Publicado em 27 de setembro de 2025 às 10:47
Em quase 160 anos de fundação do Museu Paraense Emílio Goeldi e exatos 130 anos do Parque Zoobotânico, não é exagerado afirmar que os onze dias compreendidos entre 16 a 27 de setembro marcam um momento singular para a instituição científica mais antiga da Amazônia. Já é possível perceber como os muros da sede localizada no bairro de São Brás, em Belém, e do Campus de Pesquisa, na Terra Firme, passam por uma transformação de grandes proporções e impacto visual indiscutível na capital paraense. Olhares curiosos e flagrantes com celular revelam o interesse de quem está de passagem pelas ruas ou praticando atividades físicas nas calçadas.>
Os 19 painéis autorais produzidos por artistas selecionados em edital público, resultado da parceria com o Museu de Arte Urbana de Belém (Maub), faz com que o muralismo compartilhe com a população a riqueza dos acervos e dos conhecimentos produzidos em um centro de pesquisa que, historicamente, adotou cores sóbrias em suas fachadas. O resultado final, no próximo domingo (28), será celebrado com diversas atividades gratuitas na Av. Magalhães Barata, entre a Av. Alcindo Cacela e a Tv. 9 de Janeiro, a partir das 9h.>
“Os muros estão sendo pintados por um seleto grupo de artistas para que tenhamos a promoção da interrelação entre ciência, cultura, arte urbana e educação. Procuramos estabelecer, no edital, temas da sociobiodiversidade amazônica, com as quais trabalhamos há quase 160 anos. Esperamos mostrar para a população que estamos preparados para manter a instituição no século XXI", ressaltou o diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior.>
A iniciativa dialoga, diretamente, com o compromisso do Museu Goeldi em promover a democratização da ciência, algo notório em publicações de diferentes formatos, em mostras expositivas e em ações educativas. A adoção da arte urbana como parte desta estratégia é inovadora.>
Mudando a rotina>
A movimentação ininterrupta nas calçadas do Parque Zoobotânico e do Campus de Pesquisa, com andaimes, artistas manejando pinceis e spray, mudou a rotina de quem transita nas proximidades das sedes do Museu Goeldi e de quem aproveita para praticar atividades físicas. É o caso de Laurinda da Silva, vizinha do Parque Zoobotânico e que tem o hábito de fazer caminhadas na calçada do quarteirão. “Fiquei feliz quando vi o movimento e, quando eu soube que era justamente o pessoal que trabalha com arte de rua, fiquei mais feliz ainda, porque é um trabalho que é respeitado. A gente espera que as pessoas preservem. Mudou totalmente o visual, mudou a paisagem. Tá ficando lindo!”, descreve, apontando detalhes das obras. “Os ribeirinhos, os caboclos, a cultura, a arte paraense, a arte indígena. Tudo aqui remete à nossa cultura. Dá até mais ânimo para caminhar. Você olhar e ver essa paisagem linda retratando a nossa cultura, é maravilhoso”, reconhece.>
Os artistas também testemunham o acolhimento da população. “Está sendo muito bem recebido pelas pessoas. Os carros passam aqui e as pessoas gritam, elogiando”, conta Francisco Ribeiro. Natural do Amapá, ele explica que explora “elementos sobre o cotidiano, o popular, o periférico. Meu trabalho é muito voltado para a paisagem. A partir da minha poética, tentei conversar com a proposta do museu. Tentei trazer a arara, a onça e a jiboia, que são os três animais principais da minha obra. Mas também relacionando com a ideia de encantaria. A paisagem se mescla com esses entes, trazendo um pouco dessa dinâmica de respeito que a gente tem com as matas”.>
Artistas do Pará são maioria entre os 19 selecionados, com 12 nomes assinando obras inéditas nos muros do Museu Goeldi. Além deles, estão representados os estados do Amazonas, Amapá, São Paulo e Goiás, além do Distrito Federal. Cada um deles manifesta artisticamente sua interpretação sobre espécies da fauna e da flora amazônicas; sobre práticas culturais e os imaginários da região; sobre os diversos povos do território mais biodiverso do planeta.>
Processo incluiu conjunto de etapas criteriosas>
Quem acompanha nas ruas ou nas redes sociais os dias de trabalho artístico talvez não saiba das etapas vencidas antes disso tudo, dentre elas, a consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e ao Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Dphac/Secult); a elaboração do Acordo de Cooperação Técnica; a captação de recursos; e a execução de um edital criterioso. Como patrimônio tombado, a intervenção no Parque Zoobotânico exige a consulta aos órgãos competentes e a garantia do cumprimento de normas bem definidas.>
Diferente do Parque Zoobotânico, que é aberto a visitação, o Campus de Pesquisa é onde se concentram laboratórios, coleções científicas, a Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, o Arquivo Guilherme de La Penha, o Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia (NIIT) e os cursos de pós-graduação. Além de atividades específicas com a comunidade do bairro, o campus também recebe atividades educativas e ganhará uma nova forma de interlocução com seu entorno a partir das intervenções artísticas.>
Contagem regressiva para os 160 anos>
As duas das três bases físicas do Museu Goeldi no Pará - a terceira delas é a Estação Científica Ferreira Penna, localizada na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Marajó – revitalizam seus muros, sobretudo, valorizando as riquezas materiais e imateriais da Amazônia. E marcam duas ocasiões significativas, já que, em agosto, o Parque Zoobotânico completou 130 anos e, em outubro, o Museu Goeldi inicia a contagem regressiva para seus 160 anos.>
Esta é a terceira edição do Maub, tendo as duas primeiras ocupado estruturas do complexo do Ver-o-Rio, no Umarizal. “O Maub nasceu para transformar Belém em uma galeria a céu aberto, e esta edição especial no Museu Goeldi reforça esse propósito. São artistas da Amazônia e de outras regiões do Brasil que deixam suas marcas em um espaço histórico, conectando ciência, cultura e comunidade em um diálogo único. O resultado é um patrimônio que já vem sendo abraçado pela população antes mesmo da inauguração”, afirma Gibson Massoud, idealizador do Maub.>
O projeto é realizado pela Sonique Produções e Oito Quatro Produções, aprovado na Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com o patrocínio da Vale, por meio da Lei Rouanet, com a chancela do Governo Federal e do Ministério da Cultura.>
O Parque Zoobotânico do Museu Goeldi segue fechado para visitação até dia 3 de outubro, quando reabre ao público após a revitalização de parte da estrutura física de prédios e recintos de animais, iniciada dia 18 de agosto.>
Serviço:>
Inauguração dos murais do Maub – Edição Especial Museu Goeldi>
Data: 28 (domingo)>
Horário: a partir das 9h>
Local: Av. Magalhães Barata (em frente ao Parque Zoobotânico do Museu Goeldi)>
Entrada: gratuita>
Programação:>
9hs - Naiá e Benny - Entre rios e rabiscos, brinquedo de criança (pula-pula, escorrega), mini rampa de skate com a Ziani Ramp, praça de alimentação e feirinha criativa>
10hs - DJ The Black>
10hs – Contação de História com Otânia - Causos da Dona Cotia>
11hs – Oficina infantil - Reciclando e fazendo arte com o grafiteiro Santo>
12hs até 13h30 – DJ The Black>
13h30 – Ver o Brass>
Intervalo - DJ The Black>
15hs: Oficina bolha de sabão com Pedro Bolhas>