minas Gerais será central para apurar se houve materialidade dos atos, sua tipificação criminal, e a responsabilização de eventuais agentes públicos ou privados envolvidos. Também será importante apurar se houve omissão ou conivência por parte dos vereadores e do município.