Publicado em 19 de novembro de 2025 às 15:32
A volta da novela “Rainha da Sucata” no “Vale a Pena Ver de Novo”, da TV Globo, é uma daquelas decisões que me fez pensar: “Como é que demoraram tanto?”. A segunda reprise do folhetim em tv aberta da trama de Silvio de Abreu, exibida originalmente em 1990, chega de novo à grade com a proposta de servir nostalgia, crítica social afiada e aquele humor que só as tramas dos anos 90 entregavam sem medo.>
Rever Regina Duarte no auge do carisma, vivendo a empresária Maria do Carmo, é como revisitar um clássico que você conhece de cor, mas sempre encontra algo novo. A personagem continua sendo um fenômeno de identificação: batalhadora, exagerada, meio brega, totalmente apaixonada por um Brasil que, convenhamos, ainda vive preso aos mesmos dilemas econômicos e sociais de 30 anos atrás. E é justamente aí que a novela volta a parecer atual, uma ironia deliciosa!>
O reencontro com a eterna vilã Laurinha Figueroa, interpretada por Glória Menezes, é outro presente. Tudo nela é icônico: o sorriso falso, a elegância calculada, o veneno aplicado com precisão cirúrgica. Num mundo saturado de vilões digitais, é refrescante voltar a uma antagonista que não precisa de algoritmo para manipular, só de uma escada rolante e de bons diálogos.>
Além dos personagens, “Rainha da Sucata” retorna como um lembrete do poder da teledramaturgia brasileira de rir da própria desgraça. A mistura de crítica social, farofa, pastelão e melodrama sempre foi a marca das novelas daquele período. Não é por acaso que tanta gente vibra com essa reprise: ela devolve ao público a sensação de que a novela pode, sim, ser entretenimento puro e crítica social ao mesmo tempo.>
É claro que tem o fator nostalgia, sempre irresistível. Quem viveu a época (tipo eu, como boa criança noveleira dos anos 90), lembra da estética cafona deliciosa, do exagero das atuações e da trilha sonora chiclete, bem na época que a lambada estourou no mundo. Quem não viveu, vai descobrir que “cafona” aqui é elogio, uma estética que abraça o exagero e transforma tudo em espetáculo (e audiência, é claro!).>
Com essa volta ao “Vale a Pena Ver de Novo", a TV Globo resgata não só uma das novelas mais marcantes de sua história, mas também um pouco do Brasil que ela retratava, com todos os absurdos, contradições e excessos que a gente insiste em repetir. No fim das contas, “Rainha da Sucata” nunca deixou de ser atual, só estava esperando a hora certa de reaparecer… como toda verdadeira rainha!>
Brunno Magno é jornalista, noveleiro e amante de cinema.>