Jovem é condenada a 11 anos de prisão por matar seu abusador, nos Estados Unidos

O caso vem gerando polêmica nos Estados Unidos há vários anos, e a condenação de Chrystul encerra uma batalha jurídica de seis anos.

Publicado em 21 de agosto de 2024 às 11:48

 Chrystul Kizer, de 24 anos, foi condenada a 11 anos de prisão.
 Chrystul Kizer, de 24 anos, foi condenada a 11 anos de prisão. Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Uma jovem, identificada como Chrystul Kizer, de 24 anos, foi condenada a 11 anos de prisão, na última segunda-feira, 19, por matar o homem que a explorava e abusava sexualmente. O caso vem gerando polêmica nos Estados Unidos há vários anos, e a condenação de Chrystul encerra uma batalha jurídica de seis anos.

Chrystul foi acusada de homicídio por atirar em Randall Volar, de 34 anos, em 2018, quando tinha 17 anos. Ela aceitou um acordo judicial no início deste ano, em que se declarou culpada para evitar a pena de prisão perpétua. A longa batalha jurídica contou com a intervenção de organizações de defesa das mulheres e da comunidade negra.

No centro da polêmica, está a questão de como a lei pode proteger uma vítima de tráfico ou abuso sexual quando esta comete um crime que pode salvar sua vida. Os advogados de Chrystul argumentaram que ela agiu em legítima defesa, usando um mecanismo legal conhecido como "defesa afirmativa", em vigor em vários Estados dos EUA, que protege as vítimas de tráfico sexual de algumas acusações, incluindo prostituição ou roubo, se essas ações forem resultantes do tráfico.

Chrystul e Randall, uma relação conturbada

Chrystul tinha 16 anos quando conheceu Randall, que tinha o dobro da sua idade, em um ponto de ônibus. Ele se ofereceu para levá-la em casa, e pediu seu número de telefone. Segundo ela, os dois saíram para jantar e fazer compras. Mas logo ficou claro que ele esperava uma retribuição sexual. O relacionamento se tornou obscuro. Por quase dois anos, Randall abusou sexualmente de Chrystul, e, sem o conhecimento dela, filmou os encontros.

Como foi revelado no processo judicial, Randall já estava na mira da polícia de Kenosha, em Wisconsin, por gravar os abusos de outras meninas. Ela não sabia. Um ano antes da morte de Randall, a menor já era vítima de prostituição forçada, e em uma noite, quando Randall tentou tocá-la, Chrystul sacou uma arma e atirou na cabeça dele. Ela ateou fogo à casa e fugiu no carro dele.

Ela compartilhou o que fez em uma transmissão ao vivo no Facebook, pouco antes de ser presa e acusada de homicídio, incêndio criminoso e roubo de veículo.

A defesa de Chrystul

O promotor Michael Gravely argumentou que Chrystul havia cometido assassinato premeditado para roubar o carro. A defesa dela, no entanto, alegou que a jovem agiu em legítima defesa, depois que Randall a imobilizou contra o chão enquanto tentava estuprá-la. Além disso, invocou o mecanismo legal de "defesa afirmativa", que protege as vítimas de tráfico de pessoas nos EUA.

A promotoria havia argumentado que este mecanismo não isenta as vítimas em casos de homicídio. O processo chegou então à Suprema Corte de Wisconsin, que decidiu em 2022 que Chrystul poderia recorrer a ele. A defesa se concentrou em apresentar provas de que suas ações foram resultado direto da violência que havia sofrido. Várias organizações e ativistas se envolveram no processo em defesa de Chrystul.

Em maio deste ano, ela acabou optando por um acordo judicial com a promotoria, para evitar o risco de receber uma possível pena de prisão perpétua, e se declarou culpada de uma acusação reduzida de homicídio de segundo grau.

O Instituto Nacional de Justiça para Mulheres Negras havia pedido que a jovem não fosse condenada à prisão. "Os tribunais de todo o país criminalizam mulheres e meninas negras por sobreviverem ao abuso sexual e à violência", declarou a presidente da organização, Sydney McKinney, em comunicado em junho. "Mandar Chrystul Kizer para a prisão por qualquer período, é uma decisão equivocada. Isso não vai curar ninguém e só vai causar mais danos", acrescentou, porém, o juiz David P. Wilk, do Condado de Kenosha, em Wisconsin, decidiu que ela deve passar 11 anos na prisão, menos os 570 dias em que já ficou detida, e depois passar cinco anos em liberdade condicional.