Relembre o dia em que o Rei Pelé vestiu a camisa do Clube do Remo

O dia 29 de abril de 1965 tem um espaço na memória (e no coração, porque não?) dos torcedores mais saudosistas do Clube do Remo. Mas, para o bem ou para o mal? Vejamos: nesta data, ou seja, há exatos 55 anos, o Santos de Pelé (!) goleou o Leão Azul por 9 a 4...

Publicado em 29 de dezembro de 2022 às 18:45

O dia 29 de abril de 1965 tem um espaço na memória (e no coração, porque não?) dos torcedores mais saudosistas do Clube do Remo. Mas, para o bem ou para o mal? Vejamos: nesta data, ou seja, há exatos 55 anos, o Santos de Pelé (!) goleou o Leão Azul por 9 a 4 em um Estádio Baenão lotado. Poderia ser trágico... Poderia, se não fosse um outro detalhe. Naquela noite mágica e inesquecível, o Rei, sim, o maior jogador de futebol que já pisou neste planeta – que me perdoem os amantes de Messi e Cristiano Ronaldo... -, vestiu o manto azulino. Poucos times tiveram esse que é um privilégio. Então, os torcedores remistas, que viram no placar o mais pequeno dos detalhes, tinham muito do que se orgulhar.

O Baenão estava completamente lotado. Foram colocadas cadeiras ao redor do gramado para as pessoas mais importantes da época.

'Naquele dia Belém parou. Quando o Pelé pisou no gramado o estádio, completamente lotado, foi à loucura. Quem estava sentado ficou de pé e aplaudiu a atitude do Rei em vestir a camisa do Remo e carregar as flores. Meu tio, tunante, era um empresário bem sucedido e assisti tudo de um lugar privilegiado. Foi um espetáculo, uma noite especial', lembra o historiador Orlando Ruffeil, torcedor do Remo que assistiu ao jogo aos 14 anos de idade.

O time principal do Remo realizava uma excursão no Acre. A equipe que enfrentou o Santos foi a reserva, porém, em seguida, a formação acabou se tornando a titular do Leão.

Aquele momento não abria espaços para vaias, muito menos cobranças. Pelé desembarcou em Belém em uma excursão daquele Santos bicampeão mundial, tratado como um mito até hoje. O camisa 10 estava no auge da carreira, já tinha duas Copas do Mundo no currículo. Os jornais da época trataram aquele como um dos grandes acontecimentos do Pará.

O confronto no Baenão marcou a estreia de Carlos Alberto Torres, o eterno capitão do tri da seleção brasileira, com a camisa do Santos.

Se existia, por parte do torcedor do Remo, algum sentimento de tratar o Peixe paulista como um adversário que precisava ser batido, ele ficou de lado quando Pelé saiu do túnel vestindo a camisa do Remo. Qualquer coisa que acontecesse depois não teria muito espaço para comentários. Além de carregar o escudo remista no peito, o Rei estava com um buquê de flores que recebeu de presente da diretoria do Leão. Ele precisava retribuir o carinho e vestir o manto foi a principal maneira encontrada naquele momento.

Em um dos lances, Pelé fez uma tabela na canela do zagueiro Socó, do Remo, avançou e marcou um dos gols do time santista.

Time do Remo: Arlindo; Sérgio, Faustino (Casemiro), Zeca e Jorge; Amaral e Valter; Zé Luis, Zezé, Rangel e Chaminha. Técnico. Sávio Ferreira.

A partir dali, a torcida era uma só, reverenciando Remo, Santos e Pelé. Valente, o selecionado azulino chegou a fazer 2 a 1. A cada jogada do craque santista, um passe, um toque simples que fosse na bola já era suficiente para uma chuva de aplausos e incentivos da arquibancada. No momento em que o Alvinegro Praiano teve um pênalti a seu favor, ninguém lamentou. Mas a torcida tinha uma exigência: Pelé deveria ir para a cobrança. Ele foi e não titubeou. Bola no fundo da rede.

'Quando o Remo fez 2 a 1, a torcida gritava 'Zezé, Zezé!', um dos jogadores que se destacava no time azulino. Lembro que o Pelé foi pegar a bola no fundo da rede, colocou debaixo do braço e falou algo como 'ah, vocês querem gol?'. A partir daquele momento só deu Santos. Pelé deitou e rolou. A torcida entendeu que aquele era o Rei do futebol e passou a aplaudir todas as jogadas, gritar o nome do Pelé. Aquela era uma torcida diferente. No final, todo mundo aplaudiu o Remo, o Santos e o espetáculo proporcionado por Pelé', concluiu.

Time do Santos: Claúdio; Carlos Alberto (Dé), Mauro (Modesto), Geraldino e Haroldo; Lima e Mengálvio; Peixinho (Toninho), Coutinho (Rossi), Pelé (Santana) e Pepe (Abel). Tecnico: Lula.

Pelé fez cinco gols. Coutinho, Toninho Guerreiro, Peixinho e Carlos Alberto Torres – sim, ainda tinha espaço para outros craques – fecharam o resultado. Para o Remo, marcaram Walter, Zezé (duas vezes) e Faustino. Os azulinos voltaram pra casa extasiados. Aquele não era um dia comum, qualquer. Teve quem nem lembrasse ao certo o resultado final, creio. Era um momento único no futebol paraense, para privilegiados. O jogo foi de alto nível. Pelé estava lá. Vestiu a camisa do Remo. A história estava contada. Eternizada.

Com informações do GE