Trump redefine composição do G20 e exclui África do Sul enquanto impulsiona entrada da Polônia no grupo

Decisão marca escalada de tensão diplomática entre Washington e Pretória e inaugura ofensiva americana para remodelar o bloco sob uma agenda própria.

Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 08:49

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Crédito: Redes Sociais/Instagram

Em um dos movimentos mais controversos desde que assumiu a presidência rotativa do G20, o governo de Donald Trump deu início a uma reformulação profunda do grupo ao anunciar que a África do Sul está fora das próximas reuniões e que a Polônia foi escolhida para ocupar a vaga deixada pelo país africano. A decisão, confirmada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, tem provocado tensão internacional e abre um debate inédito sobre o futuro do bloco.

O veto à participação sul-africana coroa semanas de atritos entre Washington e Pretória. Desde o fim da cúpula realizada em Joanesburgo, em novembro, os Estados Unidos vinham usando o argumento, sem apresentar provas, de que o governo sul-africano promove perseguição contra a população branca e realiza desapropriações de terras indevidas. Essa narrativa serviu de justificativa para o boicote americano ao encontro e para a série de retaliações anunciadas posteriormente.

Rubio oficializou o afastamento de Pretória em comunicado recente, no qual também confirmou o convite à Polônia. Segundo ele, Varsóvia representa um “parceiro natural” dos Estados Unidos, especialmente após consolidar crescimento econômico expressivo e eleger um presidente alinhado à direita nacionalista. Para o secretário, a aproximação polono-americana é símbolo de “prosperidade construída em parceria”.

A substituição, porém, não se limita a uma questão de afinidades políticas. Desde que assumiu a presidência do G20, Washington tem barrado negociações, travado pautas e inviabilizado consensos para enfraquecer o escopo tradicional do bloco. A meta do governo Trump é reduzir o foco em temas como clima, diversidade e inclusão, pilares do multilateralismo — e restringir as discussões a três eixos: desburocratização regulatória, segurança energética e estímulo à inovação tecnológica.

A África do Sul, por sua vez, se tornou alvo recorrente das críticas americanas. Rubio acusou o país de adotar políticas “radicais”, alegou tolerância à violência contra africâneres e responsabilizou Pretória por um suposto fracasso econômico. Em tom de ultimato, sinalizou ainda que o retorno sul-africano ao G20 só aconteceria mediante uma mudança de governo.

Com o anúncio, os Estados Unidos intensificam a proposta de um “novo G20”, expressão adotada pelo próprio secretário para descrever a tentativa de remodelar a estrutura do grupo. A primeira rodada de reuniões sob o comando americano está prevista para ocorrer em Washington nos dias 15 e 16 de dezembro, com participação de negociadores de todos os países, incluindo o Brasil. A cúpula final está planejada para 2026, na propriedade de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida.

Embora ainda não haja resposta formal dos demais integrantes do G20, espera-se debate intenso nos bastidores, já que decisões do bloco costumam depender de consenso, um cenário que agora parece mais distante diante da pressão americana.

O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radosław Sikorski, confirmou que vinha negociando com os EUA há meses. Ele argumenta que o país tem peso econômico e histórico suficientes para justificar a entrada no grupo, citando a transformação polonesa de economia planificada para mercado aberto como um dos principais trunfos.

Com a exclusão da África do Sul e a inclusão da Polônia, o G20, atualmente formado por 19 países, além da União Europeia e da União Africana, entra em uma fase de incertezas políticas e institucionais. A ofensiva dos EUA promete reconfigurar alianças e testar os limites da governança global nos próximos anos.