Publicado em 19 de agosto de 2025 às 11:08
A ASSOBIO (Associação de Sociobioeconomia da Amazônia) será uma das organizações paraenses que estarão acompanhando de perto a COP30, que será realizada no mês de novembro, em Belém. Um dos temas que a associação vai debater na conferência é a conservação da floresta e o uso dos recursos naturais de forma racional e sustentável.>
Um dos exemplos concretos dessa conexão entre homem e natureza é a relação de comunidades indígenas com as florestas, que baseia-se no equilíbrio e respeito com os recursos que a floresta produz. Um estudo publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA) em 2022 demonstra que os povos indígenas cumprem um papel essencial na preservação das florestas: o artigo evidencia que os povos originários são responsáveis por um terço da proteção ambiental no Brasil.>
O exemplo do convívio entre indígenas e a natureza pode ser explicado pela visão cosmológica de diversas etnias, que acreditam na interdependência entre os seres da Terra. Por esse motivo, é importante defender as terras e os saberes indígenas por meio de mecanismos que salvaguardam os conhecimentos, práticas e culturas ancestrais. Nesse contexto, a sociobioeconomia é uma aliada indispensável, porque ela é um recurso que reconhece e respeita os contextos socioeconômicos onde é aplicada.>
Por esse motivo, a ASSOBIO tem feito parcerias e promovido ações que protagonizam a participação indígena. Esse compromisso com os saberes tradicionais também será levado para a COP 30. “Esse é o momento de mostrar para o mundo a potência de todo conhecimento indígena que temos aqui na região”, afirma Paulo Reis, presidente da ASSOBIO.>
“A sociobioeconomia amazônica mostra para a gente que é possível gerar desenvolvimento com respeito à floresta e aos povos que vivem nela. É um modelo que valoriza o conhecimento ancestral e aponta caminhos reais para um futuro mais justo e sustentável”, completa.>
Uma das empresas parceiras da ASSOBIO é a Urucuna. Fundada em 2020 visando valorizar a sociobioeconomia, a Urucuna hoje é um mercado online que desenvolve produtos de bem-estar, pesquisas e serviços em parceria com seis comunidades indígenas do Pará, Rondônia e Amazonas.>
“As comunidades tradicionais são responsáveis pela manutenção da floresta viva, então eles têm um modo de vida que mostra que é possível viver com qualidade de vida, sem precisar desmatar a floresta”, diz Ligia Tatto, cofundadora do Urucuna.>
A sociobioeconomia também tem um poder transformador. Carina Cinta Larga mora na reserva Roosevelt, em Rondônia (RO), e é artesã desde a infância, ofício que é passado de geração em geração pelas mulheres da comunidade. Ela conta que, devido ao desequilíbrio climático, a coleta de matérias-primas para a produção foi prejudicada, até o ponto em que materiais usados tradicionalmente na produção artesanal foram extintos da região. Consequentemente, muitas famílias tiveram a renda reduzida, como foi o caso dela.>
É por meio de parcerias, como a que ela fez com o Urucuna, que Carina consegue se manter, assim como promover o reflorestamento na comunidade: “A gente vem trazendo parcerias para dentro do nosso território para fortalecer o trabalho das mulheres, o reflorestamento e a nossa cultura”, ela fala. Carina também destaca que o artesanato desempenha um papel importante na conscientização ambiental da comunidade, por ser uma atividade muito ligada à natureza.>
Esse movimento de fortalecimento coletivo e preservação ambiental está diretamente ligado a uma concepção indígena de economia que valoriza a vida em harmonia com a floresta. As iniciativas como o artesanato e o reflorestamento não apenas geram sustento, mas também mantêm vivos os saberes tradicionais e os vínculos com o território. “A nossa visão como indígena é diferenciada e precisa ser diferenciada”, comenta Chicoepab Suruí, doutor em sociologia e antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e parceiro da Urucuna, ao falar sobre a importância da visão indígena nas práticas econômicas.>
“Economia indígena é viver na floresta, não só como geração de renda, mas como um fortalecimento da cultura, do conhecimento e, ao mesmo tempo, compartilhar com a floresta”, declara o doutor.>
Tudo isso reforça o compromisso da ASSOBIO com a valorização dos conhecimentos tradicionais como pilares fundamentais para o enfrentamento da crise climática e a construção de alternativas sustentáveis para a Amazônia.>
Ao promover o diálogo entre saberes ancestrais e soluções contemporâneas, a associação fortalece uma sociobioeconomia que respeita os territórios, impulsiona o protagonismo indígena e aponta para um modelo de desenvolvimento alinhado com a preservação da vida e da floresta.>
Ações que impulsionam a bioeconomia da Amazônia>
No caminho até a COP30, a ASSOBIO tem liderado uma série de iniciativas estratégicas para fortalecer a sociobioeconomia amazônica. Entre elas, destaca-se a Vending Machine da Bioeconomia, já em operação com cerca de 30 itens produzidos por empreendedores da rede da ASSOBIO, como chocolates, castanhas, cosméticos e acessórios. Até novembro de 2025, as máquinas estarão distribuídas em pontos estratégicos de Belém.>
Outra frente de atuação é a Vitrine ASSOBIO, espaço itinerante de exposição e comercialização dos produtos da sociobioeconomia amazônica dos associados, como molhos de tucupi, granolas de tapioca, gin de jambu, cosméticos naturais e biojoias. A proposta é aproximar o público da diversidade da produção amazônica por meio de experiências sensoriais e presença em eventos estratégicos.>
As ações reforçam o compromisso da ASSOBIO com o desenvolvimento sustentável, a valorização da biodiversidade amazônica e o fortalecimento de uma economia baseada no uso responsável dos recursos naturais e no protagonismo das comunidades locais.>