Publicado em 20 de junho de 2025 às 12:58
A Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) reagiu à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a abertura de um inquérito contra o criminalista Luiz Eduardo de Almeida Kuntz. Ele passou a ser investigado pela Polícia Federal por possível obstrução de investigação relacionada ao caso do plano de golpe de Estado.
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A Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-SP nomeou o advogado Renato Marques Martins para assumir a defesa de Kuntz. Segundo Martins, o inquérito representa um ataque à liberdade do exercício da advocacia.>
“A instauração de uma investigação contra um advogado que apenas exerceu legalmente a defesa do seu cliente representa uma tentativa de calar a defesa, o que não será admitido em uma sociedade democrática”, afirmou Martins, que é mestre em Direito Penal pela USP.>
Kuntz representa o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro. Câmara foi preso nesta quarta-feira (18), por ordem de Moraes, e é acusado de integrar o núcleo militar do plano golpista. O ministro também o acusou de descumprir medidas cautelares, como a proibição de usar redes sociais ou manter contato com outros investigados, direta ou indiretamete.>
O motivo da abertura do inquérito contra o advogado está relacionado à entrega de mensagens trocadas no Instagram com um perfil atribuído à esposa de Mauro Cid, tenente-coronel e delator do caso. Kuntz anexou os diálogos ao STF e solicitou a anulação da delação premiada de Cid, alegando que havia indícios de coação.>
Para Moraes, o advogado teria extrapolado os limites legais da função ao tentar obter dados sigilosos da colaboração premiada, configurando, segundo o ministro, possível crime de obstrução. Um inquérito autônomo foi aberto para apurar a conduta de Kuntz e do próprio coronel Câmara.>
Em nota pública, Renato Martins repudiou a medida e afirmou que Kuntz foi procurado espontaneamente por Mauro Cid. “Ele cumpriu sua obrigação profissional ao avaliar se a delação foi feita de forma voluntária ou sob pressão. Pelas mensagens recebidas, infelizmente, há indícios de que houve coação para que o delator acusasse terceiros falsamente”, disse.>