Publicado em 9 de outubro de 2025 às 11:31
Um tribunal na Argentina condenou o brasileiro Fernando Sabag Montiel a 10 anos de prisão nesta quarta-feira (8) após considerá-lo culpado pela tentativa de assassinato da ex-presidente Cristina Kirchner em 2022.>
O tribunal de Buenos Aires também condenou a namorada de Montiel, Brenda Uliarte, a oito anos de prisão por considerá-la cúmplice, encerrando um caso dramático que abalou o país.>
Em 1º de setembro de 2022, Montiel abriu caminho entre a multidão do lado de fora da casa da ex-presidente, apontou uma arma carregada para o rosto dela e puxou o gatilho. A arma não disparou. Cristina, então vice-presidente da Argentina, saiu ilesa.>
O episódio provocou protestos de rua dos apoiadores ferrenhos de Cristina, bem como ceticismo e teorias da conspiração de seus críticos fervorosos.>
No julgamento que terminou nesta quarta-feira, os promotores tentaram provar que Montiel, um cidadão argentino nascido no Brasil, e sua então namorada, Brenda Uliarte, planejaram a tentativa de assassinato com antecedência. Um terceiro acusado, Nicolás Carrizo, foi absolvido. Cabe recurso em todos os casos. Na sentença, o tribunal rechaçou o pedido da advogada de defesa para considerar Sabag Montiel inimputável.>
A promotoria apresentou conversas no WhatsApp sobre a arma de fogo e provas de que o ex-casal visitou a casa de Cristina antes do ataque para observar suas rotinas e segurança.>
Entre as personalidades políticas mais conhecidas da América Latina, Cristina Kirchner, 72 anos, teve dois mandatos como presidente (2007-2015) e é uma figura polarizadora.>
Condenada por corrupção por supostamente direcionar contratos de obras públicas para a empresa de um amigo, Cristina foi condenada no início deste ano a seis anos atrás das grades. Citando sua idade avançada e temores de segurança desde o ataque de 2022, um tribunal permitiu que ela cumprisse sua pena em prisão domiciliar em Buenos Aires.>
Embora proibida de concorrer a cargos públicos, ela continua a se manifestar abertamente contra seu adversário político, o presidente libertário Javier Milei. De seu apartamento, ela ainda publica críticas nas redes sociais, acena para os apoiadores reunidos abaixo de sua varanda e recebe visitantes de alto escalão, como o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, em julho de 2025.>
Na época do atentado, Cristina estava sendo julgada por corrupção e multidões se reuniam regularmente em frente à sua casa em solidariedade. Ela rejeita as acusações de corrupção como motivadas politicamente.>
Os apoiadores de Cristina conseguiram capturar Sabag Montiel quando ele tentava fugir do local após disparar a arma defeituosa.>
Ele confessou o crime no tribunal, descrevendo sua tentativa de assassinato como um meio de fazer justiça pela suposta corrupção de Cristina. Uliarte, presa dias após o incidente, negou qualquer envolvimento.>
Quem é Fernando Sabag Montiel?>
Sabag Montiel nasceu no Brasil, mas é filho de um chileno e uma argentina e vive no país vizinho desde 1993. Ele tinha registro para atuar como motorista de aplicativo, além de possuir antecedentes criminais e supostas ligações com grupos extremistas.>
Após a tentativa de homicídio contra Cristina, cem munições de calibre 9 milímetros foram apreendidos em um endereço ligado ao brasileiro no bairro de San Martín.>
Também logo após o atentado, as redes sociais de Montiel foram retiradas do ar, mas jornais argentinos conseguiram acessar perfis e comunidades seguidos e apontaram que ele acompanhava páginas que pareciam ser de grupos extremistas e de ódio - embora não estivesse claro como o brasileiro interagia com essas páginas.>
A imprensa local também afirmou que Montiel teria várias tatuagens alusivas às mitologias viking e germânica, utilizadas por grupos neonazistas.>
Na época, também foi revelado que Montiel havia aparecido em um programa de televisão argentino ao lado da namorada, quando criticou programas de assistência social promovidos pelo governo, chamando-os de incentivo a vagabundagem.>
Durante o julgamento, Montiel admitiu sua responsabilidade no ataque frustrado, com diversos argumentos, e se definiu como "apolítico". Ele também pareceu relativamente arrependido. "Foi um ato contra a minha vontade. No momento em que fiz isso, sinto que não queria fazer, mas tinha que fazer. Eu me sentiria mais arrependido se isso tivesse acontecido", afirmou, referindo-se a uma hipotética morte de Cristina Kirchner.>
Conteúdo Estadão >