PT vê sabotagem de Alcolumbre e Motta para enfraquecer reeleição de Lula

Para o PT, a anulação do reajuste no IOF sem diálogo prévio ou justificativas claras foi vista como um ataque frontal ao Planalto.

Publicado em 30 de junho de 2025 às 07:57

Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Crédito: Agência Gov

A cúpula do PT está convencida de que a derrubada do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) representa uma manobra deliberada dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para desestabilizar o governo e comprometer a tentativa de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para o PT, a anulação do reajuste no IOF — medida que financiaria programas sociais — sem diálogo prévio ou justificativas claras foi vista como um ataque frontal ao Planalto. O gesto é classificado como um rompimento institucional inédito, que força o governo a abandonar a postura conciliadora e partir para o confronto direto, inclusive na opinião pública.

Segundo relatos de fontes próximas ao presidente, Lula teria demonstrado irritação com a decisão do Congresso e avaliado que a derrubada do IOF extrapolou todos os limites. Um dos interlocutores do petista afirmou que 'não se senta à mesa para negociar em posição de desvantagem', indicando que o governo agora exige a reconstrução da correlação de forças antes de retomar qualquer diálogo com Motta ou Alcolumbre.

A tensão aumentou após Motta, na véspera da votação, ter contactado um emissário de Lula para apresentar queixas sobre a comunicação do governo a respeito do aumento na conta de luz — atribuído ao Congresso por derrubar vetos que encareceram a tarifa. A ligação, no entanto, foi encerrada sem qualquer aviso de que o projeto sobre o IOF seria pautado no dia seguinte.

Campanhas com apelo popular e judicialização no horizonte - Diante do impasse, o PT decidiu reagir de forma pública e mobilizar sua base parlamentar para defender propostas com forte apelo social. Entre os temas a serem retomados estão taxar grandes fortunas, a tributação das casas de apostas (“bets”) e a responsabilização do Centrão pela alta na energia elétrica. Todas essas medidas constam da medida provisória enviada pelo governo para compensar a suspensão do aumento do IOF.

Além disso, a legenda cogita judicializar a decisão do Congresso. A avaliação no Planalto é de que a elevação do IOF é prerrogativa exclusiva do Executivo e, portanto, não poderia ser revertida por meio de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL). Para os petistas, aceitar essa derrota sem contestação jurídica abriria precedente para que o Parlamento invadisse competências do governo.

Congresso fala em rompimento - Do lado oposto da Praça dos Três Poderes, a avaliação também é de desgaste. Líderes parlamentares consideram que Motta errou ao pautar a matéria sem diálogo prévio com o Executivo, impondo uma derrota considerada desnecessária e traumática. Eles recordam que uma anulação total de decreto presidencial não ocorria desde o governo Collor, há 37 anos, e que isso aprofunda a ruptura entre os poderes.

Integrantes de partidos com ministérios no governo também avaliam que a crise afeta negativamente o Congresso, especialmente se o Supremo Tribunal Federal for provocado a intervir. Parlamentares ainda têm receio de um novo impasse institucional como o que ocorreu no passado, quando a liberação de emendas parlamentares ficou travada por decisões judiciais.

PT prepara batalha nas redes e no Parlamento - O embate deve se estender ao campo simbólico e comunicacional. O PT quer transformar a pauta do IOF e outras medidas travadas pelo Congresso em bandeiras de mobilização social, reforçando a imagem de que o Legislativo está sabotando o Executivo. A meta é reforçar a legitimidade de Lula, enquanto enfraquece adversários parlamentares em meio à preparação para 2026.

A escalada de tensões marca o início de um novo capítulo na relação entre o Planalto e o Congresso, com o PT disposto a enfrentar, pela primeira vez neste terceiro mandato, uma disputa aberta de poder onde a governabilidade passa a depender também da capacidade de comunicação e mobilização social do governo.