Barco centenário encontrado na Nova Doca passa por vistoria final antes de ser exibido

Barco de 22 metros, associado ao Ciclo da Borracha, deve revelar novas informações sobre a formação urbana e econômica de Belém

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 18:46

A embarcação encontrada durante as obras do Parque Linear da Nova Doca, em Belém, passa nesta semana por uma vistoria detalhada
A embarcação encontrada durante as obras do Parque Linear da Nova Doca, em Belém, passa nesta semana por uma vistoria detalhada Crédito: Ascom

A embarcação encontrada durante as obras do Parque Linear da Nova Doca, em Belém, passa nesta semana por uma vistoria detalhada. O processo busca identificar possíveis ajustes após a restauração completa, concluída em julho, e antecede a futura exposição da peça ao público.

A embarcação, de cerca de 22 metros de comprimento, foi localizada a apenas um metro de profundidade e retirada em três etapas entre 2024 e janeiro deste ano. Desde então, passou por um processo de conservação no laboratório montado ao lado do Porto Futuro I, onde ficará disponível para visitação.

O trabalho de restauração começou em fevereiro e envolveu uma equipe multidisciplinar formada por arquitetos, engenheiros, arqueólogos, museólogos e conservadores-restauradores. Diversos testes foram realizados para definir as melhores estratégias de preservação da peça, considerada um dos mais importantes achados arqueológicos recentes da capital paraense.

Segundo a arquiteta Tainá Arruda, responsável pela conservação, a maior dificuldade foi lidar com a fragilidade do casco metálico, deteriorado após anos soterrado em ambiente úmido. “É necessária muita delicadeza, porque o material ficou vulnerável com a exposição ao ar. Outro desafio foi montar uma estrutura elevada para sustentar o barco, devido ao peso”, explicou.

Associada ao período do Ciclo da Borracha, a embarcação é vista como peça-chave para compreender a história econômica e social da região. Nesse período, barcos de casco metálico conectavam Belém a seringais e cidades ribeirinhas, transportando borracha, cacau, castanha e madeira, fundamentais para o crescimento da Amazônia no século XIX e início do XX.

Além do barco, as escavações no local revelaram fragmentos de louças e garrafas, datados entre 200 e 300 anos. Esses artefatos integram o conjunto de registros enviados ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ajudam a reconstruir aspectos da vida urbana nos períodos da colonização, Império e República.

Para os pesquisadores, o achado permite refletir sobre a transformação da relação da cidade com seus rios e igarapés, antes usados como vias de circulação. Hoje, a área da descoberta é um bairro comercial e residencial, mas no passado foi um entreposto estratégico para a economia local.

Com 60% das pesquisas concluídas, a expectativa é que a exposição da embarcação ajude a valorizar a memória da cidade e a aproximar a população da sua própria história.

Elias Felippe (Estagiário sob supervisão de Cássio Leal, editor-chefe da tarde).