Publicado em 30 de outubro de 2025 às 16:27
O tapete foi desenrolado no coração de Belém para uma celebração que entrelaça arte contemporânea, corpo, ritmo e a história das “cabana”, um dos fios que perpassam a cultura nortista. De 31 de outubro a 2 de novembro, o Centro Cultural Bienal das Amazônias (CCBA) abre suas portas para a segunda edição da Bienal das Amazônias, cuja curadoria traz o eixo “Sotaque” como tema central, dentro da proposta mais ampla “Verde-Distância”.>
A partir da experiência sensorial no sábado à tarde, bebês entre 3 meses e 2 anos e meio e seus cuidadores serão convidados a mergulhar em sons, texturas e cores que dialogam com as obras expostas, um verdadeiro “primeiro encontro” com a arte contemporânea, pensado para ativar escuta, toque e curiosidade. A proposta da coordenadora pedagógica Raquel Freitas reforça essa conexão: “Um bebê instigado pelas artes é um futuro adulto que continuará a explorar o mundo pela descoberta”.>
Para o público com mais idade, a programação ganha densidade no domingo com a oficina “Microcontos e as narrativas orais amazônicas”, conduzida pela arte-educadora Andreza Machado. A oficina aproveita formas literárias breves para reinventar tradições orais da Amazônia, conectando o participante com o território e sua ancestralidade. Participantes recebem caderno artesanal e contribuem para a construção de um registro coletivo.>
Paralelamente, o Programa Público da Bienal promove debates, performances, oficinas de dança e shows que privilegiam ritmos da região, especialmente o brega, o tecnobrega, o tecno-melody, o carimbó, e resgatam o protagonismo dos chamados “sons cabanos”. O coordenador Jean Ferreira da Silva destaca a intenção de ligar “Sotaque” à memória da Revolta da Cabanagem, sem perder a celebração, o som e a alegria que permeiam essas manifestações culturais.>
Entre os nomes presentes, a DJ Pedrita, reconhecida como a “Princesinha do Rock Doido” e primeira mulher DJ de aparelhagem no oeste paraense, é destaque. Em seu set, mistura brega, tecno, funk e melodias amazônicas num verniz contemporâneo que traz tanto política quanto festa. E para além do som, o evento reserva a mesa-redonda “COP do Povo”, que junta lideranças cabanas para discutir justiça, território e democracia, demonstrando como arte e política caminham juntas quando o palco é a Amazônia.>
A curadoria da Bienal, assinada por Manuela Moscoso e equipe, pousou sobre territórios da Pan-Amazônia para reconstruir vozes, saberes e práticas. Inspirada na obra “Verde Vagomundo”, do escritor paraense Benedicto Monteiro, a edição busca uma escuta ativa do que é amazônico, situada entre sonho e território.>
Cabe ressaltar que o evento é parte de um ciclo que segue até novembro, numa ambiência que quer ampliar a experiência da arte para além das galerias, se configurando como espaço de encontro, educação, ativismo e festa. O CCBA, localizado na Rua Senador Manoel Barata 400, no centro de Belém, se transforma nesses dias em polo de convergência entre passado, presente e futuros possíveis das Amazônias.>
Para aqueles que pretendem participar: a ala de mediação para bebês ocorre no sábado (1º de novembro), das 15h às 18h; a oficina de microcontos no domingo (2), das 10h às 12h. A programação do Programa Público, de sexta (31) e sábado (1º), traz mesas-redondas, oficinas de dança, performances e shows, e ao final do sábado, um encontro negro e cabano com poesia, carimbó e batucada para celebrar “a arte que nasce do povo e volta para ele”.>
Em suma: a 2ª Bienal das Amazônias propõe ver, sentir, escutar e dançar os ritmos, os sotaques, os corpos e as histórias da Amazônia. É uma imersão que promete, além de visibilidade, uma nova maneira de viver o território.>