'A floresta também fala por meio da arte', diz indígena em exposição na entrada da Blue Zone

Mostra reúne peças produzidas manualmente por mulheres e crianças da comunidade do extremo sul da Bahia e tem atraído grande interesse de participantes.

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 10:13

'A floresta também fala por meio da arte', diz indígena em exposição na entrada da Blue Zone
'A floresta também fala por meio da arte', diz indígena em exposição na entrada da Blue Zone Crédito: Reprodução/Roma News

Uma exposição indígena tem despertado olhares curiosos na manhã desta segunda-feira (17), na entrada da Blue Zone, onde circulam diariamente milhares de participantes da COP30. Entre artes naturais, colares e sementes cuidadosamente selecionadas, o espaço se transformou em ponto de encontro entre culturas, saberes ancestrais e visitantes de todas as partes do mundo.

Responsável por parte da mostra, Haikuan, representante da tribo Tupã Pataxó, explica que a iniciativa é mais do que uma vitrine: é também uma forma de sustentar a comunidade e reafirmar a presença dos povos originários em um evento que discute futuro, território e clima. “Estou aqui trazendo minha cultura, minha arte e os conhecimentos da floresta. Tudo nasce da natureza e tudo é feito pela nossa gente”, afirma.

A comunidade de Haikuan está localizada no extremo sul da Bahia, entre Porto Seguro e a região de Salvador. Segundo ele, a produção apresentada na COP é inteiramente artesanal e envolve diferentes gerações: as crianças são responsáveis pela seleção das sementes e as mulheres cuidam da criação das peças, que incluem colares, acessórios e itens feitos com pó-brasil e outros elementos naturais. “É uma fonte de renda e também uma forma de manter viva nossa identidade”, explica.

Os grupos chegaram a Belém ainda no início da COP30 e permanecem alojados em uma aldeia montada especialmente para receber representantes de diversas etnias durante o evento. Desde então, o movimento no estande só cresce. Delegações estrangeiras, pesquisadores e curiosos se aproximam para conhecer, fotografar e adquirir as peças, demonstrando interesse pela estética e pela história por trás de cada artefato.

Para os Tupã Pataxó, a participação na conferência não é apenas uma oportunidade comercial, mas também um gesto político. A exposição reflete a relação estreita entre conhecimento ancestral e preservação da floresta, tema central das negociações climáticas que ocorrem ao lado, nos pavilhões da Blue Zone.

Enquanto líderes discutem metas ambientais, a presença silenciosa, porém potente, das peças expostas lembra que qualquer futuro sustentável passa, necessariamente, pelo reconhecimento dos povos que há séculos cuidam do território. “A floresta fala com a gente. E aqui, ela está falando também por meio da nossa arte”, resume Haikuan.