Impacto do ‘tarifaço’ no Pará: entenda como exportações de café e carne podem ser afetadas

Sobretaxa de 50% imposta pelos EUA pode comprometer a competitividade do estado e afetar diretamente pequenos e médios produtores.

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Silmara Lima

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Publicado em 31 de julho de 2025 às 12:15

Embora ainda não liderem as exportações do estado, o café a carne vêm ganhando destaque nos últimos anos.
Embora ainda não liderem as exportações do estado, o café a carne vêm ganhando destaque nos últimos anos. Crédito: Reprodução

A decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, a partir de 6 de agosto de 2025, acendeu um alerta entre os exportadores paraenses de carne bovina e café. Embora ainda não liderem as exportações do estado, esses dois setores vêm ganhando destaque nos últimos anos, gerando emprego e renda principalmente para pequenos e médios produtores.

Segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Pará pode registrar uma perda de quase R$ 1 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) com a entrada em vigor do tarifaço. Apesar de a mineração ser o setor mais afetado em termos absolutos, o agronegócio também sente os efeitos, sobretudo em cadeias produtivas em crescimento, como as de carne e café — dois produtos primários com presença significativa no mercado norte-americano.

A sobretaxa não atinge apenas os grandes exportadores tradicionais do estado, mas também impacta diretamente setores emergentes, comprometendo anos de esforço para posicionar o Pará como um produtor sustentável e competitivo em âmbito global.

Diante desse cenário, o economista paraense Edson Moreira aponta possíveis caminhos para mitigar os impactos, com foco na diversificação de mercados e no fortalecimento de políticas locais. As estratégias sugeridas incluem:

1. Redirecionar exportações para outros países, priorizando mercados que valorizam sustentabilidade e rastreabilidade dos produtos;

2. Fortalecer o consumo interno, com incentivo a compras públicas e valorização de itens regionais;

3. Oferecer apoio financeiro aos pequenos produtores, por meio de crédito acessível, redução de impostos estaduais e estímulo à agroindustrialização.

“Se não houver uma resposta rápida, com políticas públicas eficazes, incentivo à produção e abertura de novos mercados, o Pará corre o risco de enfrentar retrocessos na agricultura familiar e nas exportações agroindustriais”, alerta o economista.

Café: tarifa ameaça nichos de alto valor agregado

Embora os estados de Minas Gerais e Espírito Santo liderem a produção nacional, o café produzido no sudeste do Pará — em municípios como Paragominas, Tailândia e Tomé-Açu — tem conquistado mercados de nicho no exterior, com foco em práticas agroecológicas e produção familiar.

“O Pará tem se destacado na exportação de cafés especiais, com forte apelo em sustentabilidade e qualidade sensorial. Esses grãos vinham ganhando espaço em cafeterias dos Estados Unidos, especialmente na Califórnia e em Nova York”, explica André Furtado, consultor do Sebrae.

Com a nova tarifa de 50%, no entanto, o café paraense pode perder competitividade. O aumento do custo final pode tornar inviável a permanência no mercado americano, um dos maiores consumidores globais. A tendência é que importadores migrem para outros países produtores, como Colômbia, Vietnã e Etiópia.

“Passamos anos construindo relações com compradores lá fora. Agora, com esse imposto, ninguém vai querer pagar mais caro só porque o café é do Brasil”, lamenta Maria do Socorro, produtora de café orgânico no município de Irituia, no nordeste do estado.

Carne bovina: custo elevado pode reduzir exportações

A cadeia da carne bovina, que representa cerca de 10% das exportações agropecuárias do Pará, também está ameaçada pela sobretaxa. Frigoríficos do estado exportam principalmente para China e Egito, mas também, em menor escala, para os Estados Unidos, que compram cortes específicos e carne processada.

“O problema não é apenas a tarifa de entrada nos EUA. A taxação também encarece a importação de insumos essenciais à produção, como vacinas, fertilizantes e peças para sistemas de resfriamento. Isso eleva os custos e pode comprometer a rentabilidade das exportações”, explica Tatiane Campos, economista da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa).

Com o redirecionamento de cargas para outros mercados, existe ainda o risco de saturação e queda nos preços, o que afeta diretamente a renda de pecuaristas nas regiões sul e sudeste do estado, como Marabá, Redenção e Xinguara.

Pequenos produtores: os mais vulneráveis

Associações e cooperativas locais alertam que os maiores prejudicados serão os pequenos e médios produtores, que têm menor capacidade de negociação com novos compradores e dependem fortemente da exportação como fonte de renda.

“A sobretaxa afeta principalmente quem já enfrenta dificuldades de acesso a crédito, tecnologia e assistência técnica. Sem uma resposta rápida do governo, muitos podem abandonar a atividade”, afirma José Alves, coordenador de uma cooperativa rural em Parauapebas.

Diante da crise, o governo estadual, em parceria com entidades como FIEPA, Faepa e Sebrae, anunciou a criação de um Grupo de Trabalho para elaborar estratégias de enfrentamento. O objetivo é proteger o setor produtivo, manter empregos e garantir renda no campo.