Belém ganha teto de crochê no Ver-o-Peso

Teto de 70 metros, feito por mais de 250 artesãs do movimento Ver-a-Arte, transforma a Travessa Ocidental do Ver-o-Peso em galeria de crochê, renda e resistência feminina.

Publicado em 23 de novembro de 2025 às 19:14

(Belém ganha teto de crochê no Ver-o-Peso)
(Belém ganha teto de crochê no Ver-o-Peso) Crédito: Reprodução/@prefeiturabelém via Instagram 

A Travessa Ocidental, no Ver-o-Peso, está diferente. Quem passa por ali agora caminha sob um teto inteiro de crochê, uma espécie de galeria colorida pendurada no céu, feito pelas mãos de mais de 250 artesãs do movimento Ver-a-Arte. São 70 metros de cobertura que misturam cores, formas e símbolos da cultura paraense, tudo tecido em linha 100% algodão.

Mais do que um enfeite bonitinho, o teto de crochê vira um recado direto de quem vive do artesanato: existe uma economia pulsando nas ruas, sustentada por mulheres que transformam linha e agulha em renda, autonomia e rede de apoio.

Idealizadora do projeto, Patrícia Resque explica que ocupar a rua foi uma escolha política e afetiva. “A questão da rua foi para mostrar a dimensão de como um coletivo faz toda a diferença, já que foram mais de 250 artesãs envolvidas no projeto, usando a mesma linha 100% algodão, o mesmo desenho e cada square tem o seu diferencial, tem a identidade da artesã que promoveu”, diz.

Cada quadradinho (os squares do crochê) leva a marca de quem fez: tem quem puxe mais para as cores da floresta, quem aposte no açaí, nas flores, nas formas geométricas. No fim, tudo se costura em um grande mosaico suspenso, que reflete a cara de Belém, múltipla, barulhenta, inventiva.

A inauguração do teto acontece em meio ao clima da COP em Belém, momento em que a cidade recebe olhares do mundo inteiro. Para as artesãs, isso não é detalhe: é oportunidade.

Mayla Coelho, embaixadora do projeto, diz que essa é a hora de mostrar o crochê paraense para além das fronteiras da feira e da cidade. “Aproveitar esse cenário que a gente tá vivendo da COP para levar o nosso trabalho, para levar o crochê paraense para o mundo. É maravilhoso ter essa visibilidade agora e ver que a gente tá repercutindo de forma muito positiva e levando cada vez mais a nossa arte para o mundo”, afirma.

O teto de crochê do Ver-o-Peso vira, assim, um ponto de encontro entre arte, turismo e sobrevivência. É Instagramável, é bonito de ver, mas, principalmente, é um lembrete de que por trás de cada peça vendida nas bancas há uma mulher pagando conta, criando filho, se apoiando em outras mulheres e encontrando no artesanato um caminho de pertencimento.

Na Travessa Ocidental, entre cheiros de peixe, ervas e temperos, agora também tem o colorido de um céu bordado à mão. E quem passar por ali vai caminhar sob esse teto sabendo: nada disso é enfeite, é trabalho. E trabalho assinado por mulheres paraenses.