Estratégia internacional de Eduardo Bolsonaro fracassa e aprofunda crise familiar, diz jornal inglês

Segundo o Financial Times, pressão dos EUA sobre o Judiciário brasileiro não evitou prisão de Jair Bolsonaro e expôs fragmentação política.

Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 07:42

Eduardo Bolsonaro
Eduardo Bolsonaro Crédito: Pedro França/Agência Brasil

A ofensiva diplomática capitaneada por Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos para evitar a prisão de Jair Bolsonaro terminou em fracasso retumbante e, segundo análise do Financial Times publicada nesta segunda-feira (1º), acabou expondo a vulnerabilidade do bolsonarismo e agravando a crise no núcleo familiar e político do clã.

De acordo com a reportagem, o deputado buscou influenciar o governo norte-americano a intervir politicamente contra o Judiciário brasileiro. A estratégia, no entanto, “voltou-se contra os próprios interesses”: as tarifas de 50% impostas por Washington sobre produtos brasileiros irritaram empresários e enfraqueceram ainda mais a imagem de Brasília, sem produzir qualquer recuo do STF.

O texto do FT descreve o ex-presidente como “solitário e abatido” desde a prisão decretada em 22 de novembro, após ele ter violado sua tornozeleira eletrônica, episódio atribuído por ele a alucinações provocadas por medicamentos. Para analistas ouvidos pelo jornal, esse capítulo simboliza o colapso da credibilidade do movimento liderado pela família Bolsonaro.

“Marca política destruída” e a corrida por novo nome à direita

Fontes do mercado financeiro e político entrevistadas pelo FT avaliam que os repetidos erros de estratégia e o desgaste internacional provocaram uma “destruição significativa do valor da marca Bolsonaro”. Segundo uma dessas fontes, “a família enlouqueceu” e as recentes ações de Eduardo “são absolutamente repreensíveis”.

Nesse vácuo de poder, a direita brasileira se movimenta para encontrar um novo líder rumo a 2026. O governador Tarcísio de Freitas surge como favorito entre o setor empresarial e conservador. Entretanto, o FT ressalta que, para atrair esse apoio, Tarcísio exige que o clã Bolsonaro se retire formalmente da disputa. A tensão ficou evidente em críticas feitas por Eduardo ao governador, que classificou como “candidato do establishment”.

Apesar da fragilidade do adversário, o jornal lembra que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda parte como favorito: o cenário econômico, com geração de emprego e renda relativamente estável, e o impacto limitado das tarifas americanas tendem a favorecer sua reeleição.

Consequências além das fronteiras

Para o FT, o episódio revela como manobras externas e promessas de intervenção internacional não são capazes de interferir em decisões soberanas do Judiciário. A postura de Eduardo, além de agravar a crise interna, aumentou o desgaste internacional e acelerou o desmonte da coesão dentro do conservadorismo no Brasil.

A análise conclui que o bolsonarismo enfrenta hoje não apenas a perda de seu líder histórico, mas também uma limitação crescente em se reposicionar como alternativa viável, a menos que reconstrua sua narrativa longe de pressões externas e com foco em renovação política.