Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 11:42
Diante de frustração com mais um adiamento do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), integrantes do governo brasileiro passaram a defender que o bloco foque em fazer andar de forma mais célere as demais negociações comerciais no radar. Há pelo menos 11 novos países em conversas com o Mercosul, em distintos estágios, sem contar a revisão de pactos já vigentes.>
O adiamento da análise no Conselho Europeu, provocado pela virtual formação de uma minoria de bloqueio, incomodou o governo brasileiro. Após quase 25 anos de negociação, parecia que o acordo de livre comércio seria, finalmente, assinado neste sábado, 20. O plano, porém, mudou após a Itália se alinhar à França e exigir um adiamento para janeiro para buscar maior proteção aos agricultores.>
Diplomatas do Itamaraty afirmam que mais uma vez o progresso foi postergado por iniciativa europeia, e que o ônus político cabe a eles. Em 2019, a justificativa foi a proteção ambiental. Agora, a exigência de medidas adicionais de proteção ao agronegócio europeu.>
Nos bastidores, embaixadores defenderam que o Mercosul passe a concentrar esforços em quem realmente deseja assinar acordos comerciais e que os europeus fiquem para o fim da fila.>
Além da UE, o acordo comercial mais próximo da linha de chegada é com os Emirados Árabes Unidos, sob coordenação do Paraguai. Na cúpula anterior, em Buenos Aires, os presidentes citaram que o acordo é "prioritário" para o Mercosul e que tentariam concluir as rodadas de negociação em 2025.>
O acordo foi considerado "muito próximo da conclusão" pela embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe. Ela ponderou, no entanto, que "o diabo mora nos detalhes". A diplomata disse que não há mais negociações em curso porque falta equipe para dar conta do trabalho.>
Apesar da quantidade de frentes, não há outro acordo com a mesma dimensão do negociado com a UE: são 720 milhões de pessoas e um PIB de US$ 22 trilhões.>
Nesta sexta-feira, dia 19, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o acordo passará pelo crivo dos 27 países do bloco, em janeiro, segundo as agências Reuters e AFP.>
"Entramos em contato com nossos parceiros do Mercosul e concordamos em adiar ligeiramente a assinatura. Este acordo é crucial para a Europa - economicamente, diplomaticamente e geopoliticamente", disse ela. "Com verificações e medidas de segurança adicionais, implementamos todas as proteções necessárias para nossos agricultores e nossos consumidores. Em um ano marcado por notícias de aumento de tarifas e novas restrições comerciais, o impacto positivo deste pacto é importante - não apenas para as nossas duas regiões, mas para a economia global.">
Europeus consideraram "tolerável" adiar por cerca de três semanas um tratado negociado há 26 anos, mas o Itamaraty diz que já negociou "tudo que era possível" e que o avanço depende apenas dos europeus. O revés foi provocado desta vez pela adesão da Itália à posição de objeção de França, Polônia e outros países menores, como Áustria, Irlanda e Hungria.>
A delonga ofuscou a Cúpula de Líderes do Mercosul e frustrou os planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o governo brasileiro liderou as negociações em nome do Mercosul, e o petista planejava celebrar uma vitória e obter a foto de assinatura em Foz do Iguaçu (PR), neste sábado, dia 20.>
"Há uma lista grande de outros países, são grandes economias, grande parte entre as 10 maiores, três membros do G-20... Temos que começar a conversar com eles. Nossa força de trabalho negociadora vai estar focada em outras áreas", disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no programa "Bom dia, ministro", da EBC.>
O chanceler contou que a Cúpula de Líderes do Mercosul contempla um relato aos demais países sobre o estágio de todas as iniciativas de acordos comerciais em andamento. O relatório do governo brasileiro cita as negociações regionais e extrarregionais, que agora devem ser priorizadas.>
Neste ano, o Mercosul assinou um acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio, o EFTA, - formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Em 2024, houve assinatura com o Panamá. Em 2023, com Singapura.>
Outros acordos antigos podem ser atualizados e ampliados, com mudanças nas regras de origem, nomenclaturas e até ampliação dos produtos abarcados, como os já vigentes com a Índia, Egito, Equador e Colômbia.>
Também estão em vista o lançamento de negociações com Reino Unido e Malásia, e, nas Américas e no Caribe, discussões já em andamento com El Salvador, sob coordenação do governo Javier Milei, e um diálogo exploratório liderado pelo governo Lula junto à República Dominicana.>
Em outubro, após o tarifaço de Donald Trump, o Brasil retomou como coordenador do Mercosul as rodadas de negociação com o Canadá.>
O governo brasileiro defende fazer uma parceria com o Japão e logo depois iniciar formalmente negociações de um acordo de livre comércio já discutido há alguns anos. Os governos negociam uma declaração conjunta como marco entre o Mercosul e Tóquio.>
Na Ásia, novos países da ASEAN se mostraram interessados, como o Vietnã e a Indonésia.>
O Uruguai, em nome do bloco, tenta uma nova videoconferência para atualizar a negociação com a Coreia do Sul, no início de 2026.>
O país também tem pressionado por avanços no "Mecanismo de Diálogo" com a China.? O governo Yamandú Orsi submeteu uma proposta que contemple negociações externas "em distintas velocidades".>
O governo uruguaio pressiona por um acordo que avance em fases diferentes entre os sócios do Mercosul, com apoio da Argentina. Dessa forma, teriam mais liberdade de negociar biletaralmente.>
Por outro lado, Brasil e Paraguai resistem e defendem manter a negociação em bloco, conforme as regras fundacionais do Mercosul Assunção também exige a ausência de "condicionantes políticas" por parte de Pequim - o país mantém relações diplomáticas com Taiwan, ilha que é cobiçada pela China.>
América Latina e Caribe>
Equador (vigente)>
Colômbia (vigente)>
Panamá (vigente)>
El Salvador>
República Dominicana>
Europa e América do Norte>
Canadá>
Reino Unido>
União Europeia (negociação concluída)>
EFTA (assinado)>
Oriente Médio, Ásia e África>
Emirados Árabes Unidos>
Japão>
Singapura (em internalização)>
Egito (vigente)>
China>
Indonésia>
Malásia>
Vietnã>
Coreia do Sul>
Índia (vigente)>