Agricultores protestam com esterco em frente à casa de praia de Macron

Ato na cidade de Le Touquet critica acordo entre União Europeia e Mercosul

Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 14:38

Ato na cidade de Le Touquet critica acordo entre União Europeia e Mercosul
Ato na cidade de Le Touquet critica acordo entre União Europeia e Mercosul Crédito: Reprodução

Agricultores franceses realizaram um protesto inusitado nesta sexta-feira(19), ao despejar esterco, lixo e pneus em frente à casa de praia do presidente Emmanuel Macron, no litoral norte da França. A manifestação é mais um capítulo da pressão contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que enfrenta forte resistência no setor agrícola.

O ato aconteceu em Le Touquet e contou com forte presença policial. Os manifestantes colocaram um caixão simbólico com a frase “Não ao Mercosul” em frente à residência do presidente e de sua esposa, Brigitte Macron. Além do esterco, foram deixados sacos de resíduos, repolhos, galhos e pneus próximos ao local.

O protesto ocorreu um dia após uma grande mobilização de agricultores europeus em Bruxelas, que terminou com confrontos. Mesmo após o anúncio do adiamento da assinatura do acordo, inicialmente prevista para este sábado, 20, os produtores mantiveram a manifestação.

Segundo a Comissão Europeia, o tratado não será assinado agora e deve ficar para janeiro. Ainda assim, os agricultores afirmam que o adiamento não resolve o problema. Eles também criticam o governo francês pela forma como tem lidado com uma doença que afeta o rebanho bovino no país.

Para Benoît Hédin, representante do sindicato agrícola FDSEA, o protesto tem caráter simbólico e reflete a insatisfação com a atual política europeia. Ele afirma que os produtores se sentem ameaçados tanto pelo acordo com o Mercosul quanto por possíveis mudanças na Política Agrícola Comum, que pode ter cortes nos próximos anos.

Outro agricultor, Marc Delaporte, disse que os produtos importados da América do Sul chegam à Europa sem as mesmas exigências regulatórias e acabam competindo com preços impossíveis de acompanhar. Segundo ele, os protestos já duram dois anos sem resultados concretos.

O acordo foi fechado em dezembro de 2024 entre a União Europeia e os países do Mercosul, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A assinatura estava prevista para acontecer durante a cúpula do bloco, em Foz do Iguaçu, mas foi adiada após pressão da França, com apoio recente da Itália.

O principal sindicato agrícola francês, FNSEA, classificou o adiamento como insuficiente e afirmou que seguirá mobilizado contra o acordo. Os agricultores temem, principalmente, o aumento da entrada de carne, arroz, mel e soja sul-americanos no mercado europeu, produtos que, segundo eles, seguem regras menos rígidas de produção e acabam mais competitivos.