'Caboção': o tira-gosto que virou símbolo da memória afetiva paraense

O Caboção pode até ser só um tira-gosto, mas é, na verdade, um verdadeiro prato principal.

Publicado em 3 de junho de 2025 às 14:39

'Caboção': o tira-gosto que virou símbolo da memória afetiva paraense
'Caboção': o tira-gosto que virou símbolo da memória afetiva paraense Crédito: Reprodução

Quando o prato “Caboção” chega à mesa do restaurante Na Maré, ele não traz apenas o cheiro irresistível do camarão amazônico bem temperado. Ele chega carregado de lembranças, de histórias e de uma proposta que vai além da gastronomia: reviver e valorizar a cultura ribeirinha com cada garfada.

Criado por Teo, idealizador do restaurante, o Caboção é mais que um tira-gosto, é uma experiência sensorial e afetiva. “É um prato cheio de história e afeto”, resume o próprio Teo. A inspiração veio da vida no interior, onde ingredientes simples e cheios de sabor como farinha, sal, pimentel e limão estão presentes em qualquer casa ribeirinha. “São temperos de baixo custo, mas com um sabor incrível”, garante ele.

O camarão utilizado é regional, vindo diretamente dos rios amazônicos, os mesmos que há gerações sustentam famílias inteiras. “Acordar cedo e correr para ver se o matapi estava cheio era uma alegria. Era divertido demais. O Caboção traz essa lembrança viva”, conta, com nostalgia.

A apresentação do prato também carrega o DNA da floresta: servido em uma tábua feita com madeira reaproveitada de barco e forrado com folha de bananeira colhida no quintal do próprio Téo, o Caboção é um manifesto de identidade e sustentabilidade.

Mas o nome curioso também tem sua razão de ser. “Coloquei esse nome porque amo a cultura ribeirinha e o modo simples de viver. Quis homenagear esse estilo de vida, cheio de felicidade com tão pouco”, explica Téo. E mais: os nomes dos pratos no cardápio foram pensados para chamar a atenção do público paraense, muitas vezes distante de suas próprias raízes. Referências a letras de músicas, nomes de artistas e expressões populares tornam o cardápio quase um mapa cultural da Amazônia.

No restaurante Na Maré, cada cliente é convidado a mergulhar nesse universo. “Tem gente que vem só comer, mas sai levando consigo um pedacinho da nossa história”, diz Téo.

O Caboção pode até ser só um tira-gosto, mas é, na verdade, um verdadeiro prato principal na missão de reconectar o paraense com sua própria cultura.