Ex-chefe da Marinha diz com voz embargada não ter passado cargo a sucessor: 'não foi com alegria'; assista

Ex-comandante disse que respeitou acordo com Bolsonaro para deixar o cargo ainda em 2022; ministro José Múcio afirmou que ele “não estava do lado da lei”.

Publicado em 10 de junho de 2025 às 14:46

O ex-comandante da Marinha, brigadeiro Almir Garnier Santos, chorou durante depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (10), ao explicar por que decidiu não participar da cerimônia de transmissão de comando ao seu sucessor no fim de 2022.

Garnier foi o único entre os três chefes das Forças Armadas da época a se ausentar da cerimônia de entrega de posto, mesmo em meio à transição conturbada entre Jair Bolsonaro e o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica participaram normalmente das respectivas transmissões.

Ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga uma suposta trama golpista, Garnier relatou que a decisão de deixar o cargo antes da posse do novo governo foi tomada em comum acordo com os outros chefes militares, por orientação de Bolsonaro.

'Hierarquia, disciplina, honra e palavra são valores muito caros aos marinheiros. Logo após o segundo turno, o presidente nos chamou e nos pediu para preparar a passagem de função. E houve, naquele momento, uma combinação nossa de que as três Forças passariam o comando antes do fim do mandato", afirmou Garnier, visivelmente emocionado.

Segundo ele, a cerimônia de transmissão foi marcada para o fim de dezembro. No entanto, o novo comandante escolhido por Lula, almirante Marcos Sampaio Olsen, preferiu assumir o cargo apenas após a posse presidencial, sob a gestão do novo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

"Eu entendi a posição dele. Não queria criar embaraços. Mas disse que tinha compromisso com o ministério ao qual pertenci. E que, por esta razão, eu não estaria presente", afirmou Garnier. 

Confesso ao senhor, não foi com alegria que eu disse isso. Um comandante da Marinha, quando se despede, tem direito a salva de canhões, desembarque de lancha, e eu não tive nada disso.

O ex-comandante disse ainda que havia planejado uma cerimônia no Arsenal de Marinha, no Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória ainda menino, na Escola de Aprendizes e Operários. A despedida simbólica não ocorreu. Ele, no entanto, afirma ter realizado “toda a passagem de comando institucional”.

Críticas de José Múcio

Em setembro de 2023, após trechos da delação do tenente-coronel Mauro Cid virem à tona, o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou publicamente que Garnier “não estava do lado da lei” e insinuou uma postura de resistência ao processo democrático.

"É uma coisa pessoal. Sabia, mas ele passou. Ele não me recebeu para conversar. Depois, nos encontramos. Mas era uma posição pessoal. Havia um presidente eleito, um presidente empossado, a Justiça promulgou. Nós estávamos 100% do lado da lei", disse Múcio.